quinta-feira, março 31, 2005

Alguém se habilita?

Impressionante.

A mente humana tem limites e mesmo assim tem gente que se excede.

Eu mesmo, de vez em quando, brinco, quando o Criador criou o homem limitou a inteligência mas esqueceu-Se de limitar a burrice.

Tinha um parente meu, que dava à frase acima outras palavras sem no entanto mudar o sentido, ele dizia: Os tolos não param de reproduzir-se. Aumentam em quantidade e em qualidade.

Agora mesmo chegou para mim um e-mail, cujo teor transcrevo para que possamos aferir o que anda pelos e-mails e deve dar resultado, pois burla até os antispams mais sofisticados.


E-MAIL LOTTERY to me More options 11:52am (2 hours ago)



"Our Ref: UKNL/255457003/05.

Your Ref:UK-NL/0687/05.

Batch No:WD18/0065/05RN.

Attn: XXXXXXX XXXXXXXX XXXX, Sao Paulo

RE: LOTTERY BONUS/PROMOTIONS PRIZE AWARDS WINNING NOTIFICATION

We are pleased to notify you of the release today as dated of the "UK National Lottery/International Promotions programs held on the 15th day of Janary 2005.

Participants were selected through a computer ballot system drawn from 25,000 names from Europe, America, Asia, Australia, New Zealand, Middle-East, Africa, and North & South America as part of our international promotions program conducted annually to encourage prospective overseas entries. We hope with part of your prize awards, you will take part in our end of year lotto jackpot of £1.3 Billion International Lottery.

The result of our computer draw 773 of this day reveals your names attached to Ticket Number 025-11476886 with serial number 178 drew the lucky number 18 -19 -26-38-15-29-44 which consequently won the lottery prize awards in the 2nd category.

Therefore, you have been approved a lottery jackpot lump sum prize awards winning of £125, 000.00 ( One Hundred and Twenty-Five thousand Pounds Sterling Only) in cash prize credited to file Ref. No: UKNL/255457003/02. This is from the total prize of £13,286, 320.00 (Thirteen Million, Two Hundred and Eighty Six Thousand, Three Hundred and Twenty Pounds Sterling) shared among the Thirty Eight overseas lucky winners in this category as part of our promotional program for this year 2005.

Your prize award has been insured in your names and ready for claim. To begin your claims therefore, you are advised on final notice and as a matter of urgency, to contact our licensed and accredited claim agent for overseas lucky Winners for the processing of your prize awards winning and payment to your designated bank account. Contact the,

Customer Service Unit,

Elot Financial Reconciliation Inc.,

Tel:+ 44-7040102562
Fax:+ 44- 8701312751

Email:
yourfastwin@fastermail.com>

Contact person: MR. NORMAN SMITH.

Due to mixed up in some numbers and names and for the purpose of confidentiality, be advised to keep this award notification as secret from public notice until your claim has been processed and your prize money remitted to your designated bank account as this is part of precautionary measures to avoid double claim or misuse of this program by some social miscreants. Hence, your award winning is confidential as our winners are at liberty to remain completely anonymous until payment is effected to the benefit of the beneficiary. Our staffs are sworn to secrecy, so you will be the only one to know what you've won hence, this notification via this medium (Fax) to avoid interception of official letters.

On a final note, you are advised to begin your claim immediately hence, all prizes awards must be claimed and disbursed within 21days of this notification as elapse of the scheduled "End of Claim" date will authorized funds withholding for redirection as abandoned/ unclaimed without notice.

Note: To enhance the processing of your claim by our accredited claim agent, you are advised to officially introduce yourself to the claim agent and also provide them with your valid means of your personal identification with a copy of this awards notification for references.

CONGRATULATIONS!!!

At your disposal, we remain.

Very Truly Yours,

CHARLES LOUIS McClean (Mr.),

Director.

International Promotions Unit,

UK NATIONAL LOTTERY,

Units 2A & 2B, Olympic Way,

Sefton Business Park, Aintree Liverpool,

L30 1RD, UNITED KINGDOM"


Alguém se habilita? Está em meu nome! Cáspite!

Vale um sorriso ou vale uma oração pelas vítimas?

Nem um nem outro.

Ôpa!... Agora que me dei conta que foi pedido sigilo... Conto com a confidencialidade de vocês. Ninguém passe em frente, isso é um segredo, está bem? Céus...

Jacques

quarta-feira, março 30, 2005

Lidando com as coisas, aliás "nóis" lidando com as coisas...

Coloquei um título nesse artigo que, quase certeza, vai ter de ser mudado antes do fim. O normal do meu processo de criação é deixar a coisa correr e ver aonde vai acabar.

Já me aconteceu de não saber parar de escrever mas dificilmente acontece de me ver parado sobre uma folha branca, ou a tela do computador, sem saber como iniciar o meu discurso.

Óbvio que eu não vou discursar mas gosto de discorrer sobre os assuntos. Engenheiro de formação, quadradinho quando dei meus primeiros passos na profissão, comecei a tomar gosto pela escrita alguns poucos anos depois. No começo quando ia escrever uma carta, três parágrafos e o assunto estava resolvido. Aos poucos aprendi que nem tudo pode ser colocado com a frieza e a precisão de um técnico.

Primeiro porque as pessoas não estão acostumados com a retidão do pensamento analítico. Depois que as pessoas precisam ser introduzidas nos assuntos de maneira gradual. Sem ser prolixo, é necessário cativar o leitor e a partir daí discorrer de maneira agradável. De nada adianta impor ao leitor uma única opção. Provavelmente você vai perder seu leitor antes do final.

Pois é, realmente o título já mudou e eu continuo no assunto. Da mesma maneira que escrever é um assunto complicado, os discursos, aparentemente são mais simples, até por que o texto amarra e o discurso, dependendo da situação, pode ser improvisado.

Há dois anos e três meses, para ficar claro de quem estou falando, escutamos entre atônitos e surpresos, um bombardeio de discursos, improvisados na sua grande maioria, que mostra um político em campanha permanente, um fabricante de gafes e de deslizes que beiram a irracionalidade.

Washington Luís, ex-presidente, dizia, governar é abrir estradas. Também já foi dito: "ou o Brasil acaba com as saúvas ou as saúvas acabam com o Brasil". Estas e outras frases bombásticas infestaram as nossas vidas, ou as de nossos pais. "Plante que o João garante"; "Brasileiros e brasileiras..."; "Trabalhadores do Brasillllll..." e por aí vai...

Repetir as baboseiras e os bordões alheios só irrita mais o nosso raciocínio.

Pois bem, a palavra da vez é "nóis". Será que nós (e não "nóis") merecemos ser bombardeados com tamanha profusão de vocabulário?

Outra mudança de título.

O problema é que somos brindados com uma discurseira que não poderia chamar de mal redigida pois redigida não foi. Isso eu chego quase a garantir.

O clima que cerca os pronunciamentos a que somos submetidos dia após dia, nas mais variadas ocasiões, sob a que título possa se imaginar, as metáforas tão comezinhas e de nível tão "erudito", fazem pressupor que não sobra tempo para governar esse nosso pobre país.

Com efeito, para emitir as pérolas com que somos brindados é necessário se deslocar de ponto a ponto, melhor seria dizer de ponta a ponta de nosso país, que tem tudo para ser grande, afinal temos dimensões continentais, menos (ou "menas"?) pelos grandes problemas, esses sim são imensos, e mais pela grandeza de nosso povo.

Agora, estamos envolvidos na política da famigerada MP 232. Pois bem o governo, "atendendo o clamor popular", patrioticamente, está retirando e votando contra o próprio projeto que este governo, sim, ele próprio, enviou o Congresso. E somos nós os responsáveis pelo festival que está acontecendo no Congresso. São os representantes do povo, eleitos pelo povo e que têm um mandato outorgado pelo povo.

Eu explico, é melhor não explicar. Enquanto "nóis" fala, "nóis" não governa. Enquanto "nóis" não governa, "nóis" não progride.

Só vai explicar que "nóis" não somos nós. O representante que eu elegi está usurpando e exorbitando o mandato para que foi eleito. O "nóis" devia parar de viajar de AirBus e devia começar a governar. "Nóis" governa todos os brasileiros e não só aqueles que o elegeram. "Nóis" se esquece disso, azar nosso.

Enquanto "nóis" finge que governa, os severinos minúsculos fingem que legislam e o povo sofre.

O que "nóis" e severinos se esquecem é que o Brasil é grande, com problemas, com falta de recursos, com fome (não aquela que deveria ter sido zerada e não foi), com empresários que sucumbem à sanha dessas pragas severinas vendo seu esforço de anos e anos de trabalho serem jogados no lixo, com milhares e milhares de novos cidadãos chegando ao mercado de trabalho e tendo de adiar seus sonhos de contruir um Brasil melhor porque os empregos tão prometidos não existem...

Chega. Eu fico tão deprimido e irritado com este estado de coisas que realmente penso que nós, eu e você, no sentido mais amplo, não mereciamos passar pelo que estamos passando. Não foi esse o país que nós gostaríamos de viver.

E eu pergunto: -Tem como não estar pessimista?

Só uma coisa eu posso dizer, para quem ia falar sobre medo de andar de avião, até que eu não me desviei do assunto. Eu não tenho medo, eu estou com medo!

Jacques

segunda-feira, março 28, 2005

Um pouco mais sobre fotos.

Indiscutivelmente, o maior avanço que tivemos neste já batido século 20 foi o tecnológico. Não há como negar, todas as áreas caminharam mas, a tecnologia que brotou e desenvolveu-se naqueles 100 anos foi descomunal.

E, para me restringir ao meu assunto, as fotografias evoluiram muitíssimo. De desajeitados caixotes a minúsculas câmeras, de filmes que eram sais depositados sobre placas de vidro, pouco sensíveis à luz a micro chips que se integraram à maquina fotográfica, quase que dispensando o bom e velho filme, tudo mudou.

Não é esse no entanto o objetivo deste artigo.

Meu objetivo é comentar o que a fotografia mudou nesse nosso mundinho velho de guerra. Quem não se lembra de várias fotos que marcaram nossa história?

Desde que a fotografia chegou ao mundo, pudemos adicionar informação visual aos fatos que anteriormente eram apenas narrados e quando muito, objeto de desenhos ou quadros.

Tudo isso fazia com que a informação circulasse de maneira imprecisa, tendenciosa quase sempre. As fotos vieram a dar uma nova dimensão à informação.

Aqui no Brasil são conhecidas as fotos que nosso último imperador, fã de primeira hora da fotografia, cuja coleção de fotos chegou a nossos dias e pelo que lí, é ou será objeto de exposição, aliás de maneira merecida, pois D. Pedro II era um bom fotógrafo, do ponto de vista técnico e artístico.

