Ouvindo uma velha gravação de Turandot e reminiscências de alguém muito querido.
Para quem não leu, ontem foi dia de ouvir mais uma vez uma gravação da Turandot que eu tinha em casa.
Uma versão de Turandot com Borkh/Tebaldi/ Del Monaco, Orquestra e coro da Accademia di Santa Cecilia de Roma, regencia Alberto Erede. Gravada em 1955 e remasterizada em 1959 para stereo.
A qualidade não se compara com a técnica disponível nos dias de hoje. Dá até para sentir o que era ter de escutar em LPs. Uma ou outra falha, aqui e alí, denuncia onde era a hora de virar o disco. O áudio não é uniforme, às vezes muito alto, outras muito baixo. E assim vai...
Agora, o elenco é um espetáculo à parte. Como é bom reviver em disco a qualidade dos intérpretes.
Liù e Renata Tebaldi... O ponto alto! Os outros, todos muito bons!
Mais e mais me dá a impressão que não dá tempo de ouvir tudo, de ler tudo e de aprender tudo. Como somos limitados em nossa capacidade de perceber todas essa manifestações da arte e da beleza de nossa cultura. Aliás da beleza das coisas do dia-a-dia que passam por sob o nosso nariz e estamos muito ocupados para nos dar conta.
E finalmente, como somos efêmeros nessa nossa passagem por esta Terra.
Um disco, de 50 anos atrás nos faz viajar por uma obra de mais 80 anos atrás e assim começamos a perceber que temos que realizar algo de muito valor para legarmos a nossos descendentes.
Pode ser uma coisa pequena mas certamente é a nossa missão fazer acontecer.
Um dia já ter-se-ão passados cem anos de nosso nascimento... Já pensaram nisso?
Logo após o nascimento de meu neto Bruno, o mais velho, hoje com 4 anos, eu tive a oprtunidade de dizer algumas palavras aos que estavam presentes naquela comemoração.
Naquela ocasião, homenageei a lembrança de meu finado avô Simão, cujo centenário de nascimento tinha acabado de ocorrer, naquele ano e naquele mês. Imigrante que chegou a Brasil no início dos anos 20 e que venceu o desafio de vir sem nada e criar, aqui neste nosso Brasil um patrimônio que se mede muito mais em ítens não materiais e valores éticos e morais do que os meramente mensuráveis e amealháveis.
Em palavras não textuais, eu desejei ao meu neto, primeiro neto e primeiro a nascer no século 21 em nossa familia, que dalí a 100 anos um neto seu pudesse lembrar-se e citá-lo como exemplo a seu novo neto como eu lembrava do legado de meu avô Simão.
E, passados alguns anos, não posso deixar de mencionar aqui o grande legado conjunto de todos meus avós, dos quais três eu conheci e conviví.
Me lembro de um pequeninho trecho, que eu achava que naquele instante, lado a lado estavam meu avô e minha avó, Simão e Léa, sentados numa nuvenzinha rindo muito e aplaudindo tudo aquilo que de lá viam e abençoando o novo tataraneto...
Que assim seja!
Não é nas grandes realizações que reside essa nossa imortalidade, bastam apenas termos tomado determinadas e pequenas atitudes, termos tomado pequenas ações, pequenos gestos, para que nosso legado se perpetue.
Dá para perceber que este é um assunto que me preocupa.
Todos podemos deixar um mundo melhor para nossos descendentes, basta apenas começarmos a agir. Uma pequena ação, um pequeno gesto... Hoje!
Se não hoje, pelo menos lembrar de fazê-lo na primeira oportunidade. Nada de muito grande, apenas algo de bom! Imprimir a nossa marca na nossa existência é muito bom. Para nós em primeiro lugar, para aqueles que gostamos, para o próximo, para todos.
Acima de tudo, fazer o bem e fazê-lo bem.
Jacques
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