domingo, maio 29, 2005

Libreto? - Parte II



Enquanto sigo escutando Castor et Pollux, de Rameau, na Radio Cultura FM (aliás, é muito linda!) vou voltar a dar uma pincelada na função do libreto das óperas.

Não digo que seja uma raridade hoje em dia mas, a verdade, é que, nos últimos anos, para nós leigos, o libreto deixou de ter a importância que nossos avós davam a essa peça.

E porque caiu em desuso?

Por que os teatros se modernizaram. É fácil entender.

Pela foto que ilustra este artigo dá para ter uma idéia qual era o contexto do libreto há muitos e muitos anos.

Já, há alguns bons anos , existe o programa do teatro onde consta a sinopse, da qual sempre aqui falamos, a crítica ou um ensaio sobre a ópera, o autor, o libretista, a orquestra, o regente , os solistas, o coro, fotos, enfim, os aspectos técnicos da récita. Essa lista pode variar de teatro para teatro, de ópera para ópera, é uma peça gráfica que persiste até nossos dias, cada vez mais bonita. Alguns podem ser considerados verdadeiras obras de arte. Independentemente do valor artístico, devem ser lidos antes da récita para que possamos usufruir das informações alí estampadas.

E o libreto? O libreto é a parte escrita da ópera. A música da ópera está nas pautas dos músicos, nas partituras. Igualmente a parte vocal está nas partituras dos solistas e do coro. A partitura do maestro é uma loucura, uma linha para cada instrumento (ou grupo), uma linha para cada solista , outra linha para o coro....

O libreto é apenas a parte escrita da ópera. Lá há uma pequena descrição do ambiente onde se passa cada cena da ópera e os diálogos, as falas de cada um dos solistas, a letra dos coros e assim vai. Há muito que deixou de integrar o programa.

Pois bem, a maioria dos libretos (originais) não passa disso. Aí entrou uma outra componente ditada pela globalização. Uma ópera de autores italianos, por exemplo. Se ela fôsse encenada em Londres, ou Paris, ou o país que fôsse, o teatro poderia fornecer o libreto original com a tradução, normalmente lado a lado. Genial! Nossos avós iam acompanhando o desenrolar da ópera e ao mesmo tempo a tradução para que pudessem entender o que ia pelo palco.

E hoje?

Hoje em dia, subproduto do cinema, temos as legendas! E ai? Aí fica fácil... Pela sinopse eu fico sabendo o que vai pelo palco e pelas legendas eu acompanho comodamente o libreto, na minha língua...

Daí os libretos perderam o seu encanto. Ainda acompanham os CDs mas a tendência é para a economia, das dezenas de óperas que tenho em DVDs, o libreto escrito não mais acompanha. O libreto é um artigo cada vez mais raro. Uma pena...

E se eu quiser acompanhar pelo libreto? Se quisermos em papel impresso teremos de ir à editora e comprar o libreto. Nada simples. Outra opção é a internet. Da minha experiência posso dizer, a grande maioria das óperas que são encenadas até hoje, apresenta sempre uma versão do libreto na internet. Algumas com tradução para outras linguas, é só procurar...

Os sites são muitos, mas para exemplificar cito o OperaGlass, este site é mantido pela Stanford University. Vale a pena dar uma espiada.

Para citar mais de um site, o OperaResource index é outra opção. Em espanhol? Kareol... Outro, Web La Opera -Hispaopera...

É mais uma questão do quanto queremos nos aprofundar. Uma simples pesquisa no Google vai nos apresentar resultados espantosos...

O importante é antes de iniciar um ato da ópera que estamos vendo, ou escutando, conhecer a sinopse do ato e acompanhar as legendas que, certamente, estarão presentes nos teatros. Para os DVDs de ópera ainda podemos nos dar ao luxo de escolher a versão em que queremos as legendas. Uma pena que os libretos hoje em dia estejam mais para versões eletrônicas do que para aquele livretos que acompanham os CDs.

Ainda muito há para se falar sobre o assunto...

Jacques

Hoje é dia de escutar Castor et Pollux



Hoje, às 15 horas, a Radio Cultura FM de São Paulo, vai transmitir esta ópera. A música é belíssima.

Vale a pena escutar pelo rádio ou acessar o site e escutar a grandiosidade da obra. Trata-se de uma gravação rara pois refere-se à primeira versão, com o prólogo completo.

As exigências para a montagem do prólogo são tantas, que tornam a sua encenação muito difícil e cara. Daí a simplificação com que ela costuma ser encenada. Normalmente o prólogo é omitido. Para nossa sorte, a gravação em estúdio permite a audição da obra tal como ela foi inicialmente composta.

Além de rara oportunidade para ouvir na íntegra a ópera, a música do prólogo nos remete a uma musicalidade que emociona pela beleza da descrição (sonora) de uma cena que nos é apresentada e sugerida pelo libreto. Isso vai se tornar a marca de muitos compositores que o seguiram, apenas lembrando que Rameau fez esse prólogo mais de cem anos antes dos seus sucessores.

Para relembrar a cena, leia a sinopse da ópera, mais abaixo.

Boa audição!

Jacques

quinta-feira, maio 26, 2005

Música clássica à la carte

Um dos hábitos que cultivei ao longo de anos que trabalho com computadores é o de escutar "rádio", leia-se, estações de rádio que transmitem on-line, enquanto trabalho.

Creio não ser o único até porque acho que seja um ato mecânico, enquanto estamos sós no carro, ligarmos o rádio. De um lado, isso é perfeito quando nos dirigimos ao trabalho ou quando simplesmente somos obrigados a nos deslocar entre dois destinos. Pessoalmente alterno entre as estações de notícias e as de música clássica.

Infelizmente, se quisermos ouvir música clássica, estaremos limitados a, no máximo, uma estação.

No entanto, ao lado de três indicações que já constam na lateral do meu blog, podemos contar com as indicações do site aqui mencionado para nos entreter durante o tempo que estamos perto de nossos computadores:


Classical Live Online Radio ONEPAGE classical music


Embora, a meu ver, o título seja um tanto exagerado, é uma boa seleção de estações que transmitem, pela internet, música clássica.

Minha experiência com esse tipo de listas pede que lhes advirta, é provável alguns dos links alí coligidos estarem defasados, não é nenhuma surpresa...

Tenho certeza, desde que seu tipo de trabalho permita, que as horas voarão ao som de boa música. E para os que se entretêm na internet, também, com toda certeza!

Boa música não tem hora.

Bom final de feriado!

Jacques

quarta-feira, maio 25, 2005

Escrito a quatro mãos, na verdade até mais...

Tomando carona no comentário de Paloma Dawn, na sinopse da Castor et Pollux de Rameau:

No “King Lear”, Shakespeare escreveu:


“We make guilty of our disasters the sun, the moon, and the stars; as if we were villains by necessity, fools by heavenly compulsion.”


É, não dá para culpar os astros das nossas próprias fraquezas... devemos encarar os fatos. Castor e Polux não passam de pontos distantes na imensidão do universo.


Mas o artista tem a nossa licença para conduzir a nave estelar a esses mundos, e, pensando bem, qual a diferença entre a ópera “Castor e Polux” e os filmes “Star Wars”, ou “Mad Max” ou mesmo "2001 a Space Odissey"? a platéia, talvez? ou nem tanto.


Interessante...


Realmente ela tem razão, o enrêdo, o libreto de uma ópera apresenta, a par de convenções próprias, uma série imensa de "liberdades poéticas", simplificações, modificações e inovações que saltam à vista. Normalmente baseadas em histórias conhecidas, de autores famosos ou anônimos, peças de teatro, histórias populares, contos e lendas, sagas reais ou imaginárias e até fatos mitológicos que se transmudam, se transmutam e se transformam ao longo da trama, os libretos podem parecer ficção. Acresça-se que isto também pode ser a intenção do libretista, criar uma história a partir de uma ficção. Aqui, no caso de Castor et Pollux, imagina-se como terá sido difícil concretizar, no palco, toda a encenação prevista por seus autores. Devia ser coisa de ficção científica para a época mesmo...

Com todas essas idéias formadas, me passa na cabeça, uma associação de idéias, nada criativa na verdade, mas, garanto, vai nos levar a sorrir:

Samba de Crioulo Doido

Sergio Porto

Foi em Diamantina
Onde nasceu JK
Que a princesa Leopoldina
Arresolveu se casá
Mas Chica da Silva
Tinha outros pretendentes
E obrigou a princesa
A se casar com Tiradentes

Lá iá lá iá lá iá
O bode que deu vou te contar BIS

Joaquim José
Que tambem é
Da Silva Xavier
Queria ser dono do mundo
E se elegeu Pedro II
Das estradas de Minas
Seguiu pra São Paulo
E falou com Anchieta
O vigário dos indios
Aliou-se a D. Pedro
E acabou com a falseta
Da união deles dois
Ficou resolvida a questão
E foi proclamada a escravidão
Assim se conta essa história
Que é dos dois a maior glória
Dona Leopoldina virou trem
E D. Pedro é uma estação também

O O O O O O
O Trem tá atrasado ou já passou BIS


Pois eu ainda acrescento, tem muita escola de samba que tem samba no pé e letra de samba-enrêdo que dá inveja em muito libreto de ópera...