Mas, eu dizia, a fotografia mudou o nosso mundo. Infelizmente, ao lado da informação boa, da informação positiva, a fotografia serviu a todas as tendências políticas a todas tendências de pensamento, para disseminar imagens. Essas imagens destinavam-se a propagar causas. Causas que tanto serviam para tentar incensar o lado daqueles que a publicavam tanto para atacar o lado adversário.

Mais de uma vez montaram-se fotografias para tentar enganar populações. Fotografias célebres que marcaram época, foram mais tarde desmascaradas e a realidade dos fatos restabelecidas.

Também estas serão aqui desprezadas por não constituirem-se em reportagem histórica, uma vez que se destinavam a enganar.

De uma maneira geral, as fotos trazem em seu bojo, a informação sem retoque. Todos nós nos acostumamos a ver fotos do vovô e da vovó em nossas casas. Parentes distantes trocaram fotos ao longo desses últimos anos. Por elas podemos reconstituir histórias de nossos antepassados próximos.

Também conhecemos cidades e acidentes geográficos pelos tão celebrados cartões postais, fotografias em sua maioria e que disseminaram as belezas de outras plagas. Já há muitos anos podia-se saber como era esta ou aquela cidade, em vistas que ilustravam êsses cartões.

No que tange a boa parte desses cartões, as regras de composição a que fiz menção em meu último artigo, fizeram com que comprássemos a imagem e a mandássemos aos nossos amigos e parentes.

A guerra, ou melhor, as guerras, foram tantas... E alí estavam os nossos repórteres fotográficos para registrar e mostrar ao mundo a face cruel da guerra.

Quem nunca viu fotos das trincheiras da Primeira Guerra Mundial? E as da barbárie da Segunda? Aquele instantâneo daquela menina correndo nua no Vietnã? Isso é um assunto tão desagradável quanto necessário. Essas fotos constituem-se na documentação viva de um século cheio de crueldades perpetradas pelas mais diferentes facções em conflito.

Existem outros tipos de imagens que nos fizeram sonhar por um mundo melhor, o homem chegando à Lua, a conquista de um pico, o preciso segundo onde o homem bateu um recorde, o instante preciso onde o público aplaudiu o seu ídolo, a foto de nossos filhos, porque não?... Tantas e tantas coisas boas...

A fotografia mudou o século 20. Esperamos que continue mudando os próximos.

E o que falar da fotografia como arte? Certas fotos equivalem-se a telas onde pintores se notabilizaram. Henri Cartier Bresson, Annie Leibovitz, Robert Doisneau são, entre tantos outros, alguns dos artistas que elegeram a fotografia como forma de expressão.

Fotos são imagens que perpetuam aquele instante no qual foram tiradas e que transmitem ao próximo toda a carga de emoção, toda a frieza da informação, todo o calor da comunicação, enfim, tudo aquilo que podemos transmitir pelo sentido da visão.

Isso, somando-se ao texto, constitue-se a base da mudança maior que se deu a partir do último século. Quem sabe a humanidade aprende essa lição e abandona essa faceta cruel e constroi um mundo melhor para nossos descendentes.

Oxalá!

Jacques

domingo, março 27, 2005

Fotografias sem máquina fotográfica?

Hoje, lembrei-me de alguns ensinamentos de um ex-professor e amigo. Fazem muitos anos, nem sei por onde anda o Godoy.

Já passei muitas vêzes na frente da onde era seu studio mas não acredito que por alí ele ainda esteja.

Pois é, começando do começo.

Comprei uma máquina fotográfica novinha (há mais de 30 anos) e parti para um curso de fotografia.

Lá estava o Godoy à frente de uma classe ávida de aprender. Depois de muitas aulas, o bom professor nos convenceu.

- Apertar o botão qualquer um aperta.

- Como? (perguntamos)

- É facil!

O que escrevo abaixo é a explicação.

Primeiro vêm as regras de composição. Você, para tirar uma fotografia, tem que compor mentalmente um quadro. Primeiro plano, segundo plano, plano de fundo. Onde vai ser o foco da sua foto. O que você quer transmitir, quem são os fotografados? Como dividir a sua foto? É uma pessoa, um grupo?

Tudo isso tem que ser pensado. Se é uma pessoa, ela fica no centro? Se são mais de uma, como chamar a atenção para aquela que nos interessa.

Não vou ficar aqui repetindo tudo que escutamos mas o que acima escrevi mostra a complexidade das decisões. Existe uma boa diferença entre um "instantâneo" de amador e o de um profissional.

Nunca é demais repetir que essa aulas foram no início da década de 70.

Muito bem, você já definiu o que vai fotografar, segundo problema, que equipamento usar?

Máquina, filme, objetiva, abertura, velocidade, iluminação? Se for um amador a resposta pode levar a uma única combinação, se for um amador avançado talvez a resposta não seja tão simples. Muito bem, resolvemos todas essas questões, passemos ao próximo passo.

Podemos chamar um amigo nosso e dizer:

- Fulano, aperte o botão!

(Clique)

- Quem bateu a foto? Você ou seu amigo?

É, a resposta é muito simples, você! Apertar o botão é o de menos... Depois de ter idealizado todo o processo criativo, o ato de apertar o botão é irrelevante.

Assim funciona a minha máquina fotográfica, eu ando por toda a cidade, por todos os meus caminhos, em todas as áreas, com os olhos abertos e a mente idem. Tiro todas as fotos que mentalizo. Algumas eu realmente aperto o botão, poucas, outras, mais para filme do que para fotos, duram para além de uma fração de segundo, duram minutos, duram horas...

Das que eu realmente tiro fotografias algumas ficam como eu quero mas a maioria merece uma correção, uma releitura. A técnica é dificil de ser dominada. Outras, acontece, ficam melhores do que eu previ. Sorte! Quanto mais eu treino, mais sorte eu tenho!

Quantas fotos eu já tirei e não tenho registro, a maioria. Quantas fotos eu já tirei e não eram nada daquilo que eu previ? Outras tantas!

O importante é andar por aí com olhos de fotógrafo e por extensão cineasta... Cada dia eu idealizo e "tiro" dezenas de fotos.

E o equipamento? Tanto faz! É possível tirar fotos com equipamentos tão simples quanto um furinho numa caixa de sapatos com um filme colocado na parede oposta. Para tirar fotografia nesta supermáquina basta colocar o filme num quarto escuro, vedar bem a caixa e o furinho, tão pequeno quanto um furo de alfinete, orientar a máquina para a direção da nossa foto e abrir e fechar o furinho. Ao revelar-se o filme, provávelmente, com o treino, conseguiremos resultados bem razoáveis.

Podemos sofisticar nossa máquina "câmara escura" o quanto quisermos (e pudermos). Quanto mais sofisticado mais controle teremos e em contrapartida melhores fotógrafos teremos de ser.

Tudo isso para dizer que nossas vidas estão cheias de fotografias, podem ser lindas, românticas, cruéis, retratos de violência que presenciamos ou que vivenciamos, de amor, de ira, de choro, de agradecimento, de nossas famílias, de amigos, de locais que gostamos, de locais que gostaríamos de conhecer, não importa.

Algumas das mais lindas fotografias que conhecemos estão presentes ao nosso lado, em nossos lares, em casa de amigos, de colegas, de ídolos, no trabalho, nos teatros, nos parques, em estádios, num pôr de sol (quem é que nunca tirou essa foto?), numa viagem, no nosso trabalho, na lembrança de alguém que já nos deixou, de alguém que nunca esquecemos...

Ponha a sua imaginação para funcionar e saia por aí tirando fotos. É barato é só faz bem. Você vai redescobrir a mâo da criança unida à de sua mãe, o casal de namorados, a flor, a chuva, o raio, a música, odores (sim, também valem fotos!), a voz de alguém muito querido...

Tenho certeza que você vai redescobrir aquela foto da sua infância, da sua juventide, de alguém que já foi importante na sua vida, de alguém que é muito caro a você, a foto que você não tirou, esqueceu e que agora voltou à sua mente. Todas essas fotos são as fotos da sua vida... Como a foto que eu tirei há mais de 30 anos, lá do Godoy.

Existem outras fotos não tão bonitas? Muito bem, coloque-as todas juntas e guarde-as num local bem guardadas, pode ser que de tempos em tempos você tenha que rever suas fotos e reclassificá-las...

Ah! Já ia me esquecendo, algumas fotos ficam melhores em branco e preto outras em filmes coloridos.


Jacques


PS: Não se esqueçam de experimentar, a prática não é substituta da experiência.

PS2: "Quanto mais eu treino, mais sorte eu tenho!" É uma frase do atual número dois do mundo, Tiger Woods, grande jogador de golfe, talvez o maior talento dos últimos tempos e certamente o mais talentoso de sua geração.

PS3: Adicionado em 1° de Abril de 2005. Alertado por meu professor de golfe, o Dino, coloco aqui mais uma informação, Gary Player, também profissional do golfe, nascido em 1935, pronunciou antes a frase, a mesma frase: "The harder you practice the luckier you get." Deixo aqui a correção da informação acima. A verdade é que muitos juram que foi Tiger Woods quem a disse, ninguém atribui a Player, ao menos nas fontes que pesquisei. Minhas desculpas e minha humildade no tange a minha ignorancia.

quinta-feira, março 24, 2005

Véspera de feriado, artigo dobrado

Gosto de vasculhar, no Orkut, os perfís de seus membros. É interessante ver como cada um de nós se apresenta. A maioria é irrelevante, alguns são inexistentes, poucos tratam do assunto com criatividade, alguns são agressivos. Já vi um que acha que havia escrito que morava com parentes, mas decretou: "living with parents"... É, o inglês pode ser uma língua difícil. A mente das pessoas também...

Ontem, visitando essas confidências me deparei com um que se destacou. É um poema. Será que posso cometer a inconfidência de publicá-lo aqui?

Se alguém achar que me excedi que me perdoe. Se sua dona me pedir, eu tiro, ou se quiser, eu identifico. Só acho que não posso identificar sem o conhecimento dela.

Vale a pena!

