sexta-feira, março 11, 2005

Ouvindo uma velha gravação de Turandot e reminiscências de alguém muito querido.

Quem leu abaixo sobre os CDs da Turandot vai perdoar a repetição.

Para quem não leu, ontem foi dia de ouvir mais uma vez uma gravação da Turandot que eu tinha em casa.

Uma versão de Turandot com Borkh/Tebaldi/ Del Monaco, Orquestra e coro da Accademia di Santa Cecilia de Roma, regencia Alberto Erede. Gravada em 1955 e remasterizada em 1959 para stereo.

A qualidade não se compara com a técnica disponível nos dias de hoje. Dá até para sentir o que era ter de escutar em LPs. Uma ou outra falha, aqui e alí, denuncia onde era a hora de virar o disco. O áudio não é uniforme, às vezes muito alto, outras muito baixo. E assim vai...

Agora, o elenco é um espetáculo à parte. Como é bom reviver em disco a qualidade dos intérpretes.

Liù e Renata Tebaldi... O ponto alto! Os outros, todos muito bons!

Mais e mais me dá a impressão que não dá tempo de ouvir tudo, de ler tudo e de aprender tudo. Como somos limitados em nossa capacidade de perceber todas essa manifestações da arte e da beleza de nossa cultura. Aliás da beleza das coisas do dia-a-dia que passam por sob o nosso nariz e estamos muito ocupados para nos dar conta.

E finalmente, como somos efêmeros nessa nossa passagem por esta Terra.

Um disco, de 50 anos atrás nos faz viajar por uma obra de mais 80 anos atrás e assim começamos a perceber que temos que realizar algo de muito valor para legarmos a nossos descendentes.

Pode ser uma coisa pequena mas certamente é a nossa missão fazer acontecer.

Um dia já ter-se-ão passados cem anos de nosso nascimento... Já pensaram nisso?

Logo após o nascimento de meu neto Bruno, o mais velho, hoje com 4 anos, eu tive a oprtunidade de dizer algumas palavras aos que estavam presentes naquela comemoração.

Naquela ocasião, homenageei a lembrança de meu finado avô Simão, cujo centenário de nascimento tinha acabado de ocorrer, naquele ano e naquele mês. Imigrante que chegou a Brasil no início dos anos 20 e que venceu o desafio de vir sem nada e criar, aqui neste nosso Brasil um patrimônio que se mede muito mais em ítens não materiais e valores éticos e morais do que os meramente mensuráveis e amealháveis.

Em palavras não textuais, eu desejei ao meu neto, primeiro neto e primeiro a nascer no século 21 em nossa familia, que dalí a 100 anos um neto seu pudesse lembrar-se e citá-lo como exemplo a seu novo neto como eu lembrava do legado de meu avô Simão.

E, passados alguns anos, não posso deixar de mencionar aqui o grande legado conjunto de todos meus avós, dos quais três eu conheci e conviví.

Me lembro de um pequeninho trecho, que eu achava que naquele instante, lado a lado estavam meu avô e minha avó, Simão e Léa, sentados numa nuvenzinha rindo muito e aplaudindo tudo aquilo que de lá viam e abençoando o novo tataraneto...

Que assim seja!

Não é nas grandes realizações que reside essa nossa imortalidade, bastam apenas termos tomado determinadas e pequenas atitudes, termos tomado pequenas ações, pequenos gestos, para que nosso legado se perpetue.

Dá para perceber que este é um assunto que me preocupa.

Todos podemos deixar um mundo melhor para nossos descendentes, basta apenas começarmos a agir. Uma pequena ação, um pequeno gesto... Hoje!

Se não hoje, pelo menos lembrar de fazê-lo na primeira oportunidade. Nada de muito grande, apenas algo de bom! Imprimir a nossa marca na nossa existência é muito bom. Para nós em primeiro lugar, para aqueles que gostamos, para o próximo, para todos.

Acima de tudo, fazer o bem e fazê-lo bem.

Jacques

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