Nada de novo sob o céu de nossa Terra!

Jacques

terça-feira, maio 24, 2005

Castor e Pollux - Constelação de Gêmeos

"Júpiter anuncia que Castor e Pollux tomarão seu lugar no Zodíaco em sinal de amizade (Tant vertus). Télaïre é convencida a alçar aos céus sua beleza (Et vous jeune mortelle)."




Gemini, os Gêmeos.

Gemini é fácil de achar nos céus, acima e à esquerda da constelação de Orion, o Caçador. Suas duas estrelas mais brilhantes - Castor e Pollux - representam os irmãos gêmeos de Helena de Tróia

Muitas culturas enxergam dois vultos humanos nessa contelação - marcada simplisticamente por duas linhas paralelas encimadas por duas estrelas mais brilhantes em nossas noites límpidas. As duas mais brilhantes chamam-se Castor e Pollux, os nossos gêmeos.

Pollux é a mais brilhante das "gêmeas". É uma estrela laranja-gigante e dista aproximadamente 35 anos-luz da nossa Terra. Castor consiste, na realidade de seis estrelas - um sexteto cósmico interligado num ballet gravitacional. Esse aglomerado de estrelas dista aproximadamente 50 anos-luz da Terra.

Um fecho interessante para uma lenda que evoluiu desde tempos imemoriais quando nossos antepassados ligaram uma constelação a uma lenda. E tudo a ver com a nossa ópera...

Jacques

Sinopse - Castor et Pollux

"Castor et Pollux, tragédia lírica de dois heróis, com duas versões para a mesma tragédia: a versão de 1737, superabundante, solenizada pela incidência de divertissements, adornada por um prólogo bastante opulento e a versão de 1754, sem prólogo, que se desenrola em torno de uma intriga que vem a humanizar um conflito desumano graças a uma estratégia de sentimentos mais móveis..." (L'Avant-Scène Opéra - dezembro de 1982)

Nossa audição de domingo será a versão de 1737, portanto a ela nos ateremos.

Personagens:

Minerva, Vênus, O Amor, Marte no prólogo, Télaïre, filha do Sol, Phébé, princesa de Esparta; uma aia de Hébé; uma Sombra contente; Castor, filho de Tuyndare, rei de Esparta e de Léda; Pollux, filho de Júpiter e de Léda; Júpiter; o Sumo Sacerdote de Júpiter, dois Atletas

Prólogo:

De um lado ruínas de pórticos e estátuas mutiladas: as Artes ali estão abandonadas, tendo a seus pés esferas, globos e seus atributos ao sabor do vento; de outro lado estão suas bases quebradas (as bases das esculturas), os Prazeres estão aí e parecem mortos; vêem-se ao fundo tendas e os contornos de acampamentos.

O prólogo se desenvolve num local utópico onde a guerra destruiu tudo que é fonte de harmonia sobre a terra - as Artes - e nos céus - os Astros. Para que a paz retorne Minerva, a protetora das Artes e o coro pedem a Vênus para aprisionar Marte, o deus da guerra (Vênus, ô Vênus).

Uma doce sinfonia, mesclada por alguns ruídos de guerra e de trombetas, anuncia a descida de Vênus e de Marte. Este deus aparece sobre uma nuvem, algemado pelos Amores, aos pés de Vênus.

Vênus desce dos céus e Marte, atingido pela flecha do Amor, depõe suas armas defronte a bela deusa.

Marte e Vênus descem: os pórticos onde estão as Artes e as bases onde estão os Prazeres, reaparecem em seu estado original e são embelezados pela presença de Vênus: as tendas e os acampamentos de guerra desaparecem.

A festa e o júbilo podem recomeçar. Primeira gavota, Segunda gavota, Primeiro minueto, Primeiro tambourin, Segundo minueto, Segundo tambourin

Ato I

O local destinado à sepultura dos reis de Esparta: luzes sepulcrais iluminam alguns desses monumentos: ao centro, os preparativos das pompas fúnebres de Castor.

Uma cerimônia religiosa, ao redor de um monumento funerário, (Que tout gémisse). Castor, que se liga a um amor recíproco a Télaïre, morreu pelos golpes de seu rival, Lincée. Phébé se esforça para consolar Télaïre prostrada em seu desespero após a perda de Castor (Tristes apprêts).

Escuta-se uma sinfonia militar e cantos de vitória

A novidade que Pollux vem para vingar a morte de seu irmão matando Lincée dá ao local um ar de alegria.
Primeira ária para os atletas. Segunda ária para os atletas. Terceira ária para os atletas.

Assim que Pollux explica a Télaïre que ele a ama (Je remets à vos pieds). Em resposta, ela pede a Pollux para trazer de volta Castor do Inferno (Allez, Prince!). Pollux decide agir em nome do amor e da amizade (Le souverain des Dieux).

Ato II

No vestíbulo do templo de Júpiter onde tudo é preparado para um sacrifício.

Natureza e Amor partilham o coração de Pollux (Nature, Amour). Salvar seu amigo Castor significa renunciar a seu amor por Télaïre. Um breve diálogo com a princesa não lhe deixa nenhuma esperança, pois ela não o ama (Si de ses feux). O Sumo Sacerdote anuncia a aparição de Júpiter (Le souverain des Dieux).

Júpiter aparece, sentado em seu trono, em toda a sua glória.

Pollux suplica a Júpiter para que o ajude a resgatar Castor para Télaïre (Ma voix, puissant maître du monde). Sem convicção Júpiter anuncia sua decisão: Pollux deverá tomar o lugar de Castor no Inferno (J'ai voulu te cacher). Mas, para o dissuadir, Júpiter pede à tropa dos Prazeres para que se desdobrem diante de Pollux todos os seus charmes e volúpias celestes (Avant que de céder).

Hébé dança à frente dos Prazeres celestes, tendo em suas mãos guirlandas de flores com as quais tentam enredar Pollux.

Entrada de Hébé e de seu séqüito (Connaissez notre puissance). Primeira e segunda árias para Hébé e seu séqüito. Sarabanda.

Pollux resiste à sua tentação e confirma a sua decisão de descer ao Inferno (Si je romps).

Ato III

A entrada do Inferno, cuja paisagem é guardada por monstros, espectros e demônios: é uma caverna que vomita chamas sem cessar

Phébé tenta a todo custo impedir Pollux de penetrar no Inferno (Rassemblez-vous, peuples), tudo em vão (Je vole à la victoire). À chegada de Télaïre, que havia consultado seu pai Apollon (Aux pieds de ses autels), ela apoia Pollux em seu ato. Phébé toma conhecimento que Pollux adora Télaïre. Ela dá vazão à sua dor (Quel aveu!), e enquanto Télaïre reencontra esperança, Pollux se abandona a seu sofrimento. Enquanto o Inferno atacam furiosamente Pollux (Primeira ária - Brisons tous nos fers - e Segunda ária dos Demônios), Mercúrio junta sua tropa infernal de seu caduceu (bastão de ouro, com duas serpentes defrontadas e enroscadas em torno dele, sob um par de asas em que se termina a extremidade superior) e adentra com Pollux na caverna. Phébé decide o seguir (Tous cède à ce héros vainqueur!).


Ato IV

Os Campos Elíseos; diversos grupos de sombras contentes aparecem ao fundo

Castor enfim aparece (Séjour de l'éternelle paix). Sua estada nos Campos Elíseos não apaga a lembrança de Télaïre. As Sombras contentes deixam este lugar encantador (Ária para as Sombras - Qu'ils sont hereux - Loure, gavota, Primeiro e Segundo Passepieds) , mas elas se escondem a partir da chegada de Pollux (Fuyez, fuyez, Ombres legères). Este explica a Castor que ele poderá deixar o Inferno e que ele reverá Télaïre (Rassurez-vous). Castor entende também que Pollux ama a princesa mas que se sacrifica por ele. Pressionado a voltar a reencontrar sua amada, Castor jura ficar apenas um dia na Terra para voltar a vê-la e voltar para liberar Pollux do Inferno (Oui, je cède). Gavota.


