quarta-feira, agosto 31, 2005

Um adendo sobre a "Os Pescadores de Pérolas" (artigo de 29/04/2005)



Em atenção ao comentário da minha amiga mariah1979 , no artigo que ontem escrevi, e relendo o que foi escrito, talvez fosse prudente me estender um pouco mais sobre o assunto.

Ontem escrevi:

"A ópera, no entanto, pecava por não se encaixar dentro dos rígidos padrões dos parisienses. Não era uma grand-opéra e muito menos uma opéra-comique. Pecado mortal!"

Talvez eu não tenha sido feliz na colocação. Uma coisa era a opinião rígida do público operático da época e outra é a opinião que temos hoje da obra de Bizet.

Sem dúvida "Les Pêcheurs des Perles" é uma belíssima ópera. Se fez menos sucesso do que "Carmen" deve-se creditar isto, menos às qualidades desta e, mais ao fato de se tratar de uma ópera feita por um jovem de 24 anos, que, compreensivelmente, amadureceu e que tem o seu nome entre os grandes compositores daquela época.

Esse fenômeno se repete com a maioria dos compositores, as primeiras obras carecem do amadurecimento mas, são largamente compensadas pela ousadia, que é característica da juventude.

De Bizet pode-se dizer, colheu um "fracasso" previsível, pois ousou enfrentar "a mais culta platéia do mundo", sem dúvida, o tempo encarregou-se de colocar sua obra no patamar merecido, o de uma das mais belas óperas do mundo.

Se falhas existem no libreto, não se deve responsabilizar Bizet. A consistência da música é inegável, Bizet é um grande compositor.

A bem da verdade, os libretos são, na maioria dos casos, o ponto falho de muitas óperas. É como nos filmes e no teatro de hoje, uma história de centenas de páginas tem que ser condensada em dois ou três atos, em duas horas mais ou menos. Impossível ser fiel à obra literária. São adaptações que requerem árduo trabalho e que raramente não desfiguram o texto original.

Aqui não foi bem o caso, afinal, ao que parece, o libreto foi escrito para a ópera, não era uma adaptação. Um de seus autores, Cormon, reconheceu que o libreto não fez justiça ao nível da música composta por Bizet. Ao menos ele foi humilde.

Se tiverem oportunidade de assistí-la não percam. Tenho certeza que não se arrependerão.

Jacques

"Je crois entendre encore" - O Pescador de Pérolas (artigo de 28/04/2005)



Pois é, quando pensei que ainda demoraria um tempo para voltar ao nosso já conhecido Georges Bizet, acabo de ler um artigo publicado num programa do New York City Opera, que no sábado dia 9 de Abril encenou a "Carmen" do mesmo Bizet.

Quem me presenteou o programa sabia que eu iria ler de capa a capa. E não errou, li mesmo!

Há por lá um artigo muito bem escrito, por Michel Phillip Davis, Diretor de Cena Residente da California Opera Association, em cujas palavras me apoiei para redigir essas linhas.

Se, por um acaso, pudessemos nos transportar para o Thêàtre Lyrique de Paris, na noite de 30 de Setembro de 1863, estaríamos alí para assistir a première da primeira ópera de um jovem compositor de 24 anos que estava a ponto de testar a paciência da culta platéia, navegando por águas perigosas, desafiando a tradição do mundo da ópera francesa de então.

Georges Bizet, ainda viveria por mais 12 anos e ainda escreveria a sua grande ópera Carmen, que seria reconhecida como sua obra prima. No entanto veio a falecer logo a seguir e não pôde acompanhar o sucesso que granjearia com essa obra.

Os compositores de ópera desta época deveriam seguir muito rigorosamente ao código imposto pela sociedade de então. Havia caprichos, maneirismos, arrogâncias, preconceitos de toda espécie ditadas pelos diretores da Opéra , pelos críticos e pelos espectadores. Havia mais do que isso, havia uma ordem estabelecida. Essa ordem impunha uma censura a toda e qualquer manifestação que viesse a se opor a essa tradição.

Do mais alto funcionário do Governo até o mais simples dos presentes naquela audição, todos sabiam que havia em Paris, óperas que se encaixavam em dois tipos. Ou era uma grand-opéra (ópera muito elaborada e sem dialogos falados) ou era uma opéra-comique, que era uma ópera mais leve, de viéz cômico ou semi-cômico, normalmente com um final feliz e que continha diálogos que eram falados e não cantados.

Naquela época Paris era o centro do mundo, não apenas para os compositores franceses mas para todos os compositores. Rossini, italiano, Meyerbeer, alemão, Wagner, alemão e Verdi, italiano, gravitavam ao redor de Paris. Já falei aqui da Don Carlos de Verdi que na versão em francês foi acrescida de um enorme balé que foi composto especialmente para ser exibida em Paris.

Léon Carvalho, Monsieur Directeur Général do Thêàtre Lyrique, encomendou Le Pêcheurs des Perles ao custo de 100.000 francos, pagos por subsídios governamentais, a Bizet, um jovem promissor, de apenas 24 anos e a Eugène Cormon (pseudônimo de Pierre-Etienne Piestre) e Michel Carré, os libretistas.

O libreto deixou a desejar, Cormon chegou a afirmar, que se soubessem que Bizet era tão bem dotado como compositor, jamais teriam lhe entregue "cet ours infâme" (algo como, " esse urso miserável, infame").

O triângulo central da ópera gira entre dois pescadores de pérolas, Nadir e Zurga, ambos apaixonados por uma casta sacerdotisa, Leila. Tudo isso ambientado em um local longínquo, o Sri Lanka, que era terra conhecida por ninguém (provávelmente) da platéia. E por poucos em Paris, certamente.

A trama era urdida em fatos totalmente equivocados e politicamente incorretos, rituais religiosos incongruentes, juramentos sem sentido, mesmo para aquela sociedade do século XIX, que se intitulava, a mais instruida do mundo.

Mas a música convencia. Já falamos muito aqui da ária "Au fond du temple saint", um dos grandes duetos de toda história da ópera. O dueto tenor-barítono foi um dos preferidos de todos os grandes cantores. Caruso e Ancona, Bjoerling e Merrill, Domingo e Milnes, foram algumas duplas que celebrizaram a ária. Esse tema adeja por toda a ópera e é usada para relembrar a amizade entre Nadir e Zurga, separados e unidos pelo amor à mesma mulher. Quando o tema é ouvido no final da ópera, antes que Zurga faça um último sacrifício e permita que os já amantes, Leila e Nadir, possam fugir juntos, o efeito é de arrepiar.

Outro ponto alto da ópera é a barcarola "Je crois entendre encore", essa ária foi escrita com uma linha melódica que já havia aparecido na Sinfonia em Dó, de 1855 do próprio Bizet. Isso era comum, aproveitar-se de pedaços de obras anteriores ou retrabalhar alguns trechos de outros trabalhos, enfim, era aceitável copiar-se a sí mesmo. Essa ária recapitula e canta a primeira visão de Nadir a Leila e é uma das árias mais sublimes que já foram escritas. Caruso e Alagna estão entre alguns dos cantores que elegeram esta ária como uma de suas favoritas.

A ópera, no entanto, pecava por não se encaixar dentro dos rígidos padrões dos parisienses. Não era uma grand-opéra e muito menos uma opéra-comique. Pecado mortal!

A platéia não reagiu...

O resultado era previsível, Bizet foi execrado. Apesar das qualidades individuais da ópera, Paris ficou estarrecida. A crítica foi impiedosa.

Até quem saiu em defesa de Bizet foi espezinhado. Berlioz, o único crítico que lhe foi favorável, foi vaiado alguns meses depois, no mesmo palco doThêàtre Lyrique, quando apresentou a Segunda Parte de sua titânica Les Troyens. Seu pecado, defender Bizet e reconhecer a qualidade de sua obra, Les Pêcheurs des Perles.

Ninguém mais deu apoio a Bizet. Berlioz, irônicamente, apesar das vaias recebidas, sucedeu a Pescadores de Pérolas e tirou desta, qualquer chance de reapresentação.