"Nasci na Holanda mas meu coração é do Rio de Janeiro. Amo Fernando Pessoa. Tenho um gato amarelo. Adoro dormir. Minha memória falha com datas. Gosto muito de música. Moro em Buenos Aires mas quero voltar logo para o Brasil. Como muitas maçãs por dia. Meu suco favorito é de melancia. Coleciono fotografias antigas. Adoro meus amigos. Torço para o Flamengo. Não gosto de gente ranzinza. Adoro piadas. Acho lindo o sorriso do Osmar Prado. Não tomo café. Adoro chá Twinings. Adoro passar camisas. Odeio lavar louça. Amo Jeremy Irons. Não gosto de dias nublados. Acho a Marguerite Duras o máximo. Sou muito pontual. Adoro viajar de carro. Aprendi a gostar de avião. Gosto muito de ovelhas. Não suporto cigarro. Adoro nadar. Sou apaixonada por mãos bonitas. Não sou superticiosa. Leio bastante. Amo Nelson Freire. Adoro as saladas do “Gula Gula”. Aos domingos compro frutas na feira. Nunca fiquei de porre. Amo Chagall. Sou fascinada pelas estrelas. Já quis ser violinista, atriz e espiã. Adoro dar risada. Choro ouvindo Michael Nyman. Gosto de viajar. Não suporto alemão. Detesto caqui. Adoro cozinhar. Amo perfumes. Dizem que sou irônica. Quero aprender a mergulhar. Acho linda a voz da Demi Moore. Minha letra é feia. Rio muito. Wild is the wind é a minha música favorita. Preciso ficar só. Adoro fotos. Não gosto de dirigir. Não vivo sem ar condicionado. Odeio ir ao supermercado. Sou apaixonada por jardins. Nunca gostei de bonecas. Adoro desenho animado. Vivo com Trident freshmint no bolso. Não gosto de relógios. Jamais conseguiria viver sem melancias. Adoro coisas antigas. Tenho medo de elevador. Um dia vou ter uma Tiffany. Dou boa noite para o William Bonner. Amo Beniamino Gigli. Chorei lendo “por um fio” de Drauzio Varella. Adoro as sobrancelhas do Jack Nicholson. O resto, vou vivendo... "

“Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver,acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens."

S.W.

Não é bonitinho?

Me fez bem ler isso! Adorei "um dia vou ter uma Tiffany"! E por que não? Acho que ela merece!

Jacques

Sabedoria de internet e a aplicação prática

Uma historinha:

Conta-se que numa pequena cidade do interior um grupo de pessoas se divertia com o idiota da aldeia.

Um pobre coitado de pouca inteligência, que vivia de pequenos biscates e esmolas. Diariamente eles chamavam o bobo ao bar onde se reuniam e ofereciam a ele a escolha entre duas moedas - uma grande de 400 réis e outra menor, de dois mil réis. Ele sempre escolhia a maior e menos valiosa, o que era motivo de risos para todos.

Certo dia, um que não era membro do grupo mas sempre via aquela situação, chamou-o e lhe perguntou se ainda não havia percebido que a moeda maior valia menos.

- Eu sei - respondeu o não tão tolo assim - ela vale cinco vezes menos, mas no dia que eu escolher a outra, a brincadeira acaba e não vou mais ganhar minha moeda.

Pode-se tirar várias conclusões dessa pequena narrativa:
1) A primeira: quem parece idiota, nem sempre é.
2) Dito em forma de pergunta: Quais eram os verdadeiros tolos da história?
3) Outra: se você for ganancioso, acaba estragando sua fonte de renda.
4) Mas a conclusão mais interessante, a meu ver, é a percepção de que podemos estar bem, mesmo quando os outros não têm uma boa opinião a nosso respeito.
5) Portanto, o que importa não é o que pensam de nós, mas o que realmente somos.
"O maior prazer de um homem inteligente é bancar o idiota diante de um idiota que banca o inteligente."

Não costumo reproduzir aquelas historinhas que todos recebemos pela internet pois acho que recebemos uma tal quantidade de bobagens que pouco resta de aproveitável. São longos e longos e-mail que insistem em chegar e que acabam se tornando banais, repetitivos, irritantes até.

Êsse, ao que parece, foi transcrito de algum livro antigo, a moeda é bem velha. A história também, mas encerra uma lição que se aplica à nossa realidade.

Hoje, no entanto, apesar que sei que vou receber a mesma dentro de alguns dias, que por sua vez repetir-se-á mais uma meia dúzia de vêzes nos próximos meses, abri uma exceção. Isso só para terminar, momentâneamente, com minha frustração sobre os políticos.

"Quo usque tandem, Catilina, abutere patientia nostra?"

"Até quando, Catilina, vais abusar da nossa paciência?"

Senhores políticos, não subestimem a capacidade do povo brasileiro. Enquanto passamos por néscios, até porque a eleição ainda está longe, nossa capacidade de raciocínio não está comprometida. Mais cedo do que vocês pensam, o povo saberá dar a sua resposta.

Jacques

quarta-feira, março 23, 2005

A respeito da Ética

Continuando o raciocínio do meu artigo anterior, tenho a impressão que a maioria de nossos políticos tem uma visão muito pessoal a respeito de suas funções.

Desde menino, quando escuto a Protofonia d'O Guarani, por achar a Hora do Brasil uma bobagem que herdamos da época do Estado Novo o meu reflexo é um só, ou desligo o rádio ou mudo de estação para aquelas que conseguiram de algum modo de livrar desse entulho getulista ou ainda passo para um CD. Trata-se de politicagem barata, verdadeira tribuna dos incompetentes, que aliás vetaram a própria extinção do programa.

No entanto sempre tenho a curiosidade de saber como funciona e o que está se passando no interior de nossas Casas Legislativas. Como complemento, também gosto de saber o que se passa nos Tribunais de nossa nação. Sobre estes falarei em outra ocasião.

Assim é que de tempos em tempos dou uma parada nas transmissões e retransmissões das emissoras de TV e fico escutando. Com o passar dos anos, a impetuosidade da juventude deu lugar a uma maturidade que me trouxe a paciência e o dom de tentar entender o que os outros pensam. E meu raciocínio e a capacidade de concentração também melhoraram.

Não há de se negar, no caso de nossos nobres causídicos, que a maior parte do que escuto é destinada ao "grande arquivo redondo", repositório final da soma de nulidades que é a fauna presente no dia a dia das causas diminutas a que estamos condenados a escutar. O cultivo de vaidades, o panegírico das picuínhas e por aí vai. Não adianta, dia vai, dia vem e o discurso vazio prospera como erva daninha num pasto mal cuidado.

Até aí, nada de mais. Apesar de serem os representantes de um povo, são oriundos desse mesmo povo e portanto têm representatividade.

Quando ontem disse que democracia pressupõe que "não é o regime onde todos fazem o que querem, a democracia é um regime onde todos pensam e têm convicções próprias mas todos olham para o mesmo objetivo", acho que é aí começa emergir o cerne do problema.

Não sou só eu que vejo a dança de cadeiras que, ao sabor de interêsses inconfessáveis ou tão secretos que fogem ao cidadão comum, faz com que o nosso representante esteja hoje a serviço de um partido e amanhã quem sabe onde estará.

Repisar o óbvio é inútil. Quantas vêzes, antes mesmo de assumir um mandato, o seu, o meu, o nosso representante já trocou de partido? Já votei em candidatos que mudaram de lado com a mesma displicência que trocam de camisa. E me arrependi muitas vêzes de ter dado o meu voto para êste ou aquêle candidato. E é lógico que não sou o único.

Quantas vêzes mudam seu voto, da água para o vinho, ao sabor dos conchavos e das oportunidades que se sucedem em rítmo alucinante? Quantas vêzes obstruem votações importantíssimas por não serem de seus inconfessáveis interesses? Quantas vêzes menosprezam assuntos importantes em nome de querelas intestinas? Quantas vezes mudam seus votos sem se preocuparem com os aspectos mais importantes e detendo-se em minúcias e questiúnculas absolutamente inoportunas? Quantos honram seus mandatos com dignidade? Quantos respeitam as diferenças alheias e fazem o que é bom para a nação, independente de um "ego" inchado por vaidades sobrepondo o que é importante do que é fútil? Garanto que nunca mudaram de time de futebol, afinal futebol é assunto sério...

Não sou um entendido em política, também não entendo muito de filosofia. Aliás, existem muito mais coisas que não entendo do que aquelas que sei pouco. Portanto, às vêzes, posso misturar conceitos ou mal precisar determinadas definições.

Mas tenho que assumir minhas limitações e partir para definir ou entender, ainda que parcialmente, determinados conceitos. Portanto se a sua definição de Ética divergir um pouco da minha, dê o devido desconto e tente entender o sentido do que pretendo dizer.

A meu ver, o que falta aos nossos representantes, eleitos por nós e pagos por todos nós é Ética.

Ética para tomar decisões adequadas, ética para se comportar como representantes que são de um povo sofrido e pobre, ética para saber o rígido limite que há entre o que é certo e o que é errado, ética para saber até onde vão convicções pessoais, até onde é filosofia do partido, até onde é lícito avançar sem que a lei e a dignidade de seus atos prejudiquem a nação.

Eu entendo que um ou outro parlamentar possa entrar em conflito pessoal com partidos, com idéias, com pessoas, enfim, faz parte da dialética do cargo, o que eu não entendo é porque o que é exceção passa a ter o valor de regra. Nesse grande painel de opiniões estão lado a lado os competentes e os incompetentes, os que estudaram e os que mesmo não tendo estudado tiveram um aprendizado não ortodoxo e são autodidatas, estes e aqueles, capazes e incapazes. Será que no recesso de seus gabinetes esses cidadãos não refletem um pouquinho que seja a respeito das conseqüencias de seus atos? Será que não são brasileiros?

Será que pelo fato de se vestirem de deputados e senadores a Ética muda?

Ontem quando disse que o tempo não volta essa foi a questão que coloquei. Individualmente até acredito nas boas intenções da maioria desses cidadãos. O que me assusta é quando se reunem em bandos. O que será que acontece quando esses luminares que nos representam se reunem no plenário para legislar? E o que se passa naqueles corredores?

Ou o sistema está todo errado ou a Ética é um artigo em falta. Eu opto pelo segundo argumento.

Jacques

terça-feira, março 22, 2005

O que fazer enquanto o tempo passa....

Hoje, não muito cedo, tomei conhecimento da reforma (?) do ministério do Lula.

Saibam todos quantos estas linhas lerem que tenho as minhas convicções políticas, mas que normalmente me defino e me considero apolítico. Isto por vários motivos, o principal é que gosto muito do Brasil e tenho a nítida impressão que esse bando de políticos gosta mesmo é do "puder". Acho que os políticos não gostam de nosso país.

Não cabe aqui discutir política, até por que acho que a grande maioria, salvo as exceções de praxe, quer mesmo é se locupletar à custa da nossa endividada nação.

O que nós precisamos fazer, é acaciano, é cobrar nossos políticos uma seriedade no cumprimento de seus mandatos.

