quarta-feira, março 30, 2005

Lidando com as coisas, aliás "nóis" lidando com as coisas...

Coloquei um título nesse artigo que, quase certeza, vai ter de ser mudado antes do fim. O normal do meu processo de criação é deixar a coisa correr e ver aonde vai acabar.

Já me aconteceu de não saber parar de escrever mas dificilmente acontece de me ver parado sobre uma folha branca, ou a tela do computador, sem saber como iniciar o meu discurso.

Óbvio que eu não vou discursar mas gosto de discorrer sobre os assuntos. Engenheiro de formação, quadradinho quando dei meus primeiros passos na profissão, comecei a tomar gosto pela escrita alguns poucos anos depois. No começo quando ia escrever uma carta, três parágrafos e o assunto estava resolvido. Aos poucos aprendi que nem tudo pode ser colocado com a frieza e a precisão de um técnico.

Primeiro porque as pessoas não estão acostumados com a retidão do pensamento analítico. Depois que as pessoas precisam ser introduzidas nos assuntos de maneira gradual. Sem ser prolixo, é necessário cativar o leitor e a partir daí discorrer de maneira agradável. De nada adianta impor ao leitor uma única opção. Provavelmente você vai perder seu leitor antes do final.

Pois é, realmente o título já mudou e eu continuo no assunto. Da mesma maneira que escrever é um assunto complicado, os discursos, aparentemente são mais simples, até por que o texto amarra e o discurso, dependendo da situação, pode ser improvisado.

Há dois anos e três meses, para ficar claro de quem estou falando, escutamos entre atônitos e surpresos, um bombardeio de discursos, improvisados na sua grande maioria, que mostra um político em campanha permanente, um fabricante de gafes e de deslizes que beiram a irracionalidade.

Washington Luís, ex-presidente, dizia, governar é abrir estradas. Também já foi dito: "ou o Brasil acaba com as saúvas ou as saúvas acabam com o Brasil". Estas e outras frases bombásticas infestaram as nossas vidas, ou as de nossos pais. "Plante que o João garante"; "Brasileiros e brasileiras..."; "Trabalhadores do Brasillllll..." e por aí vai...

Repetir as baboseiras e os bordões alheios só irrita mais o nosso raciocínio.

Pois bem, a palavra da vez é "nóis". Será que nós (e não "nóis") merecemos ser bombardeados com tamanha profusão de vocabulário?

Outra mudança de título.

O problema é que somos brindados com uma discurseira que não poderia chamar de mal redigida pois redigida não foi. Isso eu chego quase a garantir.

O clima que cerca os pronunciamentos a que somos submetidos dia após dia, nas mais variadas ocasiões, sob a que título possa se imaginar, as metáforas tão comezinhas e de nível tão "erudito", fazem pressupor que não sobra tempo para governar esse nosso pobre país.

Com efeito, para emitir as pérolas com que somos brindados é necessário se deslocar de ponto a ponto, melhor seria dizer de ponta a ponta de nosso país, que tem tudo para ser grande, afinal temos dimensões continentais, menos (ou "menas"?) pelos grandes problemas, esses sim são imensos, e mais pela grandeza de nosso povo.

Agora, estamos envolvidos na política da famigerada MP 232. Pois bem o governo, "atendendo o clamor popular", patrioticamente, está retirando e votando contra o próprio projeto que este governo, sim, ele próprio, enviou o Congresso. E somos nós os responsáveis pelo festival que está acontecendo no Congresso. São os representantes do povo, eleitos pelo povo e que têm um mandato outorgado pelo povo.

Eu explico, é melhor não explicar. Enquanto "nóis" fala, "nóis" não governa. Enquanto "nóis" não governa, "nóis" não progride.

Só vai explicar que "nóis" não somos nós. O representante que eu elegi está usurpando e exorbitando o mandato para que foi eleito. O "nóis" devia parar de viajar de AirBus e devia começar a governar. "Nóis" governa todos os brasileiros e não só aqueles que o elegeram. "Nóis" se esquece disso, azar nosso.

Enquanto "nóis" finge que governa, os severinos minúsculos fingem que legislam e o povo sofre.

O que "nóis" e severinos se esquecem é que o Brasil é grande, com problemas, com falta de recursos, com fome (não aquela que deveria ter sido zerada e não foi), com empresários que sucumbem à sanha dessas pragas severinas vendo seu esforço de anos e anos de trabalho serem jogados no lixo, com milhares e milhares de novos cidadãos chegando ao mercado de trabalho e tendo de adiar seus sonhos de contruir um Brasil melhor porque os empregos tão prometidos não existem...

Chega. Eu fico tão deprimido e irritado com este estado de coisas que realmente penso que nós, eu e você, no sentido mais amplo, não mereciamos passar pelo que estamos passando. Não foi esse o país que nós gostaríamos de viver.

E eu pergunto: -Tem como não estar pessimista?

Só uma coisa eu posso dizer, para quem ia falar sobre medo de andar de avião, até que eu não me desviei do assunto. Eu não tenho medo, eu estou com medo!

Jacques

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