Nunca mais Bizet ouviu a sua obra. Ela não mais foi reapresentada nos restantes doze anos de sua curta vida. No entanto, a melodia d´"Au fond du temple saint", foi cantada com um texto denominado "Pie Jesu" em seu funeral em 1875...

Morre Bizet e renasce, póstumamente à sua obra prima, Carmen, para revelar ao mundo a beleza de seu trabalho anterior, Les Pêcheurs des Perles.

Pode-se ouvir a ária "Je crois entendre encore" aqui, (o link não está mais no ar, infelizmente) por exemplo.

Aos que apreciam ler enquanto ouvem a ária, transcrevo abaixo o seu texto:

Je crois entendre encore

Caché sous les palmiers

Sa voix tendre et sonore

Comme un chant de ramiers.

Oh nuit enchanteresse

Divin ravissement

Oh souvenir charmant,

Folle ivresse, doux rêve!



Aux clartés des étoiles

Je crois encor la voir

Entr'ouvrir ses longs voiles

Aux vents tièdes du soir.

Oh nuit enchanteresse

Divin ravissement

Oh souvenir charmant

Folle ivresse, doux rêve!



Charmant Souvenir!

Charmant Souvenir!

Espero que também gostem.

Jacques

"Au fond du temple saint" - tradução livre para o português (republicação)

Segue abaixo a tradução livre da ária, em português

Ao fundo do templo sagrado


NADIR
Ao fundo do templo sagrado
Ladeado de flores e de ouro,
Aparece uma mulher!
Eu creio ainda a ver!

ZURGA
Aparece uma mulher!
Eu creio ainda a ver!

NADIR
A multidão prosternada
Olha para ela, espantada,
E murmura em voz baixa:
Vejam, é a deusa!
Que na sombra se veste
E para nós estende os braços!

ZURGA
O seu véu se levanta!
Ó visão! Ó sonho!
A multidão se ajoelha!

NADIR e ZURGA
Sim, é ela!
É a deusa mais charmosa e mais
Bela!
Sim, é ela!
É a deusa que desce entre nós!
Seu véu se levanta e a multidão
Ajoelha-se!

NADIR
Mas, através da multidão
Ela abre uma passagem!

ZURGA
Seu longo véu já
Nos oculta seu rosto!

NADIR
Meu olhar, que pena!
A procura em vão!

ZURGA
Ela se foi!

NADIR
Ela se foi!
Mas dentro de mim de repente
Que estranho ardor se acendeu!

ZURGA
Que novo fogo me consome!

NADIR
Tua mão repele minha mão!

ZURGA
Tua mão repele minha mão!

NADIR
De nossos corações o amor pulsa
E nos torna inimigos!

ZURGA
Não, que nada nos separa!

NADIR
Não, nada!

ZURGA e NADIR
Juremos ficar amigos!
Ó sim, juremos ficar amigos!
Sim, é ela! É a deusa!
Que hoje vem nos unir,
E fiel à minha promessa,
Como um irmão, eu quero cultivar!
É ela, é a deusa
Que hoje vem nos unir!
Sim, partilhemos este (mesmo) arranjo,
(Que) Sejamos unidos até a morte!


Compartilhem comigo esta pequena obra-prima!

Jacques

terça-feira, agosto 30, 2005

O Pescador de Pérolas - Bizet (artigo de 14/04/2005)

Nos próximos dias 2, 4, 6, 8 e 10 de Setembro, o Teatro Municipal de São Paulo vai exibir a ópera O Pescador de Pérolas de Bizet. Aproveitando o ensejo, coloco aqui uma cópia de três artigos que foram por mim escritos e aqui publicados, respectivamente, em 14, 28 e 29 de Abril deste ano.

Assim o faço, pois, além de ser uma das minhas óperas favoritas, pela qualidade da música, a montagem que veremos é uma remontagem desta mesma ópera, encenada aqui, primeiro no Teatro Alfa e posteriormente no próprio Municipal há cerca de dez anos.

Estiver por lá comprando minhas entradas e posso afirmar que as mesmas, certamente esgotar-se-ão, já havia sido vendida quase que totalmente a estréia e a récita da quinta-feira subsequente, dia 8, a preços populares. Portanto, se puderem, não percam essa magnifica oportunidade.



Quando ia iniciar esse texto, pensei em colocar como pano de fundo uma ária dessa maravilhosa ópera.

Depois cheguei à conclusão de que uma música de fundo pode ou não ser agradável. Também pode ser conveniente ou inconveniente. Optei por colocar a primeira página da partitura de uma das árias mais puras que conheço, Au fond du temple saint, da ópera Les Pêcheurs de Perles.

Bizet viveu muito pouco tempo. Morreu com 36 anos. Sem dúvida sua ópera mais famosa foi Carmen.

Bizet tinha 25 anos quando escreveu essa pequena obra prima, Les Pêcheurs des Perles, a história é singela.

Trata-se da história do amor de Zurga, o chefe dos pescadores de pérolas, e seu amigo Nadir, também um pescador de pérolas, por uma sacerdotisa, Leila.

História mais simples impossível. Assim como é impossível na vida real, dois amigos apaixonados pela mesma mulher, consensualmente.

É lógico que não nos cabe aqui discutir essa relação dúbia entre personagens da trama da ópera. Assim como boa parte dos librettos de ópera, uma série de acontecimentos, e como são tratados tais acontecimentos, são próprios de um código, que se aplica tão somente às óperas, mesmo assim, isso varia de acordo com a época em que as óperas foram escritas. As histórias podem distanciar-se da realidade. por isso são óperas e, portanto, como tal devem ser tratadas.

Uma das curiosidades, entre outras, é o fato de, em algumas óperas, o "morto" continuar cantando após seu assassinato. Depois desse último canto, onde perdoa seu assassino, por exemplo, entre tantos outros motivos que justificam seu canto, tomba e se cala. Prometo que voltarei ao assunto. É um tema muito interessante.

A primeira apresentação da ópera foi no Théatre Lyrique de Paris em 1863, no dia 30 de Setembro.

O libretto, a quem cabem a autoria do texto que vou reproduzir abaixo, é de Michel Carret e Eugène Cormon.

Au fond du temple saint

NADIR
Au fond du temple saint
Paré de fleurs et d'or,
Une femme apparaît!
Je crois la voir encore!

ZURGA
Une femme apparaît!
Je crois la voir encore!

NADIR
La foule prosternée
La regarde, etonnée,
Et murmure tous bas:
Voyez, c'est la déesse!
Qui dans l'ombre se dresse
Et vers nous tend les bras!

ZURGA
Son voile se soulève!
Ô vision! ô rêve!
La foule est à genoux!

NADIR ET ZURGA
Oui, c'est elle!
C'est la déesse plus charmante et plus belle!
Oui, c'est elle!
C'est la déesse qui descend parmi nous!
Son voile se soulève et la foule est à genoux!

NADIR
Mais à travers la foule
Elle s'ouvre un passage!

ZURGA
Son long voile déjà
Nous cache son visage!

NADIR
Mon regard, hélas!
La cherche en vain!

ZURGA
Elle fuit!

NADIR
Elle fuit!
Mais dans mon âme soudain
Quelle étrange ardeur s'allume!

ZURGA
Quel feu nouveau me consume!

NADIR
Ta main repousse ma main!

ZURGA
Ta main repousse ma main!

NADIR
De nos cœurs l'amour s'empare
Et nous change en ennemis!

ZURGA
Non, que rien ne nous sépare!

NADIR
Non, rien!

ZURGA ET NADIR
Jurons de rester amis!
Oh oui, jurons de rester amis!
Oui, c'est elle! C'est la déesse!
En ce jour qui vient nous unir,
Et fidèle à ma promesse,
Comme un frère je veux te chérir!
C'est elle, c'est la déesse
Qui vient en ce jour nous unir!
Oui, partageons le même sort,
Soyons unis jusqu'à la mort!

Sei que provavelmente a maioria dos leitores não domina o francês. Uma tradução está a caminho. Certamente não será nem literariamente perfeita e nem fará justiça ao original, mas certamente é um texto bonito.

Também está em meus planos fornecer um link para que vocês possam apreciar a beleza deste trecho.

