Cantiones profanæ cantoribus et choris cantandæ comitantibus instrumentis atque imaginibus magicis
Algo que se traduziria como "Canções Profanas para Solistas e Côros, acompanhadas de instrumentos complementadas por imagens (cenas) mágicas". Outras traduções livres também são possíveis, mas o sentido não varia.
O material publicado em Internet é vasto. Seria dificil escrever algo de novo sobre o assunto. De um lado, meus conhecimentos são limitados demais para sintetizar idéias novas e de outro a quantidade e qualidade do material é tanta que é dificil criar sobre algo que conhecemos mas que outros já escreveram com muito mais propriedade.
Optei aqui, nessa breve introdução por citar três sites, todos com excelente material, para que a simples leitura sirva de introdução ao tema.
Aos que leram aqui, ontem, uma versão maior, fica o comentário de que preferi não transcrever trechos desses sites por não achar correto a mera reprodução de texto, mesmo porque, apesar de citar as fontes de origem, seus autores não foram contatados.
Ficam portanto aqui o que escrevi, de punho próprio e mais os links para os sites de origem e eventuais citações, devidamente creditadas.
Basicamente na origem a peça que veio dar origem a Carmina Burana, são escritos diversos, encontradas no início do século XIX, cerca de 200 poemas e canções medievais, encontrados na abadia de Benediktbeuern, na Bavária superior. Eram poemas dos monges e eruditos errantes — os goliardos —, em latim medieval; versos no médio alto alemão vernacular, e vestígios de frâncico. O doutor bavariano em dialetos, Johann Andreas Schmeller, publicou a coleção em 1847 sob o título de “ ”. Carl Orff, descendente de uma antiga família de eruditos e soldados de Munique, cedo ainda deparou-se com esse códex de poesia medieval. Ele arranjou alguns dos poemas em um happening — em “canções seculares (não-religiosas) para solistas e coros, acompanhados de instrumentos e imagens mágicas”. ¹
(¹) http://www.nautilus.com.br/~ensjo/cb/
Na realidade trata-se de textos , que na antiguidade eram cantadas por grupos de menestreis, trovadores, cantores de taverna e que serviam para divertir o povo. Porém, enquanto a melodia religiosa narrava passagens do ofício da Igreja, a lírica trovadoresca cantava o prazer da bebida, os excessos, a fugacidade do tempo e o amor. Esta temática residia e se exaltava tanto no cantar dos trovadores quando no folclore do povo. E essa música ecoava nas ruas, nas festas, nas tavernas. E quem cantava a fanfarronice da vida eram os aldeões, boêmios errantes, ciganos, enfim, gente como todo mundo, e que vivia para amar, jogar, beber e contar relatos de histórias picantes e muita sátira à corte e ao clero.²
(²) http://www.spectrumgothic.com.br/musica/carmina.htm
Nada restou da melodia dessas canções. A tradição oral era o que vogava naquela época. As melodias passavam de grupo em grupo, de cidade em cidade e de companhia em companhia. Não se anotava a música, daí não existir vestígios de suas encenações originais. Cada grupo ou companhia utlizava-se de fórmulas próprias, unindo letras comuns a melodias diversas ou vice-versa.
As canções mais populares, ou podemos dizer, varias dessas canções populares foram compiladas e tornaram-se base do material utilizado por Orf em sua Carmina Burana. É lógico que nem todas as que estavam no mesmo grupo e que foram resgatadas foram orquestradas. Algumas se tornaram mais populares ainda pelo fato de terem música que cairam no gosto de seus ouvintes, quer pela qualidade quer pela melodia fácil . É o caso do apelo em coral à Deusa da Fortuna (“O Fortuna, velut luna”) .¹
Contudo, uma coisa deve ser ressaltada: a música do autor alemão não tem relação direta com a poesia popular da Idade Média. Quer dizer, trata-se de um irrefutável anacronismo. Mesmo que ela dê a impressão de ser de época, não possui qualquer relação: é a forma com que o compositor decidiu recriar aquele espírito de época. Daí a sugestão “apocalíptica” da primeira parte da cantata (a mais conhecida), “O Fortuna”, que virou mania como trilha em cinema e tevê. A verdade é que, se a poesia resistiu ao tempo, os trovadores não escreviam a melodia na pauta (já que guardavam ela na cabeça), ficando apenas as letras. Mais: mesmo sendo a versão mais popular, Orff não foi o único a musicar trechos do Códice de Beuren. Com efeito, ele foi quem menos utilizou qualquer notação musical relativa à procura de um “sugestivo” estilo da época.³
(³) http://www.rabisco.com.br/49/carmina.htm
Resumo da ópera, não é uma Ópera, é uma Cantata Cênica.
E por que isso? Porque não há uma encenação. Não há enrêdo, o que há é uma sucessão de canções, reunidas numa determinada ordem e que formam a Cantata.
O texto da Carmina Burana e respectiva tradução é o seguinte:¹
- Fortuna Imperatrix Mundi
- 1. O Fortuna
- 2. Fortune plango vulnera
- I. Primo vere
- 3. Veris leta facies
- 4. Omnia sol temperat
- 5. Ecce gratum
- Uf dem anger
- 6. Tanz (instrumental)
- 7. Floret silva nobilis
- 8. Chramer, gip die varwe mir
- 9. Reie
- 10. Were diu werlt alle min
- II. In Taberna
- 11. Estuans interius
- 12. Olim lacus colueram
- 13. Ego sum abbas
- 14. In taberna quando sumus
- III. Cour d’amours
- 15. Amor volat undique
- 16. Dies, nox et omnia
- 17. Stetit puella
- 18. Circa mea pectora
- 19. Si puer cum puellula
- 20. Veni, veni, venias
- 21. In truitina
- 22. Tempus est iocundum
- 23. Dulcissime
- Blanziflor et Helena
- 24. Ave formosissima
- Fortuna Imperatrix Mundi
- 25. O Fortuna
Quando de sua execução, pelo menos nas apresentações a que assisti, a formação é de uma orquestra com um côro, normalmente situado na parte de trás do palco, com os solistas à frente. Outra que assisti, com menos cantores, os solistas se situavam dispersos, junto ao côro. Ainda uma outra vez, assisti a um filme onde a Cantata foi executada (parcialmente) numa espécie de palco circular, o côro ladeando o palco e olhando para o centro, os músicos sentados à frente dos cantores e o maestro praticamente no centro. O público sentava-se ao redor do palco, sob uma lona de um circo ou de uma tenda. Se alguém lembrar do nome do filme eu agradeço a colaboração.
Meus agradecimentos à Solange que me ajudou a ordenar meus conhecimentos, pesquisar e a publicar este pequeno texto sobre Carmina Burana.
Jacques
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