Ato V

Uma vista agradável nos arredores de Esparta

Phébé se revolta contra a sorte que atinge Pollux (Castor revoit le jour). Para a sua alegria Télaïre revê Castor (Le ciel est donc changé) e fica sabendo que seu amado deve abandoná-la (Castor, et vous m´abandonnez?). Desesperada ela tenta o deter mas os elementos se rebelam (aqui trata-se de uma menção a fatores atmosféricos) e os raios espoucam.

Júpiter desce do céu sobre sua águia

Ele anuncia que Castor está liberado de seu juramento e que ele partilhará a sua imortalidade com Pollux (Les destins sont contents). Pollux e Castor se reencontram (Mon frère, ô ciel).

Os céus se abrem e deixam ver o Zodíaco; o Sol em seu carro começa sua jornada, nas nuvens ao fundo se descobre o palácio do Olimpo onde os deuses estão reunidos

Júpiter anuncia que Castor e Pollux tomarão seu lugar no Zodíaco em sinal de amizade (Tant vertus). Télaïre é convencida a alçar aos céus sua beleza (Et vous jeune mortelle).

Divertissement: entrada dos Astros (Giga, Chaconne).

Traduzido do L´Avant-Scène Opéra

Jacques

Rameau - Castor et Pollux - Ficha técnica da gravação




Compositor
Jean-Philippe RAMEAU
Libretista
Pierre Joseph Bernard
Orquestra
Les Arts Florissants
Coro


Direção
William Christie
Castor
Howard Crook
tenor
Pollux
Jérôme Corréas
barítono-baixo
Télaïre
Agnès Mellon
soprano
Phébé
Véronique Gens
soprano
Vénus, Une Ombre, une Planète
Sandrine Piau
soprano
L'Amour
Mark Padmore
tenor
Minerve
Claire Brua
soprano
Un Plaisir
Sophie Daneman
soprano
Un Athlète
Adrian Brand
tenor
Un Athlète
Jean-Claude Saragosse
baixo
Jupiter , Mars
René Schirrer


Data de gravação
setembro 1992
Local de gravação


Gravação ao vivo
não
Editor
Harmonia Mundi
Coleção


Data de Produção
1993

segunda-feira, maio 23, 2005

Rameau - Castor et Pollux

No próximo domingo, a Cultura FM de São Paulo vai irradiar a ópera Castor Et Pollux de Jean-Phillipe Rameau.

Hoje começaremos com a biografia de Rameau. Depois continuaremos com a sinopse da ópera e demais informações relevantes.


TEATRO DE ÓPERA - O mundo da lírica em obras completas RAMEAU - Castor & Pollux. Solistas: Howard Crook, Jérôme Corréas, Agnès Mellon, Vèronique Gens. Les Arts Florissants. Dir.: William Christie.



Ra m e a u

(1683-1764)

Jean-Philippe Rameau nasceu em Dijon (França), em 25 de setembro de 1683.

Seu pai, organista de Notre-Dame de Dijon, foi, talvez, o seu primeiro professor, mas não se sabe quase nada acerca da infância e adolescência de Jean-Philippe. No colégio de Jesuítas onde estudou humanidades, foi, suficientemente mau aluno para o que o deixassem seguir a carreira musical. Seu pai enviou-o para Itália para aperfeiçoar a sua formação, mas não se interessou pela música italiana e voltou muito rapidamente para a França com uma companhia de comediantes de que foi violinista.

Tornou-se organista em Avignon (1702) e depois em Clermont-Ferrand. Em 1705, fixou-se em Paris, onde arranjou alguns empregos menores como organista. Mas não conseguiu obter uma colocação interessante, apesar da publicação (1706) do seu Primeiro livro de peças para cravo.

Regressou a Dijon, onde sucedeu a seu pai como organista de Notre-Dame (1708-1714). Entre 1715 e 1722 foi novamente organista em Clermont-Ferrand, dedicando melhor de si próprio a trabalhos teóricos, à margem dos quais considera a composição uma atividade complementar. Quando voltou a Paris, em 1722, com quase 40 anos, era praticamente desconhecido e não escreveu quase nada.

A publicação do seu Tratado de harmonia (1722) e do seu Segundo livro de peças para cravo (1724) atraiu as atenções sobre ele e fez que, pouco a pouco, o melhor professor de música da capital. Mas a sua fama permanecia apenas como teórico e pedagogo. Em c.1730 , conheceu o financeiro La Poupliniere que o nomeou diretor da sua música particular e o apresentou a Voltaire (que lhe daria 4 libretos) e fez com que as portas da ópera se abrissem para a sua Hippolyte et Aricie (1733).

Fiéis à ópera de Lully, os músicos conservadores ergueram-se contra as ousadias harmônicas, a importância da orquestra e os "italianismos" que descobriram na obra de Rameau. Mas o veredicto do público foi favorável e foi confirmado triunfalmente nos anos seguintes, viriam nascer as maiores obras-primas: Les indes galantes (1735), Castor et Pollux (1737) e Dardanus (1739).

Em 1745, Rameau, que era um pouco cortesão, foi nomeado compositor do rei e A princesa de Navarro (em colaboração com Voltaire) foi representada com grande pompa, em Versalles, no casamento do delfim. A glória do músico atingiu o cume: teria sido suficiente para derrotar os partidários de Lully se a luta entre os lullistas e ramistas tivesse sido mais do que uma invenção dos musicógrafos.

Todavia, em 1752, ano em que apareceram as suas Nouvelles réflexions, a Querelle des Bouffons precipitou-o, contra a vontade, na arena. Serviu de alvo aos partidários da música italiana, cujos porta-vozes são Grimm e Rousseau, apoiados pelos enciclopedistas (ele, que fora acusado de italianismo, alguns anos antes).

Se Rousseau e Grimm fossem verdadeiros músicos, teriam apercebido daquilo que a obra de Rameau continha de lirismo, de gênio melódico, de esplendor instrumental, dignos da Itália (apesar da sua insistência teórica na supremacia da harmonia). Teriam visto também que La serva padrona não é nem a obra-prima de Pergolesi, nem a obra-prima representativa do gênio italiano suscetível de se opor a Castor et Pollux ou a Dardanus e que, ainda por cima, Rameau era mais qualificado que eles para defender a música admirável que se fazia na Itália.

Esta questiúncula, que nascera em espíritos com insuficiente cultura musical, não perturbou a serenidade de Rameau, esse grande sábio da música (que era muito semelhante mesmo fisicamente, ao seu amigo Voltaire). Com uma perfeita honestidade intelectual e uma argumentação sólida, atacou a retórica especiosa de Rousseau, mostrando como eram gratuitas as suas informações e grosseiros os seus sofismas. Mas teve a infelicidade de denunciar as inexatidões ou as simplicidades da Enciclopédia no capítulo da música, o que teve como efeito reforçar a animosidade dos seus adversários.

Estes, foram em grande parte, responsáveis pelo fato de, 15 anos depois da sua morte, nenhuma das suas obras figurar já no repertório, apesar dos êxitos confirmados pela multiplicidade de representações até 1755.

Rameau faleceu em Paris, devido a uma febre tifóide complicada pelo escoburto, em 12 de setembro de 1764, aos 81 anos.

Teórico eminente e um dos maiores músicos franceses, amigo de Voltaire, protegido por um poderoso representante da nova burguesia, era bem o homem novo, que os progressistas de então tiveram a loucura de não reconhecer.

As suas óperas (especialmente as suas obras-primas criadas entre 1733 e 1745) representam, no campo musical, um renascimento da ópera clássica francesa, apesar dos temas e encenações convencionais que ligam às "pompas de Versalles". Aí, notam-se, especialmente, algumas aquisições italianas (ária da capo, grandes melodias do bel canto, importância da orquestra): arte muito mais audaciosa do que a de Lully, tanto do ponto de vista melódico como harmônico. As peças descritivas, especialmente notáveis, têm origem numa arte totalmente nova (o tremor de terra das Indes galantes, por exemplo).

A música religiosa, pelo contrário, adotou, de forma bastante convencional, o grande estilo italiano: parece que, ao contrário dos seus antecessores, Rameau considerou a composição para igreja uma obrigação fastidiosa. A música instrumental é muito interessante, especialmente as Peças para cravo em concerto (cravo, um violino ou flauta, e uma viola ou segundo violino). Pela primeira vez numa obra deste gênero, um cravo não é nem um contínuo, nem um instrumento polifônico, com em J.S.Bach, mas um solista virtuose (nisso, estas peças anunciam Haydn e Mozart).

A forma francesa da suíte de danças foi abandonada em proveito de uma forma aparentada com o concerto italiano em 3 movimentos. É preciso salientar entre as inovações de Rameau – na hamonia, utilização sistemática de acordes dissonantes por sobreposições de terceiras e de acordes com sextas, quartas ou sétimas aumentadas – na instrumentação, introdução de clarinetas na orquestra (Zoroastro, 1749), utilização na orquestra de cordas duplas e dos pizzicatos – na forma, a importância dada à abertura nas óperas (prenuncia a abertura programática dos românticos).