Tenho lido os editoriais dos jornais e revistas, tenho escutado a vários canais de televisão, assisti um seminário na semana passada com um ex-ministro da Fazenda e com mais de um ex-diretor do Banco Central e todos pisam e repisam a mesma tecla.

O Brasil vai bem obrigado! Ótimo! A exemplo de um avião em vôo, que não cai porque tem instrumentos a bordo que garantem a segurança do vôo, estamos em velocidade de cruzeiro, na rota, com tudo funcionando às mil maravilhas. Quase tudo perfeito...

Aí é que começam os problemas. Esse avião, que é o nosso país, precisa de manutenção. Precisa de combustível, precisa de cuidado. E o que fazem os nossos políticos "latu sensu"? Embriagados pelo "puder", embriagados pelos fisiologismos, morando numa Disneylândia, ganhando por mês o que milhões não ganham por ano, brincam com os delicados comandos de nosso hipotético avião.

Resultado, ninguém está providenciando nenhuma melhora nesse nosso sofrido país. Ninguém está interessado em melhorar absolutamente nada, ninguém olha que país vamos deixar a nossos descendentes.

Eles se esquecem que o nosso país é grande, muito grande mesmo. Eles se esquecem que o brasileiro é muito bom, muito bom mesmo. Eles se esquecem que foram guindados a governantes, deputados, senadores e outros cargos públicos e passam a jogar um jogo que é muito perigoso. É o jogo do "puder". E o "puder" embriaga.

Eles se esquecem que um dia o povo vai acordar e de alguma maneira vai dar um basta nesta gastança, nessa inépcia, nessa ignorância e nessa idiotice do jogo do "puder".

Aqui e ali se percebe uma minoria que gostaria de virar o jogo. Acontece que esta minoria é o que é, minoria. Poucos se mantém com suas opiniões e tentam fazer algo de útil. E quando tentam, normalmente fracassam. O mesmo se aplica a empresários. Quem em sã consciência vai arriscar o seu rico dinheirinho se o governo não dá a mínima sinalização de que vivemos num regime estável e onde o lucro, que é a justa remuneração do risco, não será recolhido a título de imposto?

Ah, ontem aqui não havia um imposto mas agora isso vai passar a ser taxado... Quem nunca ouviu essa conversa? E com isso mais alguns apaniguados serão contratados (e às vezes sem nenhum concurso público, quem já não viu esse filme?).

Aqui, quando alguém tenta algo de novo, algo de bom, acorre o resto da manada para torpedear essas iniciativas.

E aí, o que acontece? Dia a dia, hora após hora, perde-se tempo. A água que correu embaixo da ponte, a gasolina que se gastou no congestionamento, o aluno que não tem classes para freqüentar, o doente que não foi atendido, o emprego que não se criou, a estrada que não se construiu, a máquina inchada e que mama nas tetas do "puder" gira em falso e nós vamos ficando para trás.

E a tudo isso estamos assistindo e não estamos fazendo nada. Em termos, aqui e ali se vê um ou outro gato pingado estrilando contra essa inércia monstro. Aqui e ali vemos um abnegado que trata de cumprir sua obrigação. Pena que são poucos. Muito poucos.

Está na hora de começarmos a nos mexer. E não basta começar e andar no mesmo passo de nossos vizinhos mais desenvolvidos. Nós temos uma defasagem que precisamos diminuir. Se quisermos chegar junto com os outros aviões, devemos acelerar o que pudermos para tentar minimizar nossas diferenças. Por que sermos diferentes deles? Se eles conseguiram estar num patamar diferenciado é porque trabalharam duro, muito duro!

Está na hora de abandonarmos esses valores fisiológicos, essa grande vontade que nossos políticos têm de barganhar o dia a dia para darmos um salto de qualidade. Essa política de botequim, de mesquinharia, de futriquinha tem que acabar!

Pensar grande! Será que é tão difícil assim? Só quem pensou grande realizou coisas grandes... E não somos diferentes de outros povos. Temos que criar riquezas para gerar mais riquezas. Temos que investir em educação para termos uma elite cultural que pegue o nosso bonde e que leve esse nosso Brasil ao nível que temos competência para chegar.

Não adianta dizer que somos um estado democrático, a democracia não é o regime onde todos fazem o que querem, a democracia é um regime onde todos pensam e têm convicções próprias mas todos olham para o mesmo objetivo.

Chega de políticos nanicos! Chega de políticos aleijados! Chega de políticos embriagados pelo "puder". Chega dessa política que coloca as vantagens pessoais acima do dever de cidadão.

Nossa paciência tem limites e quanto mais cedo esses deformados que foram eleitos para nos representar, e o fazem muito mal, souberem que estamos fartos da sua incapacidade, mais cedo poderemos retomar o caminho do progresso.

Mais, que há muito, muito tempo, esses cegos de espírito e de caráter, deveriam ter voltado para suas cidades de origem e arrumar empreguinho honesto, no nível de sua competência, para saber o que é ganhar um dinheirinho suado e contado. Caso contrário, que vão puxar carroça... Pelo menos um pouco de feno e água vão receber.

Quanto mais cedo isso acontecer, mais cedo poderemos retomar nosso processo de desenvolvimento.

Jacques

domingo, março 20, 2005

Por que tenho mais de uma versão de CDs ou DVDs de algumas óperas e concertos - Parte 2

Dando por terminados a parte de definições, introdução e mesmo sem ter esgotado nem longe as premissas, vamos ao que interessa.

O que diferencia uma gravação da outra?

Num primeiro momento, vamos nos abster dos DVDs, ou seja, da imagem e vamos nos concentrar apenas na informação sonora.

Para não lidarmos com diferentes programas, ou seja, um concerto de um autor seguida de uma peça de outro autor, vamos nos limitar a CDs que têm um mesmo programa.

Um bom exemplo será as Nove Sinfonias de Beethoven. Hoje, a maioria consiste em cinco CDs onde se distribuem as nove sinfonias.

Uma curiosidade, o CD de 74 minutos, foi concebida com esse tamanho, pois é a medida adequada para que nele caiba a Nona Sinfonia de Beethoven. Um dos inventores do CD deu um depoimento nesse sentido. E isso faz sentido, uma vez que as peças clássicas levam consideravelmente mais tempo do que as peças populares. Impossível precisar um tamanho médio, mas os CDs têm pouco mais de uma hora de conteúdo musical.

Então, porque tenho mais de uma gravação da mesma peça? Cada regente faz uma leitura diferente de cada partitura. Já me surpreendi escutando melodias que não percebi em outras gravações.

Cada orquestra soa diferente. Cada local de gravação também tem suas peculiaridades. No caso de música clássica, normalmente, o que se procura é não interferir na sonoridade de cada orquestra. Cada maestro procura imprimir a sua marca na gravação, alterando sutilmente uma passagem de violinos aqui, um timbre de trompas ali, a própria velocidade com que a música é tocada.

Karajan gravou as Nove de Beethoven, duas vezes à frente da Berlinner Philharmonia Orchestra. A segunda toma consideravelmente menos tempo do que a primeira gravação. À parte da diferença de tecnologia são duas leituras diferentes, em épocas diferentes, por um mesmo maestro, à frente de uma mesma orquestra, separada por uma geração inteira de equipamentos de gravação. Existem críticos severos da segunda versão. Quanto a mim respeito as duas e sigo escutando ambas.

Continuamos com as mesmas Sinfonias. A minha preferida é a gravada por John Eliot Gardiner à frente da Orchestre Révolutionnaire et Romantique. O nome é curioso, o que seria considerado uma orquestra revolucionária e romântica? Nada a ver com o nome em si, Gardiner se utiliza de instrumentos de época e partituras originais ou cópias destas, o quanto for possível chegar perto das originais.

E o que são instrumentos de época?

Óbvio que a parte mais fácil seria utilizar-se de instrumentos originais. Só que estes são instrumentos caríssimos, em número reduzidíssimo e que estão nas mãos de bem poucos. Há inclusive diversos instrumentos que pertencem a instituições que eventualmente os emprestam a um virtuose. E os que foram adquiridos por artistas, são peças únicas e que não estão disponíveis para formar uma orquestra. Instrumentos de sopro, estes não resistiram ao tempo, por suas características, eles se deterioraram. Cordas sim resistiram ao tempo, mas são peças caríssimas, notadamente o violino Stradivarius, nome de seu "luthier", é famoso pelo som que até hoje nos encanta e que não existe rival mesmos nos dias de alta tecnologia que vivemos.

Então, uma orquestra com instrumentos de época é uma orquestra que se utiliza de cópias de instrumentos tal como eram fabricados na época da composição das peças executadas. Eventuais modificações que foram incorporadas com o passar dos anos e que tornaram a sonoridade dos instrumentos mais brilhante, mais vigorosa ou com mais recursos técnicos, caso dos metais, por exemplo, são ignoradas no sentido de se obter um som mais próximo do original.

Então, uma orquestra como a de Gardiner, soa bem diferente de uma orquestra como a Berlinner Philharmonia Orchestra. Essa, por curiosidade, conta com instrumentos feitos especialmente para ela, apenas para mostrar o grau de sofisticação que pode chegar numa execução feita por essa excelente orquestra.

No entanto, apesar de todo o escrito até aqui, encontrei particularidades únicas numa velha gravação que possuo com o regente Wilhelm Furtwangler, onde encontrei novas melodias e novas dimensões nas duas únicas Sinfonias que possuo. Verdade é que se trata de uma gravação rara e que me emociona quando a escuto. Preciso pesquisar e ver se acho uma gravação integral das Sinfonias com este maestro. Infelizmente o meu apetite por ouvir mais e mais, limita o meu poder de ter muitas gravações de um trabalho tão extenso quanto este.

Bom, chegamos às óperas.

Tudo o que foi escrito acima se aplica às óperas, portanto poupo a vocês e a mim de repetir detalhes parecidos. Acontece que as óperas, com o advento das fitas VHS e posteriormente dos DVDs, trazem uma nova dimensão à música. A imagem.

Aqui cabe mais um adendo. A ópera é além do canto, uma arte que se une ao teatro, a representação e a música. Portanto é importante o aspecto visual. Aqui vai apenas uma palhinha para temperar o nosso cardápio.

Aqui entra em cena a encenação da ópera. Como distribuir os personagens? Como vestir os personagens? Como posicioná-los no palco?

Existem montagens onde o figurino é levado para uma época diferente da original. É possível e absolutamente correto, levar uma La Bohème de Puccini com figurino e cenários atuais, por exemplo. Existem filmes, gravados no exterior, isto é, fora do teatro, onde diretores de cinema filmam uma ópera no local do acontecimento, como, por exemplo, a Madame Butterfly, filmada por Frédéric Mitterrand, filmada no Japão.