Jacques

sexta-feira, agosto 26, 2005

Hérodiade - Massenet - O libretto


Montserrat Caballé e José Carreras, em ‘Hérodiade’ (1990)

Olá!

Para os que gostam de acompanhar a execução da obra com o libretto, aqui vai o link para a obra Hérodiade de Jules Massenet.

Massenet cria, nesta peça, um clima de muita dramaticidade e a música é uma experiência muito impactante, forte. Bem ao estilo da ópera clássica francesa, esta obra não dispensa os tradicionais ballets que foram a marca registrada de toda uma era operística. Como não conheço a gravação, não posso garantir que seja uma versão com os ballets incluídos, em algumas gravações estes são omitidos. Nas gravações ao vivo isso acontece com uma relativa freqüência, dado o elevado custo de criação e da execução dessas peças além do tempo que isso leva na execução total da obra. Lembrem-se que é necessário ensaiar, vestir e, por vêzes, criar cenários especiais, o que encarece sobremaneira as produções.

Também é preciso levar-se em conta que as platéias evoluiram e dispender mais do que três horas (possívelmente) em um teatro pode ser desgastante. Apenas para exemplificar, tenho uma gravação de uma ópera de Verdi, Don Carlos, em francês, com os ballets, cuja execução dura aproximadamente 3 horas e 10 minutos. Numa récita ao vivo, alcançaria fácilmente um tempo bem superior a 4 horas.

Ainda não ouvi a obra toda, apenas alguns trechos, as gravações desta ópera (aliás, desta e de muitas outras) são difíceis de ser encontradas, mesmo nas lojas mais especializadas.

Boa audição!

Jacques

quarta-feira, agosto 24, 2005

MASSENET - Hérodiade


TEATRO DE ÓPERA - O mundo da lírica em obras completas
MASSENET - Hérodiade. Solistas: Cheryl Studer, Nadine Denize, Martine Olmeda, Ben Heppner, Thomas Hampson, Jose Van Dam. Coro e Orquestra do Capitole de Toulouse. Reg.: Michel Plasson.

Domingo às 15 horas, como de costume, a Radio Cultura FM de São Paulo levará ao ar a sua programação de ópera semanal. Nessa semana ouviremos Hérodiade de Jules Massenet.

Hérodiade

Compositor: Jules Massenet
Libretistas: Paul Milliet, 'Henri Grémont' (Georges Hartman) e Angelo Zanardini
Baseado em Hérodias, novela de Gustave Flaubert
Estréia: Théâtre de la Monnaie, Bruxelas, 19 de Dezambro de 1881

Personagens:

Jean (tenor)
Hérode (barítono)
Phanuel, o caldeu (baixo)
Vitellius, proconsul romano (barítono)
Un grand prêtre (Supremo Sacerdote) (segundo barítono)
Une voix (uma voz) (tenor)
Salomé (soprano)
Hérodiade (mezzo-soprano)
Une jeune babyloniènne (uma jovem babilônia) (soprano)
Coros

Sinopse:

Ato I

No exterior do palacio de Hérode (Herodes), uma disputa entre mercadores de diferentes seitas é quebrada por Phanuel. Phanuel encontra Salomé que veio a Jerusalem para encontrar a sua mãe; ao invés disso ela encontra e se enamora de Jean, o Batista. Phanuel e Salomé saem, Hérode, também enamorado por Salomé, entra. Sua mulher, Hérodiade, o segue, pedindo que Jean (João) seja punido por a haver insultado. Hérode sabe que Jean é popular e tenta a deter; enquanto eles discutem, Jean entra e novamente insulta Hérodiade; ela e Hérode escapam, Salomé entra. Ela se oferece a Jean, este a rejeita e a aconselha a procurar um amor mais espiritual.

Ato II

No palácio de Hérode, Phanuel tenta convencer Hérode a esquecer Salomé, à qual ele é obcecado. Os dois tramam uma revolução mas Phanuel discorda do plano de Hérode de matar Jean e outros homens santos; ele pondera que estes se tornarão mártires. Em frente às portas do palácio de Hérode, este está reunindo seu povo para uma revolução mas essa conclamação é interrompida pela chegada de Vitellius, o proconsul romano e seus soldados. Vitellius aplaca a multidão permitindo que o Supremo Sacerdote retorne ao Templo de Israel. Jean entra acompanhado de Salomé. Vitellius, alarmado pela sua popularidade, encarcera o profeta.

Ato III

Hérodiade vem à casa de Phanuel para procurar seu auxílio na vingança do rival de seu marido. Examinando as estrelas ele diz à rainha que apenas sua filha poderá a ajudar. Quando ele diz a ela que sua filha é Salomé, ela nega; Phanuel manda-a embora. No templo, Salomé declara novamente o seu amor a Jean e seu desejo de morrer com ele. Hérode planeja salvar Jean para fomentar a rebelião entre os judeus; ao entrar ele vê Salomé a quem declara seu amor. Ela o rejeita e ele trama a morte dela e de seu rival. O povo se entrega ao culto, enquanto isso os sacerdotes do templo apelam a Vitellius para condenar Jean por sua heresia; Vitellius passa a incumbência a Hérode pois Jean é um galileu. Hérode questiona Jean e está a ponto de salvá-lo pensando que o profeta seguirá seu plano de liberação, quando Salomé revela que o ama. Hérode, enraivecido, condena a ambos, eles são presos pelos guardas do templo.

Ato IV

Jean reza em sua cela, dizendo que não está com medo de morrer, mas é interrompido em seus pensamentos por Salomé. Ela entra e eles declaram o seu amor mútuo. Jean pede a Salomé que ela se salve mas esta está determinada a morrer com ele. No entanto, os guardas levam Jean para matá-lo e arrastam Salomé para o palácio onde Hérode e Vitellius presidem um tribunal. Salomé implora a Hérode e Hérodiade pela vida de Jean, no momento em que Hérode está disposto a aceder, o carrasco entra e mostra a sua espada manchada de sangue indicando que Jean já foi executado. Salomé saca uma adaga e tenta matar Hérodiade. Nesse instante a rainha lhe conta que é a sua mãe e, em desespero, Salomé se mata.

Jacques

terça-feira, agosto 23, 2005

Você já parou para pensar qual é aquela música daquele filme?

Quando eu era criança, muitos dos desenhos que passavam na televisão eram calcados em músicas, muitas delas clássicas. Muitos de vocês também já viram e ouviram esses desenhos animados e essas músicas.

Pela repetição, era inevitável, ficávamos com a música na cabeça e mesmo depois, ao ouvir a música associávamos ao respectivo desenho. É verdade que muitos desses desenhos são hoje peças de museu.

Há, no entanto, uma enorme quantidade de filmes que utiliza-se desse mesmo artifício quando quer passar determinadas mensagens. Na maioria dessas passagens, a música é tão sutil que escutamos e não identificamos a peça. De fato, muitas músicas transmitem exatamente a emoção que seus diretores desejam passar a nós, espectadores.

Para mim, a música que mais me marcou, é uma passagem no filme Philadelphia, uma ária cantada pela imortal Maria Callas, da ópera Andrea Chenier de Giordano, La Mamma Morta, quando Tom Hanks anda pela cena, com aquele soro pingando em suas veias, pendurado naquele suporte hospitalar, parecendo um pastor brandindo o seu cajado, lembram-se?

La mamma morta m'hanno
alla porta della stanza mia;
Moriva e mi salvava!
poi a notte alta
io con Bersi errava,
quando ad un tratto
un livido bagliore guizza
e rischiara innanzi a' passi miei
la cupa via!
Guardo!
Bruciava il loco di mia culla!
Cosi fui sola!
E intorno il nulla!
Fame e miseria!
Il bisogno, il periglio!
Caddi malata,
e Bersi, buona e pura,
di sua bellezza ha fatto un mercato,
un contratto per me!
Porto sventura a chi bene mi vuole!
Fu in quel dolore
che a me venne l'amor!
Voce piena d'armonia e dice:
"Vivi ancora! Io son la vita!
Ne' miei occhi e il tuo cielo!
Tu non sei sola!
Le lacrime tue io le raccolgo!
Io sto sul tuo cammino e ti sorreggo!
Sorridi e spera! Io son l'amore!
Tutto intorno e sangue e fango?
Io son divino! Io son l'oblio!
Io sono il dio che sovra il mondo
scendo da l'empireo, fa della terra
un ciel! Ah!
Io son l'amore, io son l'amor, l'amor"
E l'angelo si accosta, bacia,
e vi bacia la morte!
Corpo di moribonda e il corpo mio.
Prendilo dunque.
Io son gia morta cosa!