A sua obra teórica baseia-se na observação do fenômeno natural da ressonância dos corpos sonoros. Comungando da utopia dos enciclopedistas, segundo a qual tudo que está ligado á natureza é bom, encontra aí (segundo Euler e os pitagórios) a justificação da consonância e o fundamento da sua teoria da "geração harmônica". As teorias pecam por vários postulados contestáveis (em especial, a equivalência das oitavas), mas têm o mérito novo de se fundamentarem em bases científicas e já não metafísicas.

No plano pedagógico, ainda somos devedores do seu gênio: a sua teoria das inversões simplificou prodigiosamente o ensino da harmonia, submersa, até então, numa confusão incrível. Foi também um dos mais resolutos defensores do tratamento igual.

Obras: 32 óperas (tragédias líricas, comédias-bailados, óperas cômicas), 5 motetos para solistas, coros e orquestra, 7 cantatas profanas, 5 séries de Peças para cravo em concerto, 62 peças para cravo, cerca de 20 obras teóricas (das quais as mais importantes são Traité d’harmonie réduite a ses principes naturels e a Genéretion harmonique).

Como podemos ver, Rameau deixou obra muito extensa, suas peças musicais fazem parte do repertório de grande parte das orquestras e conjuntos de câmara. Sua obra, considerada de vanguarda para a época, teve como principal característica a didática.

Suas peças ainda são bastante executadas, embora seja normal que os compositores mais modernos tenham apreendido e ultrapassado a sua forma de composição. No entanto, a base estava consolidada, e como tudo na vida, assumimos o que nos foi legado pelas gerações anteriores e continuamos a partir daí.

Jacques

domingo, maio 22, 2005

Anne Gastinel e Frank Shipway obtém crítica mais do que positiva

Lendo o Caderno 2 d'O Estado de São Paulo deparei-me com a crítica que transcrevo abaixo sobre o concerto que presenciei na última quinta-feira e que fiz menção no artigo de ontem.
"Sábado, 21 de Maio de 2005

Shipway obtém da Osesp o melhor da expressão poética
Orquestra mostrou, na quinta,espetáculo equilibrado e grandioso

Nas mãos do regente convidado, o britânico Frank Shipway, a Osesp tocou, na quinta-feira, com desenvoltura e prazer em explorar as possibilidades tímbricas de uma orquestra com ótimos solistas. Shipway tem uma qualidade apreciável: sabe deixar flutuar os andamentos, o que confere flexibilidade à música e um modo espontâneo de se articular. Isso ficou claro desde a maneira como ele moldou a introdução do allegro, no Concerto em Si Menor Op. 40, de Dvorak, ponto culminante da literatura para violoncelo e orquestra.

O som abaritonado, cheio, nítido, que Anne Gastinel extrai de seu Testore, de 1690, foi o ideal para realçar os freqüentes diálogos do solista com os instrumentos da orquestra - traço em que há a influência de Tchaikovsky na forma de escrever para os sopros. Gastinel e seus companheiros da Osesp alcançaram níveis muito altos de expressão poética no adágio ma non tropo, inspirado ao compositor pela doença e morte de sua cunhada querida, Josefina Kounicová. Às cantilenas do violoncelo, de transfigurada serenidade, responderam os desenhos da flauta, das madeiras, da trompa, com equilíbrio que pôs em evidência as texturas camerísticas dessa peça magnífica.

E a energia rítmica, de raiz folclórica, do allegro moderato final, resultou num movimento cujas flutuações emocionais o regente construiu com grande senso de proporção, conduzindo-o a uma coda emocionante na qual o violoncelo de Gastinel contou com o apoio seguro das trompas, das clarinetas. À dramaticidade da peça de Dvorak, Anne Gastinel somou, no extra - a Sarabanda de uma das suítes de Bach - um instante de introspecção.

O concerto que se iniciara com uma execução efusiva, extrovertida, da abertura dos Mestres Cantores de Nuremberg, encerrou-se com as Variações Enigma Op. 36, repertório que deixa Shipway em casa. Ninguém melhor que Elgar soube traduzir sonoramente o mundo em que viveu: a nobreza, a altiva idéia de si mesma que tinha a Inglaterra na era vitoriana. Isso transparece nas 14 variações dessa peça, cuja riqueza de efeitos instrumentais ofereceu à orquestra oportunidades preciosas.

No centro de peça, como uma jóia preciosa encastoada numa tiara, destaca-se a Variação n.º 9 (Nimrod) em Mi Bemol Maior, cuja lírica melodia Shipway construiu com um crescendo bem dosado, de belíssimo resultado. Em torno dela, à veemência de tocata da n.º 3 ou a energia da nervosa n.º 4 , responderam a sutil poesia da n.º 6 ou a elegância de romança da n.º 13, num verdadeiro catálogo de todas as cartas que Elgar tinha na manga.

E essa composição brilhante, na qual o músico homenageia seus amigos, convergiu para a execução grandiosa da variação final, em que Elgar faz seu auto-retrato. Nessa segunda parte, ainda mais do que no concerto de Dvorak, Shipway demonstrou a capacidade de obter da orquestra a expressão natural de seus recursos, de um modo que nos transmitiu mais a sensação de se estar fazendo música, do que a estarmos assistindo a um laborioso exercício de perfeição técnica.

Crítica

LAURO MACHADO COELHO

Especial para o Estado Osesp e Frank Shipway e Anne Gastinel. Sala São Paulo (1.501 lug.). Praça Júlio Prestes, s/n.º, Centro, 3337-5414, metrô Luz. Hoje, 16h30. De R$ 25 a R$ 79"

Nada mais merecido!


Jacques

sábado, maio 21, 2005

Um pouco sobre música ao vivo

Há poucos dias falávamos aqui da grande oportunidade que os DVDs nos davam de ver e ouvir óperas. Sem dúvida, os DVDs colocam o sentido da visão a nosso serviço, dando mais uma dimensão para que possamos nos deleitar com as melhores interpretações de nossa ópera favorita.

Hoje, eu gostaria de discorrer um pouco mais sobre um assunto correlato. Qual o sentido em ir pessoalmente a uma sala de concerto ou um teatro?

Confesso que não é de hoje que tenho opinião formada sobre o assunto, aliás, acabei de comentar sobre isso com uma amiga e daí, veio a idéia de colocar, por escrito, essas minhas observações.

Por mais que os equipamentos tenham se sofisticado nos últimos anos, uma audição ao vivo é uma experiência insubstituível.

Não quero entrar no mérito dos "shows" e dos "mega-shows" que vimos acompanhando nesses últimos anos, onde as toneladas de equipamento sonoro, pirotecnias da tecnologia (competência dos já mencionados engenheiros de som) e multidões apaixonadas que se espremem num gramado formando uma combinação tão previsível quanto impessoal. Tão impessoal que grande parte dos detalhes do shows é transmitida por telões, pois o palco (imenso) fica tão longe do espectador, que seria uma frustração se apertar tanto para ver pequenos vultos onde não se consegue distinguir pouco mais do que o colorido das luzes e vultos se movimentando no palco. E sem amplificar o som nada se ouviria...

Aqui realmente faz diferença quando falamos em espetáculo de música clássica, vocal (ópera inclusive) e instrumental.

Primeiro, os teatros são concebidos de maneira tal que um solista, vocal ou instrumental, seja ouvido perfeitamente sem alto falantes, portanto escuta-se perfeitamente desde o som do solista até uma orquestra inteira ao natural, sem que seja necessário amplificar absolutamente nada.

Há salas, menores, para música de câmara, onde é possível escutar até a respiração dos músicos...

Em salas de maior tamanho isso já não acontece. Há refletores de som, há abafadores, as cortinas, enfim tudo é cuidado para a audição perfeita.

Com todo esse investimento não há como não escolher a audição ao vivo como "a" opção.

A verdade é que continua a haver uma diferença entre o som gravado e o som ao vivo. Nossos ouvidos são mais perfeitos do que o melhor equipamento que grava e que reproduz uma audição.

Não é escôpo aqui entrar no detalhe de como o som é digitalizado e de como é decodificado em nossos reprodutores de CDs e DVDs. Mas, quem já teve o prazer de ouvir um concerto ao vivo, há de concordar que o som ao vivo de um violino, por exemplo, é bastante diferente do mesmo som gravado e reproduzido com os mais caros equipamentos que estão aí à nossa disposição.

