domingo, março 13, 2005

Neruda: a réplica e a tréplica...

Ah o Rodrigo...

Sexta à noite recebi a resposta do meu post a respeito de Neruda e lê-lo na "lingua que deve ser lido, o espanhol":

03/11/2005 19:20
"ler prosa, por exemplo, em outra língua que nao a original - dependendo da traduçao - certamente nao faz muita diferença, a poesia por outro lado, tem uma construçao diferente que depende de como funciona a língua original, nao é nao? e apesar do português ser parecido ao español, as duas línguas sao bem diferentes.a minha pergunta nao é uma tentativa de exclusao cultural. se vc pode ler em español perfeito, se nao, muito bem, o importante é ler.no caso da poesia o ideal seria que todas as ediçoes fossem bilingües exatamente pra sentir como ela, a poesia, foi feita. forma e conteúdo sao indivisíveis."

Quase que simultâneamente eu mandei minha resposta:

03/11/2005 19:58
Rodrigo,
Se a cada palavra em um idioma correspondesse uma única palavra no outro idioma não precisaríamos de tradutores.
Fazer traduções comparadas, lado a lado, ficaria muito bom para estudos acadêmicos.
Infelizmente o custo comercial seria um limitativo de ordem maior.
Não é o caso de polemizar aqui sobre o ofício de tradução. Já li muitas críticas onde se louva o tradutor pela qualidade de seu trabalho. Também já li críticas sobre traduções falhas. Como em todo ofício existem os profissionais competentes e os incompetentes.
Adoro o Chile, fui muito bem recebido pelos chilenos, me sinto em minha casa quando lá estou. E com todo o respeito, discordo totalmente da sua afirmação de que só se "deve ler Neruda em espanhol".
Não posso analizar a qualidade dos tradutores de Neruda para o português pois, conforme disse acima, li quase tudo no original, mas do que li só posso dizer que gostei.
Realmente não tenho capacidade técnica para julgar a tradução deste ou daquele livro, seja prosa ou seja verso.
Se você conseguir me mostrar aqui e alí erros de tradução, poderíamos discutir caso a caso.
Desconheço sua formação, portanto não julgo o que não conheço, mas posso avaliar o que você escreveu em português. Permita-me manter a minha opinião que aqui expresso, não confiaria a você a tradução da minha cartilha.
Por favor, respeite essa minha opinião, mas acima de tudo, não subestime a capacidade alheia.

Não há de se negar uma boa parcela de razão em ler um livro no original. Um original é sempre um original. É lógico que isso se torna inviável com grande parte dos autores estrangeiros. Entre ler uma tradução e não ler o livro, não há escolha. Mesmo que arranhemos um idioma, o tradutor expressa muito melhor aquilo que achamos entender. Grandes capacidades se dedicam e se dedicaram ao ofício da tradução.

Acaba de me ocorrer um caso que, acredito, é do conhecimento de poucos. Quem é o autor d'As Minas do Rei Salomão? Eça de Queiroz, certo? Não! Errado! Eça de Queiroz traduziu o livro que é da autoria de Rider Haggard...

Quantos de nós já leram em classe êsse livro? Hoje em dia não poderia responder mas, antigamente, todos nós líamos As Minas do Rei Salomão "de" Eça de Queiroz... Uma tradução tão bem feita que era livro-texto em muitas escolas.

O que me fez reagir com tanta ênfase foi a virulência da provocação.

Não me atrevo responder em espanhol porque desconheço as nuances da língua. Acho que nesse ponto os argentinos são até mais sinceros, eu diria que beiram a humildade. Eles não falam espanhol, eles falam castelhano...

Quem quizer que os entenda, ponto.

Verdade que o Rodrigo ainda me ensinou a origem do nome Chile:

03/11/2005 19:41
"Jacques... antes do Poeta, os povos nativos de meu país chamavam sua terra de chili: o fim do mundo. tempos depois surgiu o "chile"."


Se bem me lembro, já tinha esquecido da explicação, de algum guia local eu já havia escutado a origem do nome do país. É curioso como o Chile tem essa cultura de que fica num fim de mundo desde épocas antigas. Interessante a noção de culturas ancestrais que lá habitaram. Como definir que alí era o extremo (Sul) de um continente?

E Neruda, grande poeta e escritor, realmente, em sua obra afirma e reafirma a mesma coisa. Com uma única diferença, Neruda é o grande intérprete moderno de uma nação. E Neruda conhecia geografia e história entre outras muitas sapiências. Seus ancestrais tinham uma cultura que era muito mais baseada na tradição oral do que conhecimentos científicos. Que meios e em que eles se baseavam para acharem que habitavam o fim do mundo? Interessante essa colocação...

Polêmicas à parte, viva Neruda!

Jacques

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