Um dos site que relaciona as peças musicais com os filmes em que foram executadas é o Classical and Opera Music used in Movies. Tenho certeza que muitos de vocês vão encontrar filmes e peças musicais que há muito gostariam de ter identificado. Há, sem dúvida, muitos outros.

Vale a pena pesquisar!

Jacques

quinta-feira, agosto 18, 2005

Maria Tudor - Carlos Gomes - Uma oportunidade

Em se tratando de uma ópera de autoria de um compositor brasileiro, raras são as oportunidades de escutá-las. Nosso indicado, La Cieca, colocou em seu site a obra de Carlos Gomes, numa gravação de 1998 em Sofia, Bulgaria

"Description: A 1998 live performance of Gomes’ opera MARIA TUDOR (which is based on an improbable play by dear Victor Hugo). The heroine is the Queen of England known to history as Bloody Mary. As depicted by Gomes, Maria is regal, highly conflicted and given to sudden plunges into open chest voice. All that plunging seems to suit to a tee our Maria, soprano Elaine Coehlo, who is the star of this 1998 performance from Sofia, Bulgaria."

Mais:

"Maria Tudor (Elaine Coehlo) is regal, highly conflicted and given to sudden plunges into open chest voice. It's one of those "I love him, but, alas, I am such a a queen" stories so beloved of Bette Davis fans. This queen is in love with a hunky aristocrat named Fabiano Fabiani (Kostadin Andreev), but he's been sniffing around a local peasant girl named Giovanna (Elena Chavdarova-Isa). Fabiano's extracurricular nooky arouses the suspicions of Giovanna's guardian Gilberto (Svetozar Ranguelov) and the scheming Spanish ambassador Don Gil (Franco Pomponi) -- and you can bet that the queen will be furious!"

Aos que apreciam o gênero da ópera, aos brasileiros que gostam de conhecer e ver compatriotas sendo executados longe de casa e aos curiosos de plantão, não percam a oportunidade.

Cada ato está em capítulo separado, o que facilita a escuta. Acessem o site Unnatural Acts of Opera e escutem essa sensacional gravação.

Obs. Elaine Coelho e não como La Cieca colocou, Coehlo, óbvio.

  • Ópera em quatro atos. Libreto de Emilio Praga extraído do drama de mesmo título de Victor Hugo. Estréia a 27 de março de 1879 no Teatro Alla Scala de Milão, Itália.

  • Resumo: A ação transcorre no século XVI, na Inglaterra, e gira em torno da rainha Maria Tudor, filha de Henrique VIII. A rainha mantém uma relação amorosa com o italiano Fabiano Fabiani, acintosamente desprezado pela corte inglesa. A ópera descreve a história dessa soberana que esbanjava o dinheiro do reino e nutria profundo desprezo pelo povo. Em meio às suas festas e orgias Maria Tudor protege o amante, que por sua vez a trai com uma jovem do povo, Giovanna. Esta fora recolhida e educada por um operário cinzelador, Gilberto, que se propõe a casar com ela. Fabiano, no entanto, seduz a jovem rapariga por saber que ela é herdeira dos Talbot. Gilberto conta a Maria Tudor a infidelidade de Fabiano e ambos tramam a morte deste. Todavia, a rainha ainda ama seu "favorito". Na última hora, ela cumpre o pacto que fizera com Gilberto, na tentativa deseperada de reaver Fabiano. Todavia, desta feita, sucumbe à traição de seu mais fiel amigo - o embaixador da Espanha junto à corte: D. Gil de Tarragona.Fabiano é executado ante o desespero da soberana.
Jacques

quarta-feira, agosto 17, 2005

Don Pasquale - Gaetano Donizetti


Don Pasquale é uma das principais óperas cômicas do século XIX e uma obra-prima de Donizetti, ao lado de Lucia di Lammermoor. Trata-se de um drama buffo, com libreto de Giovanni Ruffini e Gaetano Donizetti, a partir do libreto de Angelo Anelli para a ópera de Stefano Pavesi, Ser Marcantonio (1810). Ambientada em Roma, passa-se em meados da virada do século XIX/XX.

Donizetti ganhou renome e reputação pela versatilidade: foi autor tanto de obras-primas dramáticas (sérias) como Lucia di Lammermoor e Maria Stuarda – pontos culminantes do romantismo musical -, quanto de comédias desbragadas, como é o caso de L'Elisir d'Amore e Don Pasquale.

Os tipos criados em Don Pasquale excedem a simples caracterização estereotipada dos personagens da comédia clássica. As melodias escritas por Donizetti parecem descrever precisamente as emoções das personagens: a astúcia e dissimulação de Norina/Sofrônia, a ingenuidade de Pasquale, o cândido lirismo do herói-comum Ernesto e a esperteza e humor do Dr. Malatesta.

A ópera é extremamente veloz na condução da trama, reservando surpresas e qüiproquós a cada momento, até a hilária conclusão do terceiro ato, onde Don Pasquale se percebe vítima de um embuste cômico. Reúne todos os ingredientes da commedia "dell'arte", mas trabalhados com um perfil de composição dramático, caracteristicamente romântico.

Ato I

Primeiro Quadro
Estamos na casa de Don Pasquale, velhusco celibatário, rico, educado e de bom coração. Ele espera por seu amigo Malatesta, conhecido por ser um “faz-tudo”.
Don Pasquale quer casar seu sobrinho Ernesto com uma jovem de sua predileção mas o rapaz ama Norina, uma jovem, bela e afetuosa viuvinha e espera apenas a aquiescência do velho para casar, já que depende do dinheiro do tio. Don Pasquale garante que, se Ernesto não casar com quem ele quer, será deserdado e posto fora de casa e ele mesmo, Don Pasquale, buscará uma noiva e se casará.

Malatesta é então, encarregado por Don Pasquale de conseguir uma noiva. Ele diz conhecer uma, bela como um anjo e muito recatada e obediente: é sua própria irmã. É tudo que Don Pasquale deseja e já sente um fogo insólito que rejuvenesce. Sabedor da decisão do tio, Ernesto sente que perderá Norina, seu sonho, suave e casto e fica desolado.

Segundo Quadro
Na casa de Norina. Ela está lendo romances e comenta também ela saber a arte de se fazer amar. Malatesta avisa-a do que está acontecendo e promete ajudá-la no casamento com Ernesto, mas ela terá que fazer o que ele mandar e a primeira coisa, é tornar-se a noiva prometida para Don Pasquale. Ela deve simular ser uma moça casta, meiga, trabalhadora, um verdadeiro anjo de candura. Entre risadas os dois acertam como irão proceder

Ato II

Casa de Don Pasquale. Sozinho, Ernesto lamenta sua triste sorte. Perderá a herança, o abrigo da casa e pior: perderá Norina, já que não terá dinheiro para casar. Talvez o melhor seja buscar terras distantes e augurar felicidades para sua amada. Ele sai.

Don Pasquale chega e espera por Malatesta que chega em seguida trazendo Norina que vem com o rosto coberto por um véu. Ela se mostra receosa, como uma recém saida de um convento. Don Pasquale está encantado, enquanto entre si, Norina e Malatesta morrem de dar risadas. Ela diz não gostar de teatros, de compras e nem de festas. Gosta mesmo de ficar sossegada em casa e diz chamar-se Sofrônia. Quando ela tira o véu, Don Pasquale quase desmaia diante da beleza da jovem e quer se casar logo. Que Malatesta vá buscar o tabelião, mas este já está na antesala, tudo de acordo com o plano.