Essa semana tive a grata surpresa de ouvir uma jovem violoncelista, Anne Gastinel, regida pelo maestro Frank Shipway e a Orquestra Sinfônica do Estado de Sâo Paulo, conhecida pela sigla OSESP, na Sala São Paulo. O programa, belíssimo por sinal:

Frank Shipway - Regente
Anne Gastinel - Violoncelo

RICHARD WAGNER
Abertura Os Mestres Cantores

ANTONÍN DVORÁK
Concerto em si menor, Op.104

EDWARD ELGAR
Variações Enigma, Op.36

Pois bem, tenho duas gravações do Concerto em si menor de Dvorák, e sou testemunha, Anne Gastinel, de longe, é a melhor intérprete que ouvi.

A par de tudo que já falei a respeito do som ao vivo, de outro, realmente, Gastinel é um nome a ser observado como uma das melhores violoncelistas da atualidade.

Os cuidados que cercam um concerto desse porte, chegam a pontos que são primorosos, o programa assim fala do violoncelo que Gardinel tocou:

" Em 1997, Anne Gastinel foi designada embaixadora do violoncelo francês e foi escolhida por Marta Casals-Istomin em Nova York para receber o violencelo mítico Matto Gofriller que pertenceu a Pablo Casals.
Atualmente, Gastinnel toca num Testore feito em 1690 (patrocínio da Associação Fundo Instrumental Francês)."
Não dá para descrever o som que escutei nesse concerto...

Apenas fiquemos com uma pequena noção do porque da diferença entre o som ao vivo e o gravado. O ouvido humano é o receptor de som mais perfeito que podemos conceber. Não há tecnologia que substitua esse sentido. Muito pode-se falar de avanços tecnológicos, muito se tem feito nos laboratórios das industrias, mas não há nada que substitua o som emitido diretamente por uma voz ou por um instrumento musical...

Enquanto o tempo corre a nosso favor, na tecnologia que avança, uma jovem mulher de 44 anos, tocando num instrumento do final do século XVII, este sim insubstituível, nos dá uma lição de violoncelo, aliás, justiça seja feita, inclua-se a orquestra nessa magnifica audição, de como é gratificante escutar um concerto ao vivo.

Brava! Bravi!

Jacques


sexta-feira, maio 20, 2005

Salvator Rosa, uma imagem



Retirada do mesmo site da Dorsay Opera, resgatei essa imagem da ópera que será levada pela Cultura FM de São Paulo, no próximo domimgo.

Por ela pode-se notar as dimensões reduzidas do palco, não conheço as dimensões do palco aqui retratado mas posso intuir que realmente é bem pequeno.

Aos que habitam em São Paulo, nosso Teatro Municipal também sofre do mesmo problema.

Algumas montagens, por razões de ordem econômica, repetem montagens do Teatro Colón de Buenos Aires. Isso funciona de maneira relativa, nosso palco tem da ordem de 12 metros de largura, muito menos do que o Colón.

A coisa funciona quando o cenário é relativamente aberto. Cenas de interiores com colunas, móveis, lustres e outros detalhes de porte tendem a atravancar a cena, perturbando a movimentação dos atores. Isso quando não se é obrigado a cortar a parte superior do cenário...

Verdade seja dita, isso não é nosso privilégio, muitas das casas tradicionais de óperas, principalmente em países do norte da Europa, são de dimensões reduzidas, reflexo da época em que foram construidos.

Alguns dos melhores compositores dessa época tão rica em termos criativos, estrearam nesses teatros de tamanho pequeno e alí colheram seus louros. Alí como aqui a lei da oferta e procura deve ser respeitada, teatros maiores e melhores só são contruidos quando há público que demande.

Jacques

quinta-feira, maio 19, 2005

De Carlos Gomes, Salvator Rosa

É interessante como o estudo das óperas nos reserva algumas surpresas. Antes de escrever este artigo, dei uma pesquisada no que poderia falar sobre essa ópera que a Cultura FM de São Paulo vai irradiar no próximo domingo as 15 horas.

Às vezes a coisa não prospera e você sofre para ter algum material, ainda mais quando se trata de uma ópera de compositor nacional e que raramente é executada. Isso em absoluto depõe contra a obra, é que nem sempre o sucesso da obra é indicativo da sua qualidade.

Para minha surpresa, além de um link que aqui coloco, com a sinopse da ópera, no site da Biblioteca Nacional, pouco material aparentemente seria de nosso interesse.

Não foi o caso, achei exatamente o CD que irá ao ar e além disso um comentário a respeito da audição ao vivo da mesma ópera com o mesmo elenco. Sorte!

Como podem ver pelo anúncio, é uma obra rara e que felizmente tem um registro fonográfico à altura.


"2000 - SALVATOR ROSA - Gomes - Lisa Livingston, Andrea Baker, Caroline Dowd-Higgins, Fernando del Valle, Christopher Lemmings, David Curry, Michael Gluecksmann, Michail Milanov, Jürgen Frantz. d - C David Higgins,
dir - Michael Beauchamp, c - Patrick Shelley.

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Vou me permitir traduzir (tradução livre, claro!) a crítica de Russel Burdekin, de 18 de Agosto de 2000, sobre a récita ao vivo do mesmo elenco. Vocês acharão o original aqui.

"A Dorset Opera trouxe a sua produção de Salvator Rosa ao Teatro de Bloombury, na última segunda feira, 14 de Agosto (de 2000) para a sua primeira visita a Londres. Eles se apresentaram também em Shelborne na quarta-feira e na sexta feira passadas.

Embora brasileiro, (Carlos) Gomes viveu sua vida, em termos de ópera, na Itália, na última metade do século XIX. Verdi foi óbviamente seu modelo. Na verdade, supõe-se que Verdi tinha muito boa impressão de Gomes, com o editor Ricordi tendo encarado Carlos Gomes como o sucessor de Verdi.

Salvator Rosa estreou em 1874 sob considerável aclamação. A história é baseada numa revolta que aconteceu em 1674 dos Napolitanos contra a Espanha que reinava sobre Nápoles, o mesmo assunto, embora não o mesmo texto da La Muette de Portici do autor Auber. O libreto era de Ghislanzoni, o mesmo que fez o libreto da Aída para Verdi. Salvator Rosa (Fernando Del Valle), amigo de Masaniello (Michael Gluecksmann) o lider da rebelião, está enamorado pela filha do Vice-Rei Espanhol, Isabella (Lisa Livinstone). Os rebeldes, tendo ganho a disputa, são traídos pelos espanhóis, Masaniello é morto e Isabela, negando-se a casar com Salvator Rosa, se suicida.

Foi um enorme esforço da Dorset Opera, levando-se em conta que a ópera foi ensaiada por sómente duas semanas e, pela primeira vez, eles se transportaram para Londres no domingo e estavam prontos para se apresentar na segunda-feira. Patrick Shelley, o maestro, compilou a partitura de diversas fontes pois não havia uma partitura integral da obra, e levando-se o pouco tempo de ensaios, possivelmente isso trouxe como resultado, pequenas falhas ou deslizes da orquestra, particularmente na abertura.

Michael Milanov, o baixo que faz o papel de Vice-Rei, é um dos pontos altos dos cantores e parecia completamente à vontade no papel, levando-se em conta as circunstâncias, os demais solistas tenham se saído muito bem, embora tenha havido momentos de falha de colocação e posicionamento no palco, resultado do limitado tempo reservado aos ensaios. Gennariello, amigo de Salvator, foi cantada pela mezzo-soprano Andrea Baker, provavelmente para equilibrar o naipe de vozes. O coro era grande, cerca de sessenta pessoas, o que deu boa profundidade ao seu som, embora o palco ficasse congestionado por vêzes.

O projeto e a direção foram , por necessidade, bastante simples, mas, importante, não comprometeram o impacto geral. Os cenários trazidos pela parte artística usaram como recurso, cenas através de portas, além de uma grande pintura do Monte Vesúvio (eu presumo), que ocupava a maior parte do fundo do palco. Eles mantiveram os costumes (figurinos) bem neutros, o que deu um ar colorido e ao mesmo tempo profissional ao conjunto da produção. (...)

A música foi muito interessante, mais pelo ela não foi do que pelo que ela foi. (N.T. Apenas estou expressando a opinião do autor da crítica). Não há nenhuma evidência de qualquer influencia brasileira, mas, como esperado, Verdi está presente na partitura em muitas passagens como, por exemplo, o dueto Rosa/Massaniello, tipicamente uma influencia de Verdi no dueto tenor/barítono mas sem o brilho deste. Houve diversas ocasiões onde a música parecia crescer para um climax que apenas deixou de acontecer. A ária de Genariello soou arrebatadora na sua introdução pelas cordas mas falhou quando cantada. Embora possa ter havido falha de composição para vozes, também poderíamos encarar essas oportunidades como pontos de parada propositais em favor da construção de um estilo dramático. Ao se aproximar o final, Salvator tenta persuadir Isabella para fugirem juntos e ao invés do esperado dueto de despedida, escutamos apenas um complexo recitativo. O monólogo do Vice-Rei e o dueto com a sua filha, os pontos altos da ópera, para mim, foram também para o lado do recitativo ao invés da ária e o mesmo caminho foi delineado no "finale". No entanto, Carlos Gomes, parecia estar pensando em quadros musicais ou talvez apenas lutasse contra o legado de Verdi.

