quinta-feira, março 17, 2005

Cantiones profanæ cantoribus et choris cantandæ comitantibus instrumentis atque imaginibus magicis

Este é o subtítulo da Carmina Burana de Carl Orf.

Algo que se traduziria como "Canções Profanas para Solistas e Côros, acompanhadas de instrumentos complementadas por imagens (cenas) mágicas". Outras traduções livres também são possíveis, mas o sentido não varia.

O material publicado em Internet é vasto. Seria dificil escrever algo de novo sobre o assunto. De um lado, meus conhecimentos são limitados demais para sintetizar idéias novas e de outro a quantidade e qualidade do material é tanta que é dificil criar sobre algo que conhecemos mas que outros já escreveram com muito mais propriedade.

Optei aqui, nessa breve introdução por citar três sites, todos com excelente material, para que a simples leitura sirva de introdução ao tema.

Aos que leram aqui, ontem, uma versão maior, fica o comentário de que preferi não transcrever trechos desses sites por não achar correto a mera reprodução de texto, mesmo porque, apesar de citar as fontes de origem, seus autores não foram contatados.

Ficam portanto aqui o que escrevi, de punho próprio e mais os links para os sites de origem e eventuais citações, devidamente creditadas.

Basicamente na origem a peça que veio dar origem a Carmina Burana, são escritos diversos, encontradas no início do século XIX, cerca de 200 poemas e canções medievais, e
ncontrados na abadia de Benediktbeuern, na Bavária superior. Eram poemas dos monges e eruditos errantes — os goliardos —, em latim medieval; versos no médio alto alemão vernacular, e vestígios de frâncico. O doutor bavariano em dialetos, Johann Andreas Schmeller, publicou a coleção em 1847 sob o título de “Carmina Burana”. Carl Orff, descendente de uma antiga família de eruditos e soldados de Munique, cedo ainda deparou-se com esse códex de poesia medieval. Ele arranjou alguns dos poemas em um happening — em “canções seculares (não-religiosas) para solistas e coros, acompanhados de instrumentos e imagens mágicas”. ¹

(¹) http://www.nautilus.com.br/~ensjo/cb/

Na realidade trata-se de textos , que na antiguidade eram cantadas por grupos de menestreis, trovadores, cantores de taverna e que serviam para divertir o povo. Porém, enquanto a melodia religiosa narrava passagens do ofício da Igreja, a lírica trovadoresca cantava o prazer da bebida, os excessos, a fugacidade do tempo e o amor. Esta temática residia e se exaltava tanto no cantar dos trovadores quando no folclore do povo. E essa música ecoava nas ruas, nas festas, nas tavernas. E quem cantava a fanfarronice da vida eram os aldeões, boêmios errantes, ciganos, enfim, gente como todo mundo, e que vivia para amar, jogar, beber e contar relatos de histórias picantes e muita sátira à corte e ao clero.²

(²) http://www.spectrumgothic.com.br/musica/carmina.htm

Nada restou da melodia dessas canções. A tradição oral era o que vogava naquela época. As melodias passavam de grupo em grupo, de cidade em cidade e de companhia em companhia. Não se anotava a música, daí não existir vestígios de suas encenações originais. Cada grupo ou companhia utlizava-se de fórmulas próprias, unindo letras comuns a melodias diversas ou vice-versa.

As canções mais populares, ou podemos dizer, varias dessas canções populares foram compiladas e tornaram-se base do material utilizado por Orf em sua Carmina Burana. É lógico que nem todas as que estavam no mesmo grupo e que foram resgatadas foram orquestradas. Algumas se tornaram mais populares ainda pelo fato de terem música que cairam no gosto de seus ouvintes, quer pela qualidade quer pela melodia fácil . É o caso do apelo em coral à Deusa da Fortuna (“O Fortuna, velut luna”) .¹

Contudo, uma coisa deve ser ressaltada: a música do autor alemão não tem relação direta com a poesia popular da Idade Média. Quer dizer, trata-se de um irrefutável anacronismo. Mesmo que ela dê a impressão de ser de época, não possui qualquer relação: é a forma com que o compositor decidiu recriar aquele espírito de época. Daí a sugestão “apocalíptica” da primeira parte da cantata (a mais conhecida), “O Fortuna”, que virou mania como trilha em cinema e tevê. A verdade é que, se a poesia resistiu ao tempo, os trovadores não escreviam a melodia na pauta (já que guardavam ela na cabeça), ficando apenas as letras. Mais: mesmo sendo a versão mais popular, Orff não foi o único a musicar trechos do Códice de Beuren. Com efeito, ele foi quem menos utilizou qualquer notação musical relativa à procura de um “sugestivo” estilo da época.³

(³) http://www.rabisco.com.br/49/carmina.htm

Resumo da ópera, não é uma Ópera, é uma Cantata Cênica.

E por que isso? Porque não há uma encenação. Não há enrêdo, o que há é uma sucessão de canções, reunidas numa determinada ordem e que formam a Cantata.

O texto da Carmina Burana e respectiva tradução é o seguinte:¹

Fortuna Imperatrix Mundi
1. O Fortuna
2. Fortune plango vulnera
I. Primo vere
3. Veris leta facies
4. Omnia sol temperat
5. Ecce gratum
Uf dem anger
6. Tanz (instrumental)
7. Floret silva nobilis
8. Chramer, gip die varwe mir
9. Reie
10. Were diu werlt alle min
II. In Taberna
11. Estuans interius
12. Olim lacus colueram
13. Ego sum abbas
14. In taberna quando sumus
III. Cour d’amours
15. Amor volat undique
16. Dies, nox et omnia
17. Stetit puella
18. Circa mea pectora
19. Si puer cum puellula
20. Veni, veni, venias
21. In truitina
22. Tempus est iocundum
23. Dulcissime
Blanziflor et Helena
24. Ave formosissima
Fortuna Imperatrix Mundi
25. O Fortuna

Quando de sua execução, pelo menos nas apresentações a que assisti, a formação é de uma orquestra com um côro, normalmente situado na parte de trás do palco, com os solistas à frente. Outra que assisti, com menos cantores, os solistas se situavam dispersos, junto ao côro. Ainda uma outra vez, assisti a um filme onde a Cantata foi executada (parcialmente) numa espécie de palco circular, o côro ladeando o palco e olhando para o centro, os músicos sentados à frente dos cantores e o maestro praticamente no centro. O público sentava-se ao redor do palco, sob uma lona de um circo ou de uma tenda. Se alguém lembrar do nome do filme eu agradeço a colaboração.

Meus agradecimentos à Solange que me ajudou a ordenar meus conhecimentos, pesquisar e a publicar este pequeno texto sobre Carmina Burana.

Jacques

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