O tabelião entra. Na verdade, é um criado bem pago por Malatesta e faz o falso ritual do casamento de Sofrônia com Don Pasquale. Ernesto chega e cria logo um embaraço, mas o tio explica que como ele não se casara com sua predileta, agora ele mesmo se casava com aquela bela menina. Ernesto fica boquiaberto ao dar de cara com Norina mas, Malatesta chama-o de lado e explica o que estão fazendo e o próprio Ernesto assina o contrato de casamento como testemunha.

Terminada a cerimônia, Ernesto dá uma sonora gargalhada e Don Pasquale expulsa-o de casa. Norina toma a frente e impede-o, por ser um gesto rude impróprio no seu novo marido e exige que Ernesto fique. E aí começa a tomar uma série de atitudes que infernizam a vida do pobre velhote, que jamais imaginara que sua mulher poderia ser assim: ditatorial, gastadeira, festiva e pouco amorosa com ele.

ATO III

Primeiro Quadro
Na mesma sala da casa de Don Pasquale. Por todos os lados estão vários pacotes das muitas compras que Sofrônia fizera e vários cabelereiros, modistas e inúmeros criados não param de entrar e sair. Don Pasquale está sentado ao lado, desolado com tudo aquilo que está lhe custando uma fábula de dinheiro. E Norina avisa que irá ao teatro e em meio à discussão, ela dá-lhe uma leve bofetada, embora arrependida. É demais para o velhote que logo avisa que pedirá divórcio e pior: ele encontra um bilhete falso e marotamente deixado à sua vista, onde alguém diz estar esperando a “adorada Sofrônia naquela noite”.

Ao chegar Malatesta, Don Pasquale arrasado, explica-lhe o que está acontecendo e se propõem a ir surpreender Sofrônia e seu misterioso admirador. Provada a traição, ele pode mandar a mulher embora.

Segundo Quadro
Árvores em um jardim. Ouve-se a voz de Ernesto cantando uma serenata e, logo em seguida, surge Norina, trocando belas frases de amor. Malatesta e Don Pasquale chegam e o velhote põe a lanterna no rosto de Norina que diz estar apenas passeando, posto que Ernesto se escondera.
O velho está furibundo e Malatesta diz a Sofrônia que ela deverá sair da casa de Don Pasquale, porque no dia seguinte, já se terá uma nova esposa naquela casa e que esta, irá mandar de fato.

Sofrônia finge espanto e pergunta com quem esta nova mulher se casará. “É Norina, que se casará com Ernesto!”, informa Malatesta. Don Pasquale mostra-se radiante por contrariar Sofrônia e por poder se livrar dela. Sofrônia diz opor-se ao casamento e só acreditará se de fato ele acontecer. Don pasquale diz para Ernesto que consente que ele se case com Norina e manda buscar sua noiva. Malatesta diz não ser preciso, já que ela está ali mesmo.

Don Pasquale está admirado e fica intrigado ao saber que Sofrônia é Norina. Malatesta explica que a farsa fora a única forma de mostrar ao amigo o grande perigo de casar-se com alguém mais jovem. Malatesta, Ernesto e Norina beijam o velhote, pedem-lhe perdão e ele, muito feliz por livrar-se do pesadelo, pede que Deus que os una de bom grado, com sua herança, natural.

Resumo da ópera por Edson Lima em junho 2001.
silved@uol.com.br


Jacques

quinta-feira, agosto 11, 2005

E falando em ópera

Olá!

O mundo da Internet continua a nos surpreender. Por mais que estejamos acostumados a aprender coisas novas, todos os dias, vez por outra somos surpreendidos com sites que estão por aí, há muito tempo, e não nos damos conta disso.

Minha nova mania são os Podcasts. Entra dia, sai dia e eu continuo a pesquisar sobre o assunto. Como ópera é dos meus gêneros favoritos, tenho pesquisado sobre os Podcasts relacionados à ópera.

Quando encontro um que mereça ser partilhado, fico feliz.

Já há uns dias estou "assuntando" sobre a minha indicação de hoje. Demorei para indicar porque queria saber se a coisa ia em frente. Explico, seu autor, La Cieca, não faz parte das pessoas que eu imaginaria como indicação, como poderão constatar, não faz o meu gênero. É como eu o chamaria em inglês, "peculiar".

Mas, é no seu site que estamos interessados, portanto vamos à parte boa. La Cieca, em seu site parterre box presents La Cieca, apresenta uma série de informações e impressões pessoais sobre o mundo da ópera. Não discuto aqui a figura de La Cieca, repito, não é alguém com quem me relacionaria.

Além do blog acima, onde ele escreve o seu dia-a dia, ele tem um site onde ele apresenta uma série de gravações de ópera, fixando-se em gravações "não comerciais", ao vivo, de óperas famosas e fixa-se nos papéis femininos para fazer seus comentários. O link, está do lado direito do seu blog, mas, para facilitar eu o transcrevo aqui: parterre box presents Unnatural Acts of Opera.

No site, onde peguei a indicação, está escrito:

Description:

parterre box, the queer opera zine, presents extraordinary opera performances, one act at a time. Hosted by La Cieca, cultural doyenne at parterre box.

Minha opinião, difícil de traduzir e fácil de entender. Tão logo entrem no site, tudo fica bem claro, comecem a ouvir cada um dos atos das óperas, sugiro que comecem do primeiro post, o mais antigo, e aos poucos passem a escutar os mais novos, para manter a seqüência em que foram gravados, La Cieca faz uma breve introdução de poucos minutos e a partir daí segue-se um ato inteiro dessas gravações antigas. Cada uma dessas gravações nos mostra uma época que, mesmo que queiramos, não podemos voltar no tempo. São gravações de trinta a cinqüenta anos, sem a parafernália eletrônica de que dispomos hoje em dia, que valem a pena serem ouvidas, algumas poderiam até ser chamadas de piratas, como o próprio La Cieca as qualifica no seu prólogo, mas valem pelo seu conteúdo histórico.

Depois de ouvir muitas, quase todas, estou atrasado apenas na ópera mais recente, acho que é uma boa indicação. O estilo "irreverente" de La Cieca, que me assustou e me chocou inicialmente, assim que ouvi seu primeiro Podcast, mostra que é uma pessoa sensível, diferente e peculiar, apenas isso.

Entre as óperas já analisadas e constam do site estão Norma de Bellini, com Monserrat Caballé, gravação de 1974, o terceiro ato da Die Walkuere, de 1951, La Gioconda de Ponchielli, datada de 1971, Il picolo Marat de Mascagni, de 1962 e Manon de Massenet, também com Monserrat Caballé datada de 1967.

Para escutar, basta salvar o arquivo (mp3) em seu HD e usar um dos programas de áudio a que já nos referimos, Windows Media Player, RealPlayer, Winamp ou iTunes, por exemplo.

Jacques

quarta-feira, agosto 10, 2005

Benjamin Britten - "Peter Grimes" (sinopse)

Próximo domingo, como de hábito, a Radio Cultura irradiará, às 15horas, de Benjamin BRITTEN - Peter Grimes. Ópera em três atos. Solistas: Peter Pears, Claire Watson, James Pease, David Kelly. Coro e Orquestra da Royal Opera House, Covent Garden. Reg.: Benjamim Britten.

Peter Grimes

Ópera em um prólogo, três atos e epílogo , libreto de Montagu Slater, com base em poema de George Crabble. Estréia em 7 de junho de 1945 em Saddler's Wells, Londres.

Personagens:

Peter Grimes, pescador (tenor)

John, seu aprendiz (papel mudo)

Ellen Orford, viúva, professora no povoado (soprano)

Capitão Balstrode , aposentado da marinha mercante (barítono)

Auntie (Titia), proprietária da taberna“O Javali” (contralto)

Suas duas “sobrinhas”, principais atrações do “Javali”, (sopranos)

Bob Boles, pescador metodista (tenor)

Swallow, advogado (baixo)

Sra. (Nabob) Sedley, viúva de um agente comercial da Companhia das Índias Orientais (mezzo-soprano)

Reverendo Horace Adams, o pastor (tenor)

Ned Keene, boticário e curandeiro (barítono)

Dr. Throp (papel mudo)

Hobson, o carvoeiro (baixo)

Aldeões e Pescadores (coro)

The Borough, aldeia de pescadores no litoral oriental da Inglaterra, por volta de 1830.