A Dorsay Opera está gravando suas apresentações pensando em publicar um CD da obra embora eu não acredite que ele venha a ser publicado, o que seria muito bom para que se pudesse verificar essas nossas primeiras impressões. Um esforço de primeira classe para comparar-se com a obra prima de Carlos Gomes, Il Guarani."

Russel Burdekin - 18 de Agosto de 2000

Como podemos ver, felizmente, o crítico não confirmou sua última previsão, o CD foi gravado e está à venda...

É óbvio que Carlos Gomes tem uma forte influência verdiniana mas, não podemos escutar a obra como sendo escrita por um outro Verdi. Verdi foi único. Carlos Gomes, foi um seguidor da escola de Verdi, se é que podemos criticá-lo por isso. Sua obra carece da unidade de Verdi embora pudessemos utilizar o chavão, que aqui se aplica, Verdi é Verdi, Carlos Gomes é Carlos Gomes.

Uma curiosidade que não pode deixar de ser notada é o papel de Genariello, cantada por uma voz feminina, Andrea Baker, mezzo-soprano, uma dessas coisas que acontece algumas vezes no mundo da ópera. Mozart e outros compositores utilizaram-se de recursos parecidos, embora, neste caso, a regra penda para papéis masculinos cantados por mulheres. Isso por sí só já daria assunto para um outro artigo, e que pretendo abordar em futuro próximo.

Tenho certeza que vai ser uma audição muito interessante.

Jacques


quarta-feira, maio 18, 2005

CDs ou DVDs?

Olá!

Já houve época que essa dúvida não se colocava. A verdade é que, nos últimos tempos vivemos uma tal evolução tecnológica que hoje a equação está pendendo para o lado mais improvável.

De um lado, se o CD foi uma revolução no que tange ao registro sonoro, forçando que todo um arquivo de dezenas de anos tivesse de ser digitalizado e remasterizado, o DVD, forçou os produtores de discos, vamos chamá-los assim na intimidade deste artigo, a reformular uma receita que vinha sendo seguida há anos.

Nunca é demais repisar que estamos falando de música clássica e em particular das óperas.

Como se fazia uma gravação, até alguns anos atrás?

Reunia-se o elenco da ópera, os solistas e o coro de um determinado teatro, acrescia-se uma orquestra, normalmente do mesmo teatro, mais maestros e diretores de coro, se colocava todo esse povo num estúdio e gravava-se a ópera.

Pode parecer fácil, mas a qualidade da gravação tinha que ser perfeita, o que fazia com que toda essa troupe tivesse que repetir "ad-nauseam" cada passagem da partitura até que tudo tivesse perfeito. Isso levava dias e dias, um trechinho de cada vez...

Tanto havia os cantores que amavam as gravações de estúdio quanto havia os que odiavam o ritual.

Com recursos de tecnologia, gravação em multi canal e outras facilidades, isso até que se atenuou, um cantor, ou um instrumento que desafinasse ou que saísse do determinado pelo maestro, teria um trecho de uma trilha refeito e nós, mortais, jamais ficamos sabendo dessas mágicas. Corta daqui, emenda dalí e a obra ainda saía com a assinatura do engenheiro de som, que era e é um profissional muito importante na produção final da obra.

Só para dar uma idéia do que faz esse engenheiro, cada sala de espetáculo tem níveis de reverberação que são individuais, a mesma ópera, mesmo elenco, no Metropolitan de New York tem um som diferente do Opéra de Paris, por exemplo. O mesmo teatro, cheio, soa de um jeito, vazio, soa diferente. Existem padrões aceitos mundialmente que atenuam essas diferenças mas, cada projeto, leva em conta os seus parâmetros. Cabe a esse engenheiro recriar todo esse "eco" que vai se incorporar ao som de estúdio. Verdade seja dita, quanto menos interferência houver na gravação original, melhor será a nossa audição.

Só para falar sobre o "nada" que faz esse profissional daria para encher um livro... Verdade é que ele interfere o menos possível na equalização do som, o que garante um efeito "parecido" com o de uma audição ao vivo. Ele recria o som natural do teatro e daí advém a altíssima qualidade das gravações de óperas que povoam as nossas estantes.

Gravações dos últimos 30 anos têm uma clara conotação de perfeição, o tempo já não torna essas gravações obsoletas, aliás, muitos cantores que já nos deixaram ou que já se aposentaram, deixaram registros "definitivos"de sua interpretação. Tenho alguns livros que indicam várias interpretações como "definitivas". Podemos ouvir nossos ídolos no apogeu de suas vozes. É o mäximo!

Um mini parágrafo para a música popular, sem esse profissional, o engenheiro de som e sem sua equipe, haveria bem poucos "cantores"... Tudo o que na música clássica se mexe com muito escrúpulo, na música popular esse profissional é o que deveria ganhar todos, ou a maioria, dos louros. Sem ele, e sem sua maravilhosa equipe, boa parte dos cantores não sobrevivem (exemplo dos muitos cantores que só dublam suas canções, o tal do "play-back"...).

Voltemos às nossas óperas...

O custo de uma gravação em tais condições de fidelidade de som beira os US$600.000,00.

Nos últimos anos, o DVD barateou muito... Hoje os preços de venda de um CD e o de um DVD são comparáveis. Os tocadores de DVD também baixaram muito de preço.

O que fizeram as gravadoras? Gravações ao vivo! Com ou sem público, mas gravações ao vivo.

De um lado introduz-se a imagem, o som aceita alguns pequenos desaforos, pois que estamos entretidos com as imagens, aquele som do sapato do personagem indo de um lado para o outro do palco é suportável, as orquestras normalmente não produzem catástrofes sonoras... Que mais queremos?

O teatro está lá, os cantores, a orquestra e todos os envolvidos na produção estão lá também. Grava-se uma ópera com muito mais facilidade... A pós produção e todo o trabalho de eventualmete suprimir uma tosse extemporânea ou um rangido indesejável é muito simples se comparado com as gravações em CDs. Isso sem contar que todo o elenco "dá o sangue" nesse tipo de gravação.

Os cantores, o coro, a orquestra, o teatro e até eventualmente o público se unem num grande espetáculo. A gravação é a extensão de um espetáculo que já está pronto, ensaiado e montado. Por preciosismo pode-se gravar mais de uma récita e escolher cenas. Os recursos tecnológicos tais como a escolha das câmaras, os closes, a iluminação, tudo isso colabora com o resultado. O mesmo engenheiro de som, o todo poderoso do CD, usa seus poderes e ferramentas com muito mais parcimônia...

Total da fatura, aproximadamente US$200.000,00...

Leva-se o triplo do tempo para amortizar os custos de gravação em CD. Sorte nossa!

Assim podemos comparar cenários, figurinos, interpretações, expressões e toda a parte cênica que antes era sublimada nos CDs...

Interpretações de Maria Callas, que nos chegaram aos pedaços, mostram que ela além de divina cantora era uma atriz fora dos padrões da época e mesmo dos de hoje...

Já me referi aqui à sua atuação no segundo ato da Manon Lescaut de Puccini, na cena onde ela mata Scarpia, longos doze minutos onde ela não abre a boca, apenas interpreta. Sua interpretação foi passando de soprano a soprano e hoje, a maioria, se não todas, seguem a mesma linha de interpretação...

Como somos privilegiados... Gravações mais baratas resultam em custo mais barato. Bom para as gravadoras e excelente para nós, ouvintes e expectadores...

Resumo da ópera? DVD!

Jacques

terça-feira, maio 17, 2005

"Quem sabe?"

Tenho certeza, depois de procurar na Internet que poucos sabem...

Uma das mais famosas modinhas de Carlos Gomes, com letra de Bittencout Sampaio, datada de 1859:

Quem sabe?

Parte I:


Tão longe de mim distante,
Onde irá, onde irá teu pensamento!
Tão longe de mim distante,
Onde irá, onde irá teu pensamento!

Quizera saber agora
Quizera saber agora
Se esqueceste,
Se esqueceste o juramento

Quem sabe se é constante
S'inda é meu teu pensamento
Minh'alma toda devora
Da saudade,
da saudade agro tormento

Parte II:

Vivendo de ti ausente,
Ai meu Deus,
Ai meu Deus que amargo pranto!
Vivendo de ti ausente,
Ai meu Deus,
Ai meu Deus que amargo pranto!