Os exemplos seriam infindáveis e, portanto vamos nos ater ao que acima foi dito. A interpretação é tão importante que às vezes fica mais importante do que a ópera em si. A Tosca de Puccini, interpretada por Maria Callas, na cena onde Tosca mata Scarpia, ficou imortalizada pela atuação de Callas. São doze minutos de música, não se ouve uma voz e Callas interpreta esses doze minutos de uma maneira tão forte e tão categórica que influencia a maioria dos sopranos que a seguem. Quase sempre esta cena é interpretada com a coreografia, se é que assim podemos chamar essa impressionante interpretação, com os mesmos passos de Callas, os mesmos gestos, a mesma carga emocional.

Daí a importância de se analisar cada interpretação e degustar cada versão como se fosse única. E na ópera é assim que se passa. Cada interpretação é única. O aspecto físico, a idade e os dons de interpretação de cada cantor determinam e marcam diferentemente cada gravação que ouvimos e vemos.

Cada versão que somamos à nossa discoteca ou videoteca é uma viagem aos nossos sentimentos. É aí que nos sentimos o quanto somos pequenos perante esses gênios, compositores, músicos, regentes, cantores...

Montagens como a de Turandot de Puccini feita na Cidade Proibida de Beijin (Pequim) são acontecimentos tão raros e tão maravilhosos que nos é impossível descrever a sua beleza. E o DVD é filmado sobre uma apresentação ao vivo do evento. Não conheço nada que se iguale a essa montagem, apesar de ainda não ter visto a última que comprei, com o final de Berio esta vez, ao invés do tradicional final de Alfano (vide post abaixo). Poderei comparar o final de uma e de outra versão, mas terei sempre as duas à mão para reviver Turandot e Liù, a quem penso particularmente que Puccini preferia como heroína.

Aqui e ali andei citando a solta Puccini. Não é por acaso. Acho que ele é reconhecidamente o autor das óperas mais populares que conhecemos. Talvez por isso me prendi a ele e talvez por causa dele me apaixonei pelas óperas. A primeira que vi, não tinha mais do que dez ou doze anos, pelas mãos de meu pai, no Teatro Municipal de São Paulo, foi Madama Butterfly que me fisgou pela música e pela dramaticidade de seu final.

Comecei pelo autor mais popular, mas segui ouvindo, assistindo quando possível e formando uma discoteca de que muito me orgulho. Aos poucos fui tomando gosto pela coisa e passei a estudar e me emocionar com outros nomes da ópera, notadamente, Verdi, Rossini, Donizetti, Mozart, Giordano, R Strauss, Wagner e outros tantos nomes importantes que não os cito para não aborrecer o leitor destas linhas.

O importante é ouvir, apreciar, estudar e aos poucos, baseados em seu gosto pessoal, formar uma discoteca e uma videoteca que será um porto de chegada, um porto de abrigo, um porto aberto à imaginação e ao sonho. uma viagem que o levará ao centro do universo e ao mesmo tempo ao centro de si mesmo, por paradoxal que seja a afirmação.

Jacques

Por que tenho mais de uma versão de CDs ou DVDs de algumas óperas e concertos - Parte 1

Apenas como introdução, já tinha acabado de escrever todo o artigo e na hora de salvar e de publicar, perdi todo o meu rico trabalhinho... Moral da história, salvar o trabalho de vez em quanto faz bem para a saúde.

Do que me lembro, a única crítica é que o texto estava muito sério. Vou tentar corrigir essa parte.

Finda a lenga-lenga, comecemos de novo...

Mais de uma pessoa que conhece o monte de CDs e DVDs que eu venho acumulando já algum tempo notam que existem duas ou mesmo três versões de uma mesma peça. A pergunta é sempre a mesma, por que?

A resposta curta, porque que eu gosto!

A realidade, a meu ver é um pouco mais complexa. Comecemos pela música clássica.

Primeira dúvida, o que vem a ser música clássica? Uma boa pergunta. Livros e livros já foram escritos sobre o assunto.

Mais fácil seria definir o que diferencia a música dita clássica daquilo que se convencionou a chamar de música popular. Já isto é uma longa discussão. Não vamos entrar aqui em altas teorias, vamos ser práticos.

Começando pela popular, normalmente é uma música curta, de melodia fácil, associada a um ritmo, normalmente está associada a uma letra e que, sendo de fácil assimilação, é facilmente memorizada, pode vir a ser dançada eventualmente. Também é verdade que, muitas e muitas dessas músicas, caem no esquecimento facilmente, o que é normal num processo que leva ao consumo rápido e imediato, até serem substituídas por nova leva e assim sucessivamente. É assim com a maioria da música atual.

Sem querer generalizar, grande parte do que é consumida como música popular, consta de 20 a 30 compassos, repetidos duas a três vezes, uma letra que varia enormemente no quesito qualidade e que sobrevivem ao tempo ou não.

Grandes compositores fazem música popular de alta qualidade. Muitos letristas são poetas de mão cheia. Infelizmente, no entanto, a maior parte é descartável. As boas sobrevivem a essas descartadas, a estas se dizem que se tornaram clássicos.

Apesar disso, os clássicos não são exatamente os que se convenciona chamar de música clássica. Muito das músicas ditas clássicas se perderam nos tempos por não se encaixarem nos requisitos que fazem com que músicas atravessem os tempos.

Sem querer esgotar o assunto, a música clássica, normalmente, obedece a uma série de regras que as torna um pouco diferentes das que normalmente são ouvidas e consumidas nas rádios ou mesmo nas gravações atuais.

Era bem diferente o ambiente de décadas e séculos atrás. Não havia luz elétrica, não havia o rádio, o ritmo de vida era bem diferente. Havia uma boa parte da população que por falta de estudo ou por falta de meios para se manter nem podia almejar a ouvir música. A única fonte de diversão estava em encontros familiares, em encenações de grupos de artistas, menestréis, grupos de dança e canto em locais abertos como praças, tabernas e arenas, isso quando se dispunham a freqüentar estes locais. O que hoje sobrou desse tipo de diversão é bem pouco representativo. Um processo que aparentemente foi diferente desse quadro aqui apresentado foi o tipo de letras que foi escrito e guardado em alguns mosteiros (que eram os poucos que sabiam ler e escrever) e que vieram a nosso conhecimento quase que por acaso, uma vez que pouco valor se dava a este tipo de arte. Apesar de haver algumas peças escritas, grande parte era passada de pessoa a pessoas e muitas não resistiram ao tempo. Quanto à música que acompanhavam essas canções, pouca coisa se sabe. Não havia um processo uniformizado para a escrita da música. O Canto Gregoriano é um exemplo, apenas a letra era conservada, a música era uma tradição oral.

Posteriormente, de outro lado havia um grupo de pessoas, reconheçamos, a elite, que estudava, que sabia ler e escrever, que tinha acesso ao estudo da música, que se reunia regularmente para ouvir e interpretar música. Isso data de uma época mais próxima, a notação de música já tinha andado uma longa estrada e já havia um grupo de artesãos que se dedicava à confecção de instrumentos.

Ao longo do tempo, vários desses músicos, com a elaboração de seus professores, criou uma escola que gerou música de uma qualidade diferenciada. A igreja de um lado, com suas missas e encomendas a vários compositores, a aristocracia, de outro, com o seu patrocínio a esses e outros compositores, geraram encomendas de peças para audição de grupos ou ainda execução de peças em seus domicílios e posteriormente, com a evolução a que todo esse processo desencadeou, em teatros, palácios, palacetes, praças e outros locais propícios, sofisticaram a composição de peças que vieram a se convencionar chamar de música clássica.

A produção persiste, o primeiro som emitido pelo homem, provavelmente foi o som que saiu de algum osso oco que foi soprado acidentalmente, outro som, o da batida de um galho em um tronco, foram os precursores da nossa música que atualmente transcende o espectro físico dos instrumentos acústicos para dar entradas a instrumentos elétricos e eletrônicos. Qual é a quantidade de música que é feita com o sentido de se diferenciar da música popular?

Não saberia responder. Acredito ser bem pouca a quantidade de compositores contemporâneos que se dedicam a esse tipo de composição. As necessidades da vida moderna fazem com que poucos, muito poucos se dediquem a essa tarefa. Tenho escutado aqui e ali composições desses autores, nos concertos que costumo freqüentar, ouço uma peça aqui, outra daqui um tempo, mas não saberia quantificar essa produção. O crivo do tempo, no entanto, é implacável, pouco resiste ao grande juiz que é o tempo. Essas serão os clássicos de amanhã, que se somarão à música clássica de hoje.

Comecei, ou melhor, recomecei o artigo que já tinha escrito e terminado. Aqui surge um problema, o artigo era bem mais curto e a essa altura já estava para lá de concluído. Mais fácil seria cortar o que escrevi. No entanto, peço paciência ao leitor. Nada do que aqui está escrito é novidade, mas, o atalho que tomei se revelou mais longo do que o anterior, portanto divido aqui este artigo em mais de um, pois mais longo seria abusar da paciência alheia.

Jacques

sábado, março 19, 2005

Porque não salvar o texto de vez em quando e não perder um artigo pronto?

Boa pergunta.

Tinha acabado de escrever um artigo inteiro, que vou tentar reescrever. Culpar o tempo, ruidos ou outra bobagem qualquer não seria inteligente. O importante é culpar o espaço que fica entre as minhas duas orelhas e que deveria se preocupar em não apertar um botãozinho errado. Juro que se soubesse o que fiz não o teria feito. Já procurei no HD inteiro e o texto fugiu.

Agora, por agora, vou tentar reescrever e usar um editor de texto intermediário, menos sensí­vel a êrros que medem um pouco mais de vinte centímetros de largura por outros tantos de altura (comprimento das minhas orelhas).

Baixei um programa que se chama w.bloggar feito por um brasileiro e que deve ser mais inteligente do que eu, êle e o programa. Não tenho a mínima idéia de como isso vai funcionar mas eu sou jovem e vou aprender.

Êsse é o primeiro texto que eu faço com o programa, vamos ver como fica a apresentação.

Se funcionar, coloco um link.

Jacques

quinta-feira, março 17, 2005

Cantiones profanæ cantoribus et choris cantandæ comitantibus instrumentis atque imaginibus magicis

Este é o subtítulo da Carmina Burana de Carl Orf.

Algo que se traduziria como "Canções Profanas para Solistas e Côros, acompanhadas de instrumentos complementadas por imagens (cenas) mágicas". Outras traduções livres também são possíveis, mas o sentido não varia.

O material publicado em Internet é vasto. Seria dificil escrever algo de novo sobre o assunto. De um lado, meus conhecimentos são limitados demais para sintetizar idéias novas e de outro a quantidade e qualidade do material é tanta que é dificil criar sobre algo que conhecemos mas que outros já escreveram com muito mais propriedade.

Optei aqui, nessa breve introdução por citar três sites, todos com excelente material, para que a simples leitura sirva de introdução ao tema.

Aos que leram aqui, ontem, uma versão maior, fica o comentário de que preferi não transcrever trechos desses sites por não achar correto a mera reprodução de texto, mesmo porque, apesar de citar as fontes de origem, seus autores não foram contatados.

Ficam portanto aqui o que escrevi, de punho próprio e mais os links para os sites de origem e eventuais citações, devidamente creditadas.

Basicamente na origem a peça que veio dar origem a Carmina Burana, são escritos diversos, encontradas no início do século XIX, cerca de 200 poemas e canções medievais, e
ncontrados na abadia de Benediktbeuern, na Bavária superior. Eram poemas dos monges e eruditos errantes — os goliardos —, em latim medieval; versos no médio alto alemão vernacular, e vestígios de frâncico. O doutor bavariano em dialetos, Johann Andreas Schmeller, publicou a coleção em 1847 sob o título de “Carmina Burana”. Carl Orff, descendente de uma antiga família de eruditos e soldados de Munique, cedo ainda deparou-se com esse códex de poesia medieval. Ele arranjou alguns dos poemas em um happening — em “canções seculares (não-religiosas) para solistas e coros, acompanhados de instrumentos e imagens mágicas”. ¹

(¹) http://www.nautilus.com.br/~ensjo/cb/

Na realidade trata-se de textos , que na antiguidade eram cantadas por grupos de menestreis, trovadores, cantores de taverna e que serviam para divertir o povo. Porém, enquanto a melodia religiosa narrava passagens do ofício da Igreja, a lírica trovadoresca cantava o prazer da bebida, os excessos, a fugacidade do tempo e o amor. Esta temática residia e se exaltava tanto no cantar dos trovadores quando no folclore do povo. E essa música ecoava nas ruas, nas festas, nas tavernas. E quem cantava a fanfarronice da vida eram os aldeões, boêmios errantes, ciganos, enfim, gente como todo mundo, e que vivia para amar, jogar, beber e contar relatos de histórias picantes e muita sátira à corte e ao clero.²

(²) http://www.spectrumgothic.com.br/musica/carmina.htm

Nada restou da melodia dessas canções. A tradição oral era o que vogava naquela época. As melodias passavam de grupo em grupo, de cidade em cidade e de companhia em companhia. Não se anotava a música, daí não existir vestígios de suas encenações originais. Cada grupo ou companhia utlizava-se de fórmulas próprias, unindo letras comuns a melodias diversas ou vice-versa.

As canções mais populares, ou podemos dizer, varias dessas canções populares foram compiladas e tornaram-se base do material utilizado por Orf em sua Carmina Burana. É lógico que nem todas as que estavam no mesmo grupo e que foram resgatadas foram orquestradas. Algumas se tornaram mais populares ainda pelo fato de terem música que cairam no gosto de seus ouvintes, quer pela qualidade quer pela melodia fácil . É o caso do apelo em coral à Deusa da Fortuna (“O Fortuna, velut luna”) .¹

Contudo, uma coisa deve ser ressaltada: a música do autor alemão não tem relação direta com a poesia popular da Idade Média. Quer dizer, trata-se de um irrefutável anacronismo. Mesmo que ela dê a impressão de ser de época, não possui qualquer relação: é a forma com que o compositor decidiu recriar aquele espírito de época. Daí a sugestão “apocalíptica” da primeira parte da cantata (a mais conhecida), “O Fortuna”, que virou mania como trilha em cinema e tevê. A verdade é que, se a poesia resistiu ao tempo, os trovadores não escreviam a melodia na pauta (já que guardavam ela na cabeça), ficando apenas as letras. Mais: mesmo sendo a versão mais popular, Orff não foi o único a musicar trechos do Códice de Beuren. Com efeito, ele foi quem menos utilizou qualquer notação musical relativa à procura de um “sugestivo” estilo da época.³

(³) http://www.rabisco.com.br/49/carmina.htm

Resumo da ópera, não é uma Ópera, é uma Cantata Cênica.

E por que isso? Porque não há uma encenação. Não há enrêdo, o que há é uma sucessão de canções, reunidas numa determinada ordem e que formam a Cantata.

O texto da Carmina Burana e respectiva tradução é o seguinte:¹

Fortuna Imperatrix Mundi
1. O Fortuna
2. Fortune plango vulnera
I. Primo vere
3. Veris leta facies
4. Omnia sol temperat
5. Ecce gratum
Uf dem anger
6. Tanz (instrumental)
7. Floret silva nobilis
8. Chramer, gip die varwe mir
9. Reie
10. Were diu werlt alle min
II. In Taberna
11. Estuans interius
12. Olim lacus colueram
13. Ego sum abbas
14. In taberna quando sumus
III. Cour d’amours
15. Amor volat undique
16. Dies, nox et omnia
17. Stetit puella
18. Circa mea pectora
19. Si puer cum puellula
20. Veni, veni, venias
21. In truitina
22. Tempus est iocundum
23. Dulcissime
Blanziflor et Helena
24. Ave formosissima
Fortuna Imperatrix Mundi
25. O Fortuna

Quando de sua execução, pelo menos nas apresentações a que assisti, a formação é de uma orquestra com um côro, normalmente situado na parte de trás do palco, com os solistas à frente. Outra que assisti, com menos cantores, os solistas se situavam dispersos, junto ao côro. Ainda uma outra vez, assisti a um filme onde a Cantata foi executada (parcialmente) numa espécie de palco circular, o côro ladeando o palco e olhando para o centro, os músicos sentados à frente dos cantores e o maestro praticamente no centro. O público sentava-se ao redor do palco, sob uma lona de um circo ou de uma tenda. Se alguém lembrar do nome do filme eu agradeço a colaboração.

Meus agradecimentos à Solange que me ajudou a ordenar meus conhecimentos, pesquisar e a publicar este pequeno texto sobre Carmina Burana.

Jacques

terça-feira, março 15, 2005

Citando Neruda e relembrando minha visita a Isla Negra



"En mi casa he reunido juguetes pequeños y grandes, sin los cuales no podría vivir. El niño que no juega no es niño, pero el hombre que no juega perdió para siempre al niño que vivía en él y que le hará mucha falta."


Pablo Neruda



Positivamente, existe algo mais verdadeira do que essa frase?

Possa eu, todos os dias de minha existência, praticar o que Neruda verbalizou nessa sentença. O que seria de mim sem os meus brinquedos?

Como seriam tristes os meus dias... E, tendo conhecido duas casas onde Neruda viveu, uma em Santiago e outra em Isla Negra, que grande moleque era ele!

Uma pequena amostra do que vi, senti e me emocionei. transcrevo abaixo, sem edição, o que foi publicado em 18 de Julho de 2004, poucos dias após o centenário de seu nascimento, no El Correo Gallego, uma breve pincelada a respeito deste grande poeta:


"Nobel chileno de nombre checo Neftalí Reyes se bautizó como Pablo Neruda para convertirse en un cantor del amor adolescente y, más tarde, en un escritor comprometido que pasó por la clandestinidad como ornitólogo e hizo de Isla Negra su lugar de peregrinación

S.V.\SANTIAGO


"Puedo escribir los versos más tristes esta noche. Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido''. Quizás estos sean los versos más archifamosos del poeta chileno Pablo Neruda. Responden a su etapa de cantor del amor adolescente. Después vino la del escritor comprometido. Y, desde su muerte en septiembre de 1973, a escasos días de que el golpe de Pinochet le arrebatara la presidencia a su amigo Salvador Allende, la de un Nobel admirado objeto de múltiples homenajes, los más prolíficos los que estos días se están llevando a cabo con motivo del centenario de su nacimiento el 12 de julio de 1904.

Los expertos apuntan, no obstante, que la gente recuerda más sus romances —se casó tres veces, amén de un rosario de amantes—, anécdotas y compromisos políticos que su voluminosa obra.

Lo cierto es que Neruda, en sí, se erigió como todo un personaje que se creó a sí mismo. Dejó atrás su nombre de Neftalí Reyes por uno mucho menos exótico que, curiosamente, era el de un checo que encontró en una revista y que, sin él saberlo, resultó ser un escritor adorado en su país.

Incluso llegó a adoptar una personalidad completamente distinta. Lo cuenta José Miguel Varas en su libro Neruda, clandestino (Alfaguara, 2003). La razón fue esquivar la persecución que sufría desde el Gobierno de González Videla tras publicar, siendo senador, una carta criticando al presidente. Oculto desde febrero de 1948 hasta marzo de 1949, se paseó por más de una docena de domicilios y, aunque no dejó de celebrar su cumpleaños junto a un grupo de amigos, se convirtió oficialmente en Antonio Ruiz, con una espesa barba y de profesión ornitólogo. Tiene gracia la elección si pensamos que en 1934, paseando por Madrid con Miguel Hernández, éste recordó su Orihuela natal y el canto de los ruiseñores, que Neruda nunca había oído. Hernández se subió a un árbol e imitó el trino del ruiseñor.

Su rutina en Isla Negra durante el final de su vida también ha sido recreada con precisión milimétrica por el que entonces era su secretario personal. Se levantaba a las 7.30 horas, desayunaba en casa un té co leche y se bañaba, para a continuación leer ocho diarios nacionales y regionales. Le sucedía en su agenda el recibimiento de las visitas, comía entre la una y las dos de la tarde y, como sobremesa, seguía en su televisor marca Bolocco su telenovela favorita, La muchacha italiana. La siesta era imperdonable. En ocasiones, incluso le acompañaba Allende.

Su actividad literaria, ligada indisolublemente a la tinta verde, se desarrollaba generalmente por la mañana, si bien no tenía horario fijo y podía ocupar otras horas.

Los paseos por el Litoral Central, Algarrobo o Valparaíso los realizaba en compañía de su chófer, Manuel Araya, en un Citroën que le habían enviado expresamente desde Francia. La playa y los paisajes de Isla Negra se sucedían cada todos los atardeceres.

Amante de la gastronomía, el congrio era su plato favorito. También disfrutaba de la carne de ciervos y en su mesa nunca faltaban sopas y cremas, siendo su preferida la de espárragos, ni por supuesto el vino. Asimismo, le encantaba la mermelada de ciruelas.

Las fiestas en su casa de Isla Negra eran memorables y le gustaba recorrer las calles del puerto de San Antonio merodeando por las ferreterías en busca de objetos normalmente inservibles. Su pasión por las conchas y caracolas, que se exhiben en la actualidad junto a varios de sus manuscritos en Santiago de Chile dentro del amplio programa de actividades que conmemora su natalicio, proceden de la primera vez que vio el mar. "En mi casa he reunido juguetes (pequeños) y grandes, sin los cuales no podría vivir. El niño que no juega no es niño, pero el hombre que no juega perdió para siempre al niño que vivía en él y que le hará mucha falta'', escribió Neruda."


Não é sem razão que Neruda é um de meus ídolos.


Jacques

Link de origem:
http://www.elcorreogallego.es/periodico/20040718/Sobrevivir/N265839.asp

segunda-feira, março 14, 2005

Hoje é o aniversário da Patty!

Uma das grandes satisfações da vida é ser pai. Mas a maior das satisfações é tornar-se avô.

Hoje, você, a minha filha mais nova, faz 30 anos. Dizer que estou satisfeito, orgulhoso, feliz? Tudo isso e mais... Você me deu dois netos! Enquanto você e seu irmão cresciam, estavamos ocupados demais e deixamos de aproveitar das alegrias que eram cada degrau escalados por vocês.

Mas a natureza é sábia. Passado um espaço de tempo, chegam os netos. Pelo que lí, um dos diferenciais do ser humano em relação aos animais é o vínculo do avô. O filho do filho. E como isso é bom!

Êsses 30 anos passaram muito rápido. Mas chegaram meus netos, entre eles os seus filhos, o Bruno e o Rodrigo. E como é bom curtir essas criaturinhas!

Tudo que eu fiquei devendo na educação sua, todas as horas que eu não pude estar junto, todos os aborrecimentos que me impediram de compartilhar seus pequeninos problemas e suas grandes necessidades eu espero, sinceramente, me redimir com os meus netos.

Patricia, que o seus sonhos mais caros, que suas aspirações mais elevadas, que tudo aquilo que você deseja para você, seu marido e seus filhos. se realize!

Amo a vocês todos!

Aprendi muito com você e espero continuar aprendendo. Afinal você é a "minha filha mais linda, de todas a mais bela!" É ou não é? Continua sendo! (E sempre será!)

Beijos! Muita sorte, paz, saúde e felicidades!

Jacques

domingo, março 13, 2005

Neruda: a réplica e a tréplica...

Ah o Rodrigo...

Sexta à noite recebi a resposta do meu post a respeito de Neruda e lê-lo na "lingua que deve ser lido, o espanhol":

03/11/2005 19:20
"ler prosa, por exemplo, em outra língua que nao a original - dependendo da traduçao - certamente nao faz muita diferença, a poesia por outro lado, tem uma construçao diferente que depende de como funciona a língua original, nao é nao? e apesar do português ser parecido ao español, as duas línguas sao bem diferentes.a minha pergunta nao é uma tentativa de exclusao cultural. se vc pode ler em español perfeito, se nao, muito bem, o importante é ler.no caso da poesia o ideal seria que todas as ediçoes fossem bilingües exatamente pra sentir como ela, a poesia, foi feita. forma e conteúdo sao indivisíveis."

Quase que simultâneamente eu mandei minha resposta:

03/11/2005 19:58
Rodrigo,
Se a cada palavra em um idioma correspondesse uma única palavra no outro idioma não precisaríamos de tradutores.
Fazer traduções comparadas, lado a lado, ficaria muito bom para estudos acadêmicos.
Infelizmente o custo comercial seria um limitativo de ordem maior.
Não é o caso de polemizar aqui sobre o ofício de tradução. Já li muitas críticas onde se louva o tradutor pela qualidade de seu trabalho. Também já li críticas sobre traduções falhas. Como em todo ofício existem os profissionais competentes e os incompetentes.
Adoro o Chile, fui muito bem recebido pelos chilenos, me sinto em minha casa quando lá estou. E com todo o respeito, discordo totalmente da sua afirmação de que só se "deve ler Neruda em espanhol".
Não posso analizar a qualidade dos tradutores de Neruda para o português pois, conforme disse acima, li quase tudo no original, mas do que li só posso dizer que gostei.
Realmente não tenho capacidade técnica para julgar a tradução deste ou daquele livro, seja prosa ou seja verso.
Se você conseguir me mostrar aqui e alí erros de tradução, poderíamos discutir caso a caso.
Desconheço sua formação, portanto não julgo o que não conheço, mas posso avaliar o que você escreveu em português. Permita-me manter a minha opinião que aqui expresso, não confiaria a você a tradução da minha cartilha.
Por favor, respeite essa minha opinião, mas acima de tudo, não subestime a capacidade alheia.

Não há de se negar uma boa parcela de razão em ler um livro no original. Um original é sempre um original. É lógico que isso se torna inviável com grande parte dos autores estrangeiros. Entre ler uma tradução e não ler o livro, não há escolha. Mesmo que arranhemos um idioma, o tradutor expressa muito melhor aquilo que achamos entender. Grandes capacidades se dedicam e se dedicaram ao ofício da tradução.

Acaba de me ocorrer um caso que, acredito, é do conhecimento de poucos. Quem é o autor d'As Minas do Rei Salomão? Eça de Queiroz, certo? Não! Errado! Eça de Queiroz traduziu o livro que é da autoria de Rider Haggard...

Quantos de nós já leram em classe êsse livro? Hoje em dia não poderia responder mas, antigamente, todos nós líamos As Minas do Rei Salomão "de" Eça de Queiroz... Uma tradução tão bem feita que era livro-texto em muitas escolas.

O que me fez reagir com tanta ênfase foi a virulência da provocação.

Não me atrevo responder em espanhol porque desconheço as nuances da língua. Acho que nesse ponto os argentinos são até mais sinceros, eu diria que beiram a humildade. Eles não falam espanhol, eles falam castelhano...

Quem quizer que os entenda, ponto.

Verdade que o Rodrigo ainda me ensinou a origem do nome Chile:

03/11/2005 19:41
"Jacques... antes do Poeta, os povos nativos de meu país chamavam sua terra de chili: o fim do mundo. tempos depois surgiu o "chile"."


Se bem me lembro, já tinha esquecido da explicação, de algum guia local eu já havia escutado a origem do nome do país. É curioso como o Chile tem essa cultura de que fica num fim de mundo desde épocas antigas. Interessante a noção de culturas ancestrais que lá habitaram. Como definir que alí era o extremo (Sul) de um continente?

E Neruda, grande poeta e escritor, realmente, em sua obra afirma e reafirma a mesma coisa. Com uma única diferença, Neruda é o grande intérprete moderno de uma nação. E Neruda conhecia geografia e história entre outras muitas sapiências. Seus ancestrais tinham uma cultura que era muito mais baseada na tradição oral do que conhecimentos científicos. Que meios e em que eles se baseavam para acharem que habitavam o fim do mundo? Interessante essa colocação...

Polêmicas à parte, viva Neruda!

Jacques

sexta-feira, março 11, 2005

Ouvindo uma velha gravação de Turandot e reminiscências de alguém muito querido.

Quem leu abaixo sobre os CDs da Turandot vai perdoar a repetição.

Para quem não leu, ontem foi dia de ouvir mais uma vez uma gravação da Turandot que eu tinha em casa.

Uma versão de Turandot com Borkh/Tebaldi/ Del Monaco, Orquestra e coro da Accademia di Santa Cecilia de Roma, regencia Alberto Erede. Gravada em 1955 e remasterizada em 1959 para stereo.

A qualidade não se compara com a técnica disponível nos dias de hoje. Dá até para sentir o que era ter de escutar em LPs. Uma ou outra falha, aqui e alí, denuncia onde era a hora de virar o disco. O áudio não é uniforme, às vezes muito alto, outras muito baixo. E assim vai...

Agora, o elenco é um espetáculo à parte. Como é bom reviver em disco a qualidade dos intérpretes.

Liù e Renata Tebaldi... O ponto alto! Os outros, todos muito bons!

Mais e mais me dá a impressão que não dá tempo de ouvir tudo, de ler tudo e de aprender tudo. Como somos limitados em nossa capacidade de perceber todas essa manifestações da arte e da beleza de nossa cultura. Aliás da beleza das coisas do dia-a-dia que passam por sob o nosso nariz e estamos muito ocupados para nos dar conta.

E finalmente, como somos efêmeros nessa nossa passagem por esta Terra.

Um disco, de 50 anos atrás nos faz viajar por uma obra de mais 80 anos atrás e assim começamos a perceber que temos que realizar algo de muito valor para legarmos a nossos descendentes.

Pode ser uma coisa pequena mas certamente é a nossa missão fazer acontecer.

Um dia já ter-se-ão passados cem anos de nosso nascimento... Já pensaram nisso?

Logo após o nascimento de meu neto Bruno, o mais velho, hoje com 4 anos, eu tive a oprtunidade de dizer algumas palavras aos que estavam presentes naquela comemoração.

Naquela ocasião, homenageei a lembrança de meu finado avô Simão, cujo centenário de nascimento tinha acabado de ocorrer, naquele ano e naquele mês. Imigrante que chegou a Brasil no início dos anos 20 e que venceu o desafio de vir sem nada e criar, aqui neste nosso Brasil um patrimônio que se mede muito mais em ítens não materiais e valores éticos e morais do que os meramente mensuráveis e amealháveis.

Em palavras não textuais, eu desejei ao meu neto, primeiro neto e primeiro a nascer no século 21 em nossa familia, que dalí a 100 anos um neto seu pudesse lembrar-se e citá-lo como exemplo a seu novo neto como eu lembrava do legado de meu avô Simão.

E, passados alguns anos, não posso deixar de mencionar aqui o grande legado conjunto de todos meus avós, dos quais três eu conheci e conviví.

Me lembro de um pequeninho trecho, que eu achava que naquele instante, lado a lado estavam meu avô e minha avó, Simão e Léa, sentados numa nuvenzinha rindo muito e aplaudindo tudo aquilo que de lá viam e abençoando o novo tataraneto...

Que assim seja!

Não é nas grandes realizações que reside essa nossa imortalidade, bastam apenas termos tomado determinadas e pequenas atitudes, termos tomado pequenas ações, pequenos gestos, para que nosso legado se perpetue.

Dá para perceber que este é um assunto que me preocupa.

Todos podemos deixar um mundo melhor para nossos descendentes, basta apenas começarmos a agir. Uma pequena ação, um pequeno gesto... Hoje!

Se não hoje, pelo menos lembrar de fazê-lo na primeira oportunidade. Nada de muito grande, apenas algo de bom! Imprimir a nossa marca na nossa existência é muito bom. Para nós em primeiro lugar, para aqueles que gostamos, para o próximo, para todos.

Acima de tudo, fazer o bem e fazê-lo bem.

Jacques

"leer Neruda en español"

Assim mesmo, em minúsculas, este tópico da comunidade sobre Pablo Neruda, no Orkut, me chamou a atenção.

"cuantos de uds. brasileños ya leyeron Neruda en la lengua que se debe, ¿el español?"

Ora, estou ouvindo calmamente minha vetusta Turandot com 50 anos nas costas e leio uma provocação muito mal escrita sobre ler um clássico chileno...

Contei até dez, contei de novo e não gostei. Não pelo fato de haver sim uma curiosidade em saber quantos de nós brasileiros somos capazes (ou temos acesso) a livros em espanhol. A meu ver a provocação está em afirmar ser esta a lingua em que se deve ler Neruda.

O Orkut, como um todo, me decepciona. Pensei que poderíamos travar discussões, trocar impressões, fazer novas amizades e assim por diante. É o que me interessou a entrar no Orkut.

Ora, ao ler um ítem como o acima, minha paciência acabou. Em alguns minutos emiti minha opinião:

Minha opinião sobre o assunto:
Estive no Chile, visitei as casas de Neruda em Santiago e Isla Negra, comprei e li as obras completas em espanhol.
Aliás, a edição que possuo foi impressa aqui mesmo no Brasil pela Editora Melhoramentos.
A lingua que fulano ou beltrano deve ser lida é aquela com a qual temos afinidade. A pergunta que cabe aqui é se você leu Jorge Amado em português. E isso faria alguma diferença?
Eu mesmo respondo:
O que vale é a qualidade da leitura. Impossivel dominar todas as linguas. Para a tradução existem os bons tradutores e neles nos fiamos para chegar à essência da leitura. Nada substitui a leitura do original, no entanto, nenhum autor é "propriedade" desta ou aquela lingua. Pode ser muito refinado ler Tolstoi ou Dostoievski em russo mas negar aos que leram em suas linguas maternas as traduções seria ilhar cada um de seus leitores.
O próprio Neruda reconhecia que o Chile era o fim do mundo. Em várias de suas obras ele menciona este fato. E no entanto, nem por isso ele deixa de ter enorme importancia na literatura e poesia mundial. Aliás, para fazer justiça, suas memórias, "Confesso que Vivi", as li em português pois foram publicadas posteriormente.
Portanto, ler Neruda em espanhol, português ou seja lá a lingua que for é tão meritório quanto for o seu nível de compreensão. Ler no original e não sorver a essência do que foi escrito é um pecado tão mortal quanto ler em sua própria lingua mãe e passar por cima das nuances de conteúdo.
Boa literatura não tem lingua. Se assim o fôsse não absorveríamos todas as belas páginas de literatura que abundam ao redor de nosso planeta.
Sou um fã ardoroso da obra de Neruda. Li no original. Leio espanhol, entre outras linguas, não escrevo porque não estudei o suficiente, mas vou e venho por todos os países de fala hispânica incluída a Espanha e não me perco, ao contrário da maioria de nossos "hermanos" que mal arranham o nosso português.
Não faço a apologia do português como lingua latino americana mas respeito nossas diferenças.

Pois é, li e reli hoje o que escrevi ontem à noite. Corrigi uns errinhos de Português. Só terminei onde terminei porque existe limitação de tamanho das respostas (lá no Orkut). Não tiro nenhuma palavra. Escrever mais seria dar importancia demasiada ao fato.

Até acredito que o Rodrigo seja uma pessoa esclarecida mas acho que a pergunta foi infeliz.

Nada substitui a leitura mas não sou obrigado a aceitar a provocação da pergunta.

Ora, o nosso tão querido e lido Jorge Amado é lido em centenas de países, traduzido e reconhecido como grande escritor! E o que dizer da prosa brasileira traduzida em linguas tão diferentes quanto são as diferentes linguas? Uma parte perde-se com certeza, mas o que sobra é literatura da mais alta qualidade. Só nós brasileiros sabemos disso. Existe todo um maneirismo e um alto teor de regionalismo em Jorge Amado que deve ser dificílimo de traduzir. Talvez mesmo impossível. E como ele são centenas de escritores, cada um à sua moda, cada um à sua prosa, cada um ao seu estilo.

Adoro o Chile! Lá passei alguns dos dias mais felizes que um homem possa almejar, lá estive com minha mulher, mais de uma vez, além de lá ter estado com meus filhos e meu genro, naquela época ainda não pude levar minha (futura) nora, ainda a coisa não estava definida. Andei de avião, barco, carro. Fui às geleiras do sul, na Patagônia e subi em vários vulcões, visitei cidades e universidades. Rodei pelas pequenas estradas vicinais para conhecer a terra e o povo. Andei pelo Mercado para conhecer a produção, dialogar com cidadão comum e conhecer o espírito do povo. Me apaixonei pelo país e pelo povo. Tomei vinho e água, comi os melhores frutos do mar e peixes do Pacífico e fui muito bem recebido em todos os locais por onde passamos. Fui e ví estrelas. Até com um eclipse total da Lua fui contemplado. Sorte! Fui recebido como um irmão! E como irmão me portei.

Agora, não me venham com essa história de ler Neruda em espanhol como sendo a única opção...

Jacques

quinta-feira, março 10, 2005

Poster da Turandot de Puccini


Turandot

Comentários sobre a Turandot de Puccini

Puccini não teve tempo de acabar sua última ópera.

A Casa Ricordi, editora das óperas de Puccini, entregou a Alfano a tarefa de terminar Turandot, baseado em esboços deixados por Puccini. Vem daí a Turandot que conhecemos.

Em 2000, a mesma Casa Ricordi, entrega a Berio o mesmo material para que este estude e conclua Turandot à sua maneira. Óbvio que o resultado é diferente. Baseando-se em cerca de 20 esboços, os mesmos citados anteriormente, e com mais tempo para estudá-los Berio faz uma versão diferente para o finale de Turandot.

O artigo abaixo dá uma boa luz sobre o assunto:


Grandi Tenori - The TURANDOT ACT III FINALE
Franco Alfano and Luciano Berio’s versions


Para facilidade de compreensão transcrevo abaixo partes do artigo do Dr. Joseph Fragala:

"In August 1921, Puccini wrote to his long-standing friend Schnabl: “I have finished act I of Turandot”. In December 1923, he confided to Schnabl: “I orchestrate and compose. However, I lack the grand finale of act III, which I have redone for the fourth time.” In March 1924, he wrote to his librettist Simoni: “I have worked relentlessly for four months and I am almost at the end. All I lack is the final duet…”

(...)

By reason of declining physical conditions, he shillyshallied, struggled enormously with the duet and finale and never completed them, managing to write copious but only music sketches by mid 1924.

(...)


Historical notes :
Since 29 November 1924, marking the death of Puccini, the most popular operatic composer in the world, eight months had elapsed. During this time, a frantic and exhaustive search far and wide failed to find another composer who could slip into Puccini’ shoes and complete Turandot, one of the most proficient operas and finest music he had written. In July 1925, the directors of Casa Ricordi finally entrusted the task of completing Turandot to the Neapolitan composer Franco Alfano. Toscanini’s nod in favour of Alfano was decisive, having been impressed by Alfano’s exotic opera success at Bologna, La Leggenda di Sakùntala (1921). Apparently, Alfano wrote more than one version of the Turandot’s finale and unfortunately Toscanini chose the worst one.

In 2000, composer Luciano Berio was commissioned by Casa Ricordi to elaborate a new composition and orchestration for Puccini’s Turandot’s finale as an alternative to that of Franco Alfano with which the opera normally ends. The lyrics were to be left intact. Berio consulted 23 sketches left by Puccini and worked on stylistic coherence with Puccini, which are declamation, expansive lyricism and expressive intonations. The world premiere of the renewed Turandot was given at the opera house of Los Angeles on 25 May 2002 followed by the European premiere at the Het Muziektheater of Amsterdam on 1 June 2002 and at the Salzburg Festival on 7 August 2002.
"

Ontem, complementando a pesquisa que me levou ao artigo acima, li que Berio também veio a falecer em Maio de 2003.

"Luciano Berio
Composer and conductor Born: 24 October, 1925, in Oneglia, Italy.

Died: 27 May, 2003, in Sienna, aged 77. "

Fiquei fascinado com a história acima. Mais um pouco de pesquisa, desta vez no site da Amazon. Queria ver se achava um CD ou um DVD da versão de Berio para a Turandot. Encontrei o que queria. Existe sim uma versão, em DVD, talvez mais. Já comprei o DVD. Agora só me resta esperar que a encomenda chegue. O link da Amazon é o seguinte:

Puccini - Turandot / Gergiev, Schnaut, Tear, Vienna State Opera (2002).

Enquanto não chega o DVD acima, vou vendo e escutando o DVD que tenho, Puccini - Turandot at the Forbidden City of Beijing / Mehta, Casolla, Larin, Frittoli, Maggio Musicale Fiorentino (1998). A montagem é belíssima. Conseguir unir Turandot à Cidade Proibida de Beijing (Pequim) é algo realmente de notável. Só o "making of" vale o investimento!

Vou vasculhar meus CDs também. Por lá dorme, pelo menos mais uma versão de Turandot. Nunca é tarde para uma releitura.

Acho que tudo isto que escrevi não esgota o assunto. Se minha pesquisa prosperar voltarei ao assunto.

Jacques

P.S.: Já é noite. Estou escutando a versão de Turandot com Borkh/Tebaldi/ Del Monaco, Orquestra e coro da Accademia di Santa Cecilia de Roma, regencia Alberto Erede.

Ficha Técnica: Turandot: Inge Borkh Calaf: Mario Del Monaco Liù: Renata Tebaldi Timur: Nicola Zaccaria Ping: Fernando Corena Pang: Mario Carlin Pong: Renato Ercolani Emperor: Gaetano Fanelli Mandarin: Ezio Giordano
Santa Cecilia Academy Chorusand Orchestra, Rome Alberto Erede
Decca 433 761-2

A gravação é de 1955 e remasterizada para stereo em 1959. A gravação não nega a idade mas a qualidade do elenco é indubitável.

Uma resenha da gravação foi feita em 1993 para a revista Gramophone e está transcrita eno link:

http://www.geocities.com/renatatebaldi/turandot.htm

(Editado em 2005/03/10 às 22:30hs)