Prólogo

Reunidos em assembléia, os habitantes do povoado julgam o caso da morte, no mar, do aprendiz de Peter Grimes. Os aldeões suspeitam que foi Grimes o causador da morte do aprendiz e os ânimos se exaltam. Intimado a apresentar provas de sua inocência, Grimes repete o juramento enunciado por Swallow. Grimes relata então como enfrentou os rigores do mar revolto, o barco em que pescava foi desviado de sua rota por uma mudança de vento, os dois ficaram três dias sem água para beber e o menino acabou morrendo de frio.

Chegado o momento de confirmar o que aconteceu quando o acusado veio a dar a terra com a embarcação, Swallow e Grimes dirigem-se alternadamente a Ned Keene, ao pastor, a Bob Boles, a Auntie, a sra. Sedley e a Ellen Orford que confirmam o depoimento, à medida que seus nomes são chamados. O público se manifesta e o magistrado dá o seu veredicto: “Teu aprendiz morreu em circunstancias acidentais mas, esse é o tipo de coisa que as pessoas não esquecem”... Recomenda então a Grimes que daqui para frente tome como aprendiz um homem feito e não uma criança. Grimes tenta fazer-se ouvir, mas o tumulto é grande e Hobson, não conseguindo impor silêncio, manda a todos que se retirem.

Sozinha com Grimes, Ellen tenta consolá-lo.

Ato I

A transição do prólogo para o primeiro ato tem como cenário a praia, vendo-se o prédio da assembléia, a taberna "O Javali" e o pórtico da igreja.

Temos aqui um extenso coro com interrupções de Auntie, que abre a taberna ao início do dia, de Boles que protesta contra toda e qualquer forma de divertimento, de Balstrode, preocupado com o que o tempo reserva para a comunidade de pescadores, do pastor e da Sra. Sedley que se cumprimentam e de Ned Keene, que se diz ansioso para um encontro com uma das “sobrinhas” de Auntie esta mesma noite.

Enquanto isto, os pescadores, ajudados por suas mulheres, iniciam seu dia de trabalho, preparando as redes. Ouve-se ao longe a voz de Grimes que pede ajuda com seu barco. Ninguém parece disposto a ajudá-lo mas Balstrode e Keene acabam por ajudá-lo.

Keene diz a Grimes que lhe conseguiu um novo aprendiz, bastando que vá buscá-lo no asilo para pobres. Mas, quando Keene lhe fala a respeito, Hobson recusa-lhe a fornecer o transporte alegando que a carroça está ocupada. O coro apóia a recusa do carroceiro mas Ellen oferece-se para cuidar do rapaz e ele concorda em trazê-lo.Os protestos do coro vão num crescendo até que a professora toma uma atitude enérgica: “Que atire a primeira pedra aquele que não tem pecados!” Hobson cede aos apelos de Hellen. A sra. Sedley pergunta a Keene se já recebeu suas pílulas de láudano, ele responde que só as terá à noite, convidando-a para ir ao seu encontro na taberna.

Balstrode vê, ao longe, que foi içado o sinal de tempestade. Ele comenta o isolamento voluntário de Grimes, que mesmo durante a tempestade recusa-se a entrar na taberna, dando a entender que melhor seria para ele tornar-se caixeiro viajante para viver longe das maledicências da aldeia. Grimes retruca que se sente enraizado ali, fica no entanto, sensibilizado com a atenção e o respeito do velho capitão, narrando-lhe sua terrível experiência com o cadáver do aprendiz em alto mar. Pretende agora por cobro à tagarelice que o cercou com o único argumento que dão importância: o dinheiro. Sozinho, o pescador evoca, arrebatado, a paz de espírito de que poderia gozar se Ellen aceitasse ser sua mulher.

Ao cair da cortina, ouvimos pela primeira vez toda a violência da tempestade no interlúdio.

A segunda cena transcorre no interior do "Javali", onde a calma e a sensação de aconchego contrastam com as rajadas de vento e a chuva que entram cada vez que alguém abre a porta. Presença inesperada, a sra. Sedley explica que está esperando por Ned Keene.

Balstrode queixa-se do barulho que fazem as “sobrinhas”, sendo rechaçado por Auntie numa passagem semi-humorística. Bob Boles, meio embriagado, tenta cortejar uma das “sobrinhas”.

Grimes entra, a sra. Sedley desmaia, aterrorizada com a sua figura. Sem dar atenção ao que se passa em volta, o pescador solitário canta, introspectivo, os mistérios do céu e dos destinos humanos. Todos se mostram naturalmente consternados com o estado de espírito de Grimes mas Ned Keene salva a situação.

Ouve-se novamente o fragor da tempestade e Hobson entra com Ellen, acompanhados do novo aprendiz de Grimes, a ponte caiu, tiveram praticamente de nadar e estão totalmente molhados. Auntie oferece um lanche mas Grimes só pensa em partir dali com o aprendiz.

Ato II

Começa com um prelúdio em completo contraste com o que tivemos até aqui. É a manhã de domingo e todos caminham para a igreja. Ellen entra com John, o novo aprendiz. A cena transcorre contra o pano de fundo sonoro da música do serviço religioso que ouvimos intermitentemente vindas dos bastidores. Ellen fala afetuosamente ao rapaz da sua vida no asilo e de como o espera um destino melhor que o do seu antecessor. No decorrer da missa, Ellen descobre que o capote do rapaz está rasgado e que ele tem um ferimento no pescoço. Peter Grimes entra apressado e convoca o rapaz ao trabalho, respondendo rispidamente quando Ellen alega que é domingo, dia de repouso. Ellen suplica a Grimes que leve em consideração a idade do aprendiz. Grimes urra em desespero e a golpeia.

Grimes retira-se , empurrando a sua frente o rapaz enquanto Ellen volta chorando para sua casa. Auntie, Bob Boles e Ned Keene entoam um trio e os fiéis deixam a igreja. Alguns deles, entre eles a sra. Sedley, ouviram a altercação do lado de fora e murmuram indignados, mesmo sem saberem ao certo o que se passou. Balstrode tenta acalmar os ânimos. Swallow sai-se com uma banalidade contemporizadora mas Bob Boles excita a indignação dos demais exigindo de Ellen, que retorna para apanhar suas coisas, que explique o que aconteceu.

Ela tenta explicar como pretendia mudar a vida de Grimes mas todos já se voltaram também contra ela, agora indissociavelmente ligada, no espírito da comunidade, a Grimes e suas maldades, e, embora sua voz se eleve cada vez mais, na tentativa de fazer-se compreender. O vigário e Swallow mobilizam um grupo para investigar o que está acontecendo na cabana de Grimes, ignorando os protestos de Balstrode de que estão perdendo tempo. Convocados pelo tambor de Hobson, os homens marcham em direção à cabana.

À medida que as vozes vão morrendo à distancia. Ellen e as duas sobrinhas refletem sobre o seu relacionamento com os homens.

O interlúdio que liga a primeira à segunda cena do segundo ato é uma passacaglia que pode ser considerada o núcleo de toda a ópera.

Estamos na cabana de Peter Grimes. Grimes entoa um longo monólogo, reduzindo-se a participação do aprendiz a um simples grito.

Grimes compara, numa ária, o que sempre foi ao que sempre desejou ser com a ajuda de Ellen. Ouve-se aproximar um grupo que vem investigar o que se passa na cabana. A reação de Grimes é violenta, pensando que é em busca do aprendiz que vêm os intrusos, ele grita desafiadoramente que nada poderão fazer-lhe. Recomendando-lhe cautela, manda que desça pelo penhasco, volta-se ao perceber que seus perseguidores já se aproximam da porta e ouve o grito do rapaz, que escorrega e cai para a morte. Grimes sai em seu encalço.

O vigário entra cuidadosamente, seguido por Swallow, Keene e Balstrode. Nada encontrando, comentam a porta aberta para o precipício e a ordem que reina na cabana. Swallow resume a impressão geral de que o episódio deverá para por fim, de uma vez por todas, à maledicência dos aldeãos.

Ato III

Começa com um interlúdio “ao luar” de grande simplicidade e beleza. Ao subir a cortina, vemos o cenário do primeiro ato (a rua e a praia do povoado), desta vez à noite. Enquanto se dança na casa da assembléia, é constante o vaivém em direção à taberna. Aparece Swallow perseguindo uma das sobrinhas e entoando uma canção licenciosa. A segunda sobrinha se junta à primeira para melhor defenderem-se do ataque, as duas conseguem se livrar de Swallow que entra, irritado, na taberna. Com intenções semelhantes às do advogado, Ned Keene encaminha-se para o lugar onde as sobrinhas se esconderam mas é interceptado pela sra. Sedley que tenta demonstrar-lhe que Grimes é mesmo um assassino.

No escuro, a sra. Sedley rumina que o crime é um passatempo que lhe acalma os nervos. Ela ainda está meio escondida quando Ellen e Balstrode se aproximam, caminhando pela praia. Balstrode comenta que Grimes não é encontrado, embora seu barco esteja à vista no embarcadouro. Ellen, por sua vez, não poderia estar mais preocupada, pois o capitão encontrou, trazido pela maré, o pulôver que ela mesma tricotou para o aprendiz.

Ellen está desesperada mas Belstrode acredita que ainda é possível fazer alguma coisa por Grimes. A sra. Sedley dispõe agora do pretexto que buscava e dirige-se à porta do "Javali" em busca de Swallow. Auntie tenta interceptá-la, protestando que seus clientes vão ali em busca de paz, a sra. Sedley não arreda pé, afinal chega Swallow para saber o que está acontecendo. Ao ser informado que o barco de Grimes foi visto de volta, ele ordena, na qualidade de prefeito, que Hobson tome a frente de uma expedição para encontrar o pescador.

Ao subir a cortina, na segunda cena do ato, ouvimos os gritos dos participantes da expedição (“Peter Grimes”) e os alertas de uma buzina de cerração. Grimes entra, arrastando-se para uma longa cena de loucura, acompanhado apenas pelo coro, pelos bastidores e a buzina de cerração.

Ele balbucia coisas sobre sua casa, cantando trechos que lhe lembram as várias etapas da sua trágica história. Chegando na companhia de Balstrode, Ellen lhe diz que vieram levá-lo de novo de volta para casa, mas, Grimes, só a reconhece por uma vaga reminiscência sugerida pela música. Balstrode passa à fala comum, o coro e a buzina de cerração fazem silêncio pela primeira vez desde o interlúdio, para dizer-lhe que leve o seu barco para o alto mar e o afunde. Sai então com Peter, para ajudá-lo com o barco e retorna para levar Ellen embora.

Com extrema suavidade a música repete parte do prelúdio do primeiro ato enquanto os homens da expedição retornam da sua missão infrutífera. Já amanhece e o coro entoa a melodia do início do primeiro ato. Olhando por seu telescópio, Swallow confirma a informação da guarda costeira de que um barco acaba de afundar, mas ninguém parece interessado. Esquecidos da caçada humana, os aldeãos preparam-se para começar um novo dia.

Jacques

Adaptado do Kobbe, o livro completo da Ópera

sábado, agosto 06, 2005

OT (off topic) : Probabilidade zero!



Quem conhece alguma coisa de estatística sabe que, mesmo quando a probabilidade de um evento acontecer é nula, o "impotece aconssível"...

Ontem à noite, depois de uma semana muito pesada, eu resolvi dar uma olhada no site Google Earth.

Vai daí que eu localizei a minha casa, as avenidas principais de São Paulo e outros pontos de meu interesse. Lá pelo início da madrugada, sei lá porque, resolvi fazer o caminho da São Silvestre, aquela corrida de 15km. que encerra tradicionalmente o ano aqui em São Paulo.

É uma coisa que tenho saudades, afinal corri sete vezes essa corrida, fora as outras que fiz pelo mesmo percurso, ou quase, muitas vezes e em muitas ocasiões.

Comecei pela Paulista, desci a Consolação, virei à esquerda na Avenida Ipiranga e quase que continuei "correndo" quando algo me chamou a atenção. Salvei a foto no micro e faço questão de partilhar com vocês.

Na foto, a Avenida Ipiranga corta diagonalmente a foto, da esquerda para a direita, no alto, à direita está o Edifício Itália, à esquerda no início da Ipiranga está o Edifício do Hotel Hilton, à direita, em frente, com a sua forma ondulada característica, dá para identificar perfeitamente o Edifício Copan, projeto do meu arquiteto predileto, Oscar Niemeyer, a maior estrutura de concreto armado do país...

Aí aconteceu o imponderável, qual a probabilidade de um satélite fotografar um Zeppelin voando sobre a Avenida Ipiranga?

Zero!

Pois é! Zero...

A imagem não deixa dúvidas, é um Zeppelin...

Pasmem!

Visitem o site acima e poderão ter mais algumas surpresas, como é mesmo a casa do seu vizinho, aquele, que tem um muro de três metros de altura e que nunca cumprimenta seus vizinhos?

Vale a pena dar uma olhada no site acima, você vai se divertir!

Bom final de semana!

Jacques

sexta-feira, agosto 05, 2005

O libreto de Oberto


Já, há algum tempinho, falei que nossos avós, quando iam ao teatro, levavam ou compravam o libreto da ópera que iriam assistir.

Também falei a respeito do libreto que normalmente acompanha a gravação do Cd que adquirimos nas lojas.

Em tempos de modernidade, há vários sites na Internet que suprem essa nossa vontade de acompanhar os cantores com uma cópia eletrônica do mesmo libreto acima citado.

Não há muita ciência em achar um ou mais sites que disponibilizam o texto dos libretos. Uma busca no Google et voilà!

Oberto, de Verdi não é exceção. Há vários, uma questão de gosto, por exemplo:

Verdi: Oberto - libretto

Portale Giuseppe Verdi | Vita e Opere | Oberto conte di San Bonifacio

Há mais, questão de procurar. Cada um deles apresenta, com pequenas modificações cosméticas, o libreto de Oberto.

Uma das coisas que aprendi ao longo dessa minha viagem ao longo do mundo da ópera é que a vida desses privilegiados compositores é também motivo de grande interêsse no contexto de suas obras. Fica aqui como sugestão, caso tenham tempo, leiam também um pequeno resumo da vida de Verdi, personagem fascinante que magnetizou platéias ao longo de toda a sua vida e ainda mais depois de falecer. A vida desses compositores é um campo que ainda não arranhei, mas deixo como uma isca aos apreciadores da boa música. Conhecer a obra e a vida de um determinado compositor é uma experiência ímpar.

Mais, não há necessidade de estudar antes e ouvir depois, essa é uma experiência de vida, não há prazo para iniciar e não se esgota no decorrer do tempo. Voltaremos oportunamente ao assunto.

Jacques

quinta-feira, agosto 04, 2005

De "Oberto" e da humildade


Giuseppe Verdi

nasceu em Roncole: 9 ou 10 de Outubro de 1813
faleceu em Milão: 27 de Janeiro de 1901

Oberto, Conte di San Bonifacio
1ª ópera (26 anos)

Libreto: Tomestocle Solera de libreto de Antonio Piazza ("Rocester")

Estréia: (Milão) Teatro alla Scala, 17 Novembro 1839

Personagens

Oberto, conde de San Bonifácio (baixo)
Leonora, sua filha (soprano)
Cuniza, irmã de Ezzelino da Romano (mezzo-soprano)
Riccardo, conde de Salinguerra (tenor)
Imelda, confidente de Cuniza (mezzo-soprano)

Figurantes

Nobres e vassalos

Antecedentes

Giuseppe Verdi teria escrito 28 óperas. Dissemos "teria" propositadamente – já que o mistério da sua, ou das suas, primeiras óperas ainda está por decifrar. Diz-se que a 1ª ópera escrita por Verdi, aos 22 anos, terá sido "Rocester", recusada pelo Teatro de Parma, e cujo manuscrito se terá perdido.

Fala-se também duma 2ª ópera, "Lord Hamilton", com libreto de Antonio Piazza. E diz-se que terá sido com base neste libreto, profundamente modificado, que Temistocle Solera terá escrito um novo libreto para uma 3ª ópera que viria a ser apresentada no Scala no dia 17 de Novembro de 1839.

É com base nestas suposições que se deduz que "Oberto" não terá sido a 1ª mas sim a 3ª ópera de Giuseppe Verdi.

A verdade é que, quer tenham ou não existido "Rocester" e "Lord Hamilton", não restam dúvidas de que a 1ª ópera de Verdi levada à cena foi mesmo "Oberto", recebida com grande entusiasmo pelo público do Scala – por tal forma que o teatro lhe encomendou de imediato três novas óperas para serem apresentadas durante as temporadas seguintes.

Ato I


A ação passa-se em 1228 quando Oberto, Conde de San Bonifacio, derrotado por Ezzelino da Romano, se vê obrigado a ceder as suas terras aos Condes de Salinguerra, buscando exílio em Mântua, e deixando a filha, Leonora, em Verona à guarda duma velha tia. Leonora é seduzida por um jovem que se apresenta sob uma falsa identidade, e que depois a abandona. Esse jovem é o próprio conde Riccardo de Salinguerra que, depois dessa aventura amorosa, pede em casamento Cuniza, irmã de Ezzelino, e princesa do Castelo de Bassano. A ópera inicia-se precisamente no dia do casamento de Riccardo e de Cuniza, quando o conde é aclamado pelo povo ao dirigir-se para o castelo. Riccardo não esconde a sua felicidade, motivada não tanto pelas núpcias como pela ascendência ao trono. Leonora aproxima-se furtivamente do castelo queixando-se da traição de Riccardo. E é também para o castelo que se dirige Oberto, informado que fora pela irmã do que se passara, e decidido a punir a filha e o seu sedutor. Quer o Acaso que Oberto e Leonora se encontrem, e que a jovem obtenha o perdão do pai ao mostrar-se igualmente determinada a exigir uma reparação da ofensa. É assim que acabam por continuar juntos a caminhada.

Entretanto, no castelo, Cuniza recorda a sua infância feliz, ao mesmo tempo em que manifesta alguma angústia em relação ao casamento. Riccardo chega e tenta contagiá-la com a sua alegria. Pouco depois chegam Oberto e Leonora que pedem a Imelda, confidente de Cuniza, para serem recebidos pela princesa. Cuniza recebe-os, e, perante os fatos relatados, decide confirmar pessoalmente a veracidade das acusações. Depois de pedir a Oberto que se mantenha escondido num quarto próximo, Cuniza fica com Leonora para se confrontarem com o sedutor. Ao entrar na sala, e ao ver Leonora, Riccardo sente-se gelar. Mas rapidamente regressa à sua habitual falsidade acusando a jovem de o ter traído, e dizendo que fora ela quem o obrigara a afastar-se. Não resistindo a uma tal afronta, Oberto entra e desafia Riccardo para um duelo. Em face de debilidade das justificativas de Riccardo perante a indignação de Oberto e Leonora, Cuniza vê justificados os seus temores compreendendo a verdadeira natureza do seu noivo.

Ato II


O 2º ato inicia-se com Imelda informando a princesa de que Riccardo deseja falar-lhe. Não estando disposta a escutar mais falsas acusações, Cuniza está determinada a obrigar Riccardo a cumprir a jura feita a Leonora.

Entretanto Oberto enviara um mensageiro para desafiar Riccardo para um duelo, e espera-o impacientemente nos jardins do castelo. É surpreendido por alguns cavaleiros, acreditando ter sido traído pelo mensageiro. Apesar de saber estar sob a proteção da princesa, não correndo o risco de ser preso, Oberto continua dominado pela desconfiança, e pelo desejo de se vingar. Mal Riccardo aparece, volta a desafiá-lo para um duelo acabando por conseguir convencê-lo apesar da diferença de idades.

Cuniza e Leonora chegam no instante em que os dois se preparam para o confronto. Indignada, Cuniza acusa Riccardo de covardia, enquanto Leonora compreende que, apesar de todas as humilhações, ainda ama o traidor. Cuniza entende esse sentimento e, afastando generosamente a sua própria tristeza, ordena, diante de todos, que Riccardo repare o seu erro casando-se com Leonora. Oberto finge aceitar, mas, às escondidas, volta a desafiar Riccardo acusando-o de covardia se não fingir também aceitar essas núpcias reparadoras para, em seguida, se ir defrontar com ele nos bosques vizinhos. Esta cena de reconciliação não convence nenhum dos presentes, e, enquanto os cavaleiros comentam com ceticismo o que se passou, Riccardo mata Oberto em duelo fugindo em seguida presa dos remorsos.

Cuniza e Imelda inquietam-se com a ausência dos dois homens quando chega a notícia da morte de Oberto. Leonora fora procurar o pai que encontrara já sem consciência. Tendo desmaiado, é levada em braços pelos cavaleiros. Cuniza tenta em vão consolá-la, enquanto se debate com o sentimento de culpa e uma angústia inexplicável. É então que chega um mensageiro com uma carta de Riccardo: ele diz que fugiu, implora o perdão de Leonora enquanto lhe oferece de novo a sua mão e os seus bens. Profundamente magoada e desgostosa, Leonora diz que decidiu acabar os seus dias num convento. Depois... volta a desmaiar. A ópera termina com todos lamentando Leonora amargamente.

Jacques

PS: É com muita humildade que sinalizo que, pela primeira vez, não consta de nenhuma das minhas literaturas nenhuma sinopse a respeito desta ópera. Mesmo pesquisando a Internet, as informações foram escassas e não me satisfizeram. Dou mão à palmatória, o texto é resultado de muita leitura e pouco resultado. Mas, como sempre há um lado positivo, aprendo mais um pouco, aliás, bastante.
Apenas para comparação, há alguns bons anos, um professor e amigo meu, maestro, hoje famoso, nos falou em aula que não havia gravação da segunda ópera de Puccini, Edgard. Achando ser quase impossível, pus-me a pesquisar e depois de dias encontrei a citada gravação (Scotto, Bergonzi, Killebrew, Sardinero, Opera Orchestra of New York, Eve Queller) . Comprei duas, dei uma de presente ao meu grande amigo. O paralelo da lição, é muito provável que a minha dificuldade em pesquisar sobre esta primeira ópera de Verdi seja fácilmente resolvida por alguns de meus leitores, uma palavrinha chave que não descobri, um site que não percebi, enfim, um detalhe tolo que faria minha resenha um ato banal.
Normalmente as primeiras obras de qualquer compositor, mesmo os mais bem sucedidos, carecem da experiência, isso só virá a acontecer ao longo da vida e da obra. Normalmente são obras que, embora muito bem compostas, carecem de importância relativamente a trabalhos posteriores. Isso não as desmerece, ao contrário, são os degraus, necessários, que seus compositores trilham para ascender ao patamar da fama que fazem jus.
Dessa experiência tirei mais uma lição. Nunca diga, em termos de música, que não existe tal ou tal gravação ou informação. A verdade é que somos muitos limitados e eu, muito mais do que gostaria.
Mais um motivo para aprender!

quarta-feira, agosto 03, 2005

Afinando os instrumentos...


No próximo domingo, dia 07 de Agosto, às 15 horas, a Radio Cultura FM de São Paulo levará ao ar o seu já tradicional programa de ópera completa.

TEATRO DE ÓPERA - O mundo da lírica em obras completas VERDI - Oberto, conde de São Bonifácio. Solistas: Samuel Ramey, Maria Guleghina, Violeta Urmana, Stuart Neil e Sara Fulgoni. London Voices. Academy of Saint Martin-in-the-Fields. Reg.: Sir Neville Marriner.

Enquanto vamos preparando as tradicionais sinopses, podemos comentar aqui que Verdi foi um dos compositores mais prolíficos de sua época. Era muito querido pela multidão que acorria, em grande número, às suas apresentações e, um dos poucos, que recebeu em vida as homenagens que merecia pelo seu talento.

Dono de um estilo vigoroso, dominava a arte da composição e sabia, como poucos, prender a atenção da platéia com música de qualidade e com enrêdos fantásticos.

Garanto que gostarão da audição!

Jacques