Suspiros angustiadores
São as vozes,
São as vozes,
São as vozes do meu canto
Quem sabe
Pomba inocente
Se também te corre o pranto
Minh'alma cheia d'amores
Te entreguei,
Te entreguei já n'este canto

Foi dificil achar um arquivo na Internet para que vocês possam ouvir. Com o perdão da gravação, que obviamente não é de minha responsabilidade, acessem este link.

Sinceramente, para mim foi uma decepção não achar uma gravação de qualidade. Isso nos mostra que precisamos cuidar melhor de nosso patrimônio...

Jacques

segunda-feira, maio 16, 2005

-Yes, nós temos Carlos Gomes

No próximo domingo, dia 22 de Maio, as 15 horas, pela Cultura Fm de São Paulo teremos a apresentação da ópera Salvatore Rosa de Carlos Gomes.

As óperas de Carlos Gomes não têm tido o tratamento que merecem. Sua última gravação da ópera O Guarani m, no Brasil, foi em 1966. época dos LPs. A mais nova gravação do Guarani foi com Placido Domingo, em 1996. A parte musical esteve magnifica embora o "Peri" estivesse mais para indio siox ou navajo... Daí se deprende a importancia do figurino e da cenogrqfia numa ópera.

Outra de suas óperas Fosca, que vi aqui em São Paulo, foi gravada na Bulgaria, em Sofia, mas poucas copias vieram para o Brasil. É uma edição histórica que quem tem não desfaz.

Carlos Gomes compôs ainda muitas modinhas que são conhecidas e que ninguém se lembra de quer ele é o seu compositor.

Para conhecer a sua biografia, abaixo vai uma píncelada que o situa historicamente no contexto de seus contemporâneos, sobre Salvatore Rosa, falaremos mais tarde.

Biografia

1836
- Em 11 de julho nasce, em Campinas, Carlos Gomes, filho de Manoel José Gomes e Fabiana Maria Jaguary Cardoso. Apelidado de Tonico, inicia os estudos musicais aos dez anos, sob a supervisão de seu pai. Durante a adolescência apresentava-se com seus irmãos na banda do pai em bailes e concertos. Neste período, já compõe músicas religiosas e modinhas.

1854 - Compõe sua primeira missa - Missa de São Sebastião.

1857 - Compõe a modinha Suspiro d'Alma com versos de Almeida Garret. Fundação da Imperial Academia de Música e Ópera Nacional. No discurso de inauguração, José Amat enfatiza os objetivos da Academia: "A música não é absolutamente a mesma em todas as nações; sujeita às grandes regras da arte ,ela se modifica no estilo e no gosto em cada nação, segundo as inspirações da natureza do país, os costumes, a índole e as tendências do povo."

1859 - Compõe a fantasia Alta Noite para clarinete. Apresenta-se, pela primeira vez, tocando piano, num concerto em Campinas, acompanhado de Henrique Luiz Levy. Faz uma tournée com o irmão violinista Pedro Sant'Anna Gomes, através das principais províncias de São Paulo, hospedando-se em repúblicas estudantis. Compõe o Hino Acadêmico, a modinha Tão longe de mim distante e a Missa de Nossa Senhora da Conceição.

1860 - Muda-se para o Rio de Janeiro, contra a vontade de seu pai, e inicia seus estudos musicais no Conservatório de Música.

1861- Apresenta sua primeira ópera com o libreto de Fernando Reis A Noite do Castelo no Teatro Lírico Provisório. Escreve uma carta para seu pai a fim de convidá-lo para a estréia.

1862 - Compõe Joana de Flandres.

1863 - Com o apoio do Imperador Pedro II, viaja para a Itália, berço da ópera e do belcanto, terra de Rossini, Verdi , Donizetti, Ponchielli.

1864 - Chega à Milão. Devido à idade avançada, sua inscrição é recusada no Conservatório de Milão. Passa a ter aulas particulares de composição com o maestro Lauro Rossi.

1866 - É aprovado no exame final de composição no Conservatório de Milão e recebe o título de Maestro. Compõe música para a revista Se sa minga, com texto de Antônio Scalvini

1867 - Execução, no Teatro Fossati do Coro das Máscaras, da canção Fuzil em Agulha

1868 - Enquanto Inicia seus trabalhos para a ópera O Guarani, compõe várias peças de música de câmara, com textos de Scalvini. Escreve as músicas Nella Luna, La Moda.

1869 - É recebido nos salões da Condessa Maffei, o que lhe abrirá as portas para sua apresentação no Scalla.

1870 - Apresenta-se no Teatro Alla Scalla de Milão com O Guarani, baseada no romance de José de Alencar. No intervalo da récita, vende todos os direitos da ópera para o editor Francisco Lucca por 3.000 liras, que passa a lucrar com a ópera mais do que o próprio maestro.

O Rei Vítor Manuel II o nomeia Cavaleiro da Coroa da Itália.

Em razão das comemorações do aniversário de D. Pedro II, a ópera é encenada no Rio de Janeiro, em 2 de dezembro. A apresentação se encerra com os gritos do público: Viva o Imperador! Viva Carlos Gomes! Viva José de Alencar!

1871 - Escreve a opereta Telégrafo Elétrico e começa a trabalhar na ópera Os Mosqueteiros do Rei, que fica inacabada. Abertura da Exposição Industrial de Milão com O Guarani.Carlos Gomes é convidado para preparar a apresentação de O Guarani no Teatro Apollo em Roma. Em 16 de dezembro casa-se com a pianista Adelina Peri.

1872 - Contando com a ajuda de seu amigo André Rebouças, apresenta-se no circuito dos grandes teatros com O Guarani: La Pergola (Florença); Carlo Felice (Gênova) Covent Garden (Londres); Teatro Municipal de Ferrara; Teatro Municipal de Bolonha; Teatro Eretenio (Vicenza); Teatro Social de Treviso. Termina de compor Fosca, e encarrega Antônio Ghislanzoni de escrever-lhe o libreto Marinella, mas abandona o projeto. Verdi assiste à récita de O Guarani.

1873 - Nascimento do filho Carlos André e morte dos filhos Carlotta Maria e Manoel José. Estréia de Fosca no Scalla. A ópera foi duramente criticada na imprensa italiana, que a julgava impregnada do leitmotif wagneriano. Começa a compor Salvador Rosa, vendendo os direitos ao editor Giullio Ricordi.

1874 - Primeira apresentação de Salvador Rosa no Carlo Felice de Gênova. Começa a trabalhar em Maria Tudor, com libreto de Arrigo Boito e Emílio Praga. Estréia de Salvador Rosa . Nasce o filho Mário.

1876 - A pedido do Imperador Pedro II, compõe Saudação do Brasil, para ser apresentada nas comemorações do Primeiro Centenário da Independência dos Estados Unidos.

Inicia uma nova ópera com libreto de Ghislanzoni, A Máscara, mas logo abandona o projeto.

Apresenta Fosca no Teatro Colón de Buenos Aires, seguindo depois para apresentações no Rio de Janeiro.

É nomeado Acadêmico do Instituto Musical de Florença.

1878 - Inicia a construção da Villa Brasília, em Lecco. Escreve, para o Álbum musical do Trovador, a romança Corrida de Amor.

1879 - A ópera Maria Tudor , encenada pela primeira vez no Scalla, é um fracasso. Começa a escrever a música para a ópera cômica em três atos, Ninon de Lenclos, que logo abandona, devido a uma forte depressão que o acomete após a morte de seu filho Mário. Muda-se para Gênova. Conhece Hariclé Darclée, tornando-se amantes.

"Mário, subindo ao céu, aos cinco anos, me deixou na terra infeliz para toda a vida."

A ópera O Guarani começa a rodar o mundo: Livorno, Milão, Turim, Moscou e Pittsburgh. Em dezembro, começa uma nova ópera, Palma, mais um projeto inacabado.

1880 - Retorna ao Brasil na Excursão Lírica de Tomás Passini, visitando Rio de Janeiro, Salvador, Recife e Belém. A companhia encena Salvador Rosa, O Guarani e Fosca. Compõe na Bahia o Hino do Centenário de Camões.

1882 - Publica Álbuns de Música de Câmara. Trabalha em dois libretos: Emma de Catania e Leona. Nenhum será terminado. Volta ao Brasil para participar da Estação Lírica do Pará. Nasce a filha Itala.

1883 - Organiza, em Milão, uma Companhia Lírica, e realiza nova temporada no Brasil.

1884 - O Imperador lhe pede uma marcha para comemorar a libertação dos escravos no Ceará: Ao Ceará Livre. De volta a Lecco, compõe a modinha Conselhos. Trabalha em dois libretos de Ghislanzoni, Os ciganos e Oldrada, também projetos inacabados.

1885 - Separa-se de Adelina Peri. Passa por graves dificuldades financeiras. A manutenção de Villa Brasília se torna onerosa.

1886 - Sofre de grave crise nervosa, somente aliviada com ópio. Promessas para encenar Fosca, mas nenhum teatro concretiza o convite.

1887 - Para pagar dívidas, vende a Villa Brasília com todos os móveis e objetos. Muda-se para um pequeno apartamento em Milão. Escreve Madrigal para a revista Cena Ilustrada. Morre Adelina e sua filha Itala vem morar com ele. Começa a trabalhar na ópera Morena, que também fica inacabada.

1888 - Termina de compor O Escravo com argumento de Visconde de Taunay e libreto de Paravicini.

1889 - De volta ao Brasil, apresenta O Escravo no Teatro Lírico, em homenagem à Princesa Isabel e à Lei Áurea. D Pedro II promete-lhe a direção do Conservatório do Rio de Janeiro; no entanto, a República é proclamada, não se realizando a promessa.

1890 - Volta à Milão e vai morar no apartamento de propriedade da Condessa Cavalini, sua amante. Inicia a composição da ópera Cântico dos cânticos, não concluída.

1891 - A ópera O Condor é encenada no Scalla. Faz parte, juntamente com Arrigo Boito, Bazzini e Catalani, da comissão julgadora para escolher o diretor de orquestra do Scalla. Morre D.Pedro II em Paris.

1892 - Compõe o oratório Colombo em homenagem ao IV Centenário do Descobrimento da América. Solicita ao governo ajuda financeira para representar o Brasil na Exposição Universal Colombiana de Chicago. Viaja para Chicago, mas apresenta somente trechos de suas óperas, uma vez que as subvenções do governo não cobrem o custo das apresentações. Retorna à Milão com o filho Carlos doente.

A apresentação de O Guarani em Chicago foi por água abaixo, pois o governo brasileiro não deu a subvenção esperada. No dia 7 houve apenas um concerto para convidados do mundo oficial daqui. Portanto, entrada grátis. Esperava fazer aqui um mundo de negócios, mas depois percebi a triste realidade! Neste país a arte é um mito. Os americanos não se interessam por nada que não seja uma novidade da vida prática, ou seja, o meio mais fácil de ganhar dólares! Carta de Gomes, escrita nos Estados Unidos, à Tornaghi.

1893 - Representa Condor no Teatro Carlo Felice em Gênova.

1894 - Concorre à cadeira de diretor do Liceu Musical Rossini, perdendo para Carlo Pedrotti. Trabalha em duas óperas, Kaila e Cântico dos cânticos. Assiste em Turim à estréia da ópera Manon Lescaut, de Puccini

1895 - Encena O Guarani em Lisboa e recebe, das mãos do Rei de Portugal, a Comenda de San Tiago. Recebe convites para dirigir a Escola de Música de Veneza e o Conservatório do Pará, porém, doente e disposto a livrar seu filho Carlos do serviço militar italiano, prefere partir para o Brasil.

1896 - Já muito doente, chega ao Pará em abril. Morre em 16 de setembro.

domingo, maio 15, 2005

O musical, sucessor da ópera?



Muito se tem especulado sobre o assunto. De uma certa maneira, os musicais que são exibidos na Broadway, são comparáveis às óperas sim.

Num mundo onde tudo evolue porque não evoluiria a ópera? Se virmos a evolução do ramo com olhos puramente técnicos, a questão não é tão simples.

A ópera evoluiu no sentido de melhorar a interpretação, a música passou a ser a parte mais importante, os recitativos e os diálogos forma reduzidos ao mínino, por vezes foram extintos. E assim por diante. É a evolução da ópera própriamente dita.

Paralelamente no primeiro quarto do século, um grupo de compositores americanos pegou "carona" nas óperas de seus contemporâneos e aproveitou-se de "fórmulas" que já haviam dado certo na ópera e ensaiaram a adaptação, ou mesmo a autoria, de roteiros que se adeqüavam ao gosto dos americanos. Assim surgiram os musicais contemporâneos.

Uma particularidade interessante do gênero, mesmo quando é remontada em outros países, pouquíssimas ou nenhumas concessões são admitidas. Assim é que os musicais que vimos e estamos vendo aqui em São Paulo, a menos da língua falada (cantada), são cópias fiéis de seus originais. Nada deve ser mudado, seja a que título for...

Assim, no nosso caso, O Fantasma da Ópera encenado aqui em São Paulo, pouco difere da montagem inglesa ou da montagem americana.

O gênero em sí fica um pouco restringido às musicas de melodia menos elaborada, embora de boa qualidade, que o público alvo exige. Um único ponto de igualdade com as óperas, se não fizer sucesso logo de início, estará sujeito ao "grande arquivo redondo" das produções descartadas.

Não é hoje, aqui, o meu objetivo falar dos musicais mas tenho motivos para abordar o tema. Minha amiga, Paloma Dawn, em seu blog THE ROAD NOT TAKEN, num artigo muito bem escrito, no último dia 09 de Maio, escreveu um parágrafo que atiçou minha curiosidade e resultou numa resposta que aqui transcrevo:

"Alguém disse, não sei onde, não imagino quando, que o homem é incapaz de sonhar com o insonhável, de imaginar o inimaginável."
P.D.

É quase isso...

Não li ainda o original de Cervantes mas, assisti ao musical "Man of La Mancha" e o trecho, que transcrevo abaixo, me deixou muito impressionado, a música, para variar, não me sai da cabeça.

Quem ousaria dizer que não é, cada um à sua maneira, o Cavaleiro da Triste Figura?

Musica: Mitch Leigh

Letra: Joe Darion

Peça: Dale Wasserman


Impossible Dream (The Quest)

ALDONZA
Why do you do these things?

DON QUIXOTE
What things?

ALDONZA
These ridiculous... the things you do!

DON QUIXOTE
I hope to add some measure of grace to the world.

ALDONZA
The world's a dung heap and we are maggots that crawl on it!

DON QUIXOTE
My Lady knows better in her heart.

ALDONZA
What's in my heart will get me halfway to hell.
And you, Señor Don Quixote-you're going to take such a beating!

DON QUIXOTE
Whether I win or lose does not matter.

ALDONZA
What does?

DON QUIXOTE
Only that I follow the quest.

ALDONZA
(spits)
That for your Quest!
(turns, marches away; stops, turns bock
and asks, awkwardly)
What does that mean... quest?

DON QUIXOTE
It is the mission of each true knight...
His duty... nay, his privilege!
To dream the impossible dream,
To fight the unbeatable foe,
To bear with unbearable sorrow
To run where the brave dare not go;
To right the unrightable wrong.

To love, pure and chaste, from afar,
To try, when your arms are too weary,
To reach the unreachable star!

This is my Quest to follow that star,
No matter how hopeless, no matter how far,
To fight for the right
Without question or pause,
To be willing to march into hell
For a heavenly cause!

And I know, if I'll only be true
To this glorious Quest,
That my heart will lie peaceful and calm
When I'm laid to my rest.

And the world will be better for this,
That one man, scorned and covered with scars,
Still strove, with his last ounce of courage,
To reach the unreachable stars!

Peter O´Toole, em filme homônino, Man of La Mancha, cantou essa música, onde contracenou com Sophia Loren, lá pelos idos de 1972. Os temas já começaram a ficar em nosso inconsciente. É por isso é que eles são bons.

Um tema leve para um lindo domingo!

Jacques

sábado, maio 14, 2005

Parada de sucessos!


Cena final de Madama Butterfly (Puccini)- Final do II Ato - Butterfly se mata e é recebida pelo misericordioso bodhisattva Kannon que paira sobre ela.


Seria pretensão da nossa parte tentar fazer uma lista que abrangesse as óperas mais executadas no mundo.

Mas, os americanos são bons em estatísticas e acho que podemos nos contentar, hoje, com as óperas mais executadas nos Estados Unidos.

O site Cornerstones publica uma relação das 20 óperas mais executadas.

As óperas mais executadas ( e portanto as mais populares) são as seguintes:

1.
Madama Butterfly
2.
La bohème
3.
La traviata
4.
Carmen
5.
The Barber of Seville
6.
The Marriage of Figaro
7.
Don Giovanni
8.
Tosca
9.
Rigoletto
10.
The Magic Flute
11.
La Cenerentola
12.
Turandot
13.
Lucia di Lammermoor
14.
Pagliacci
15.
Cosî fan tutte
16.
Aida
17.
Il trovatore
18.
Faust
19.
Die Fledermaus
20.
The Elixir of Love

Analisando essas óperas dá para se ter uma idéia do que seria uma boa lista de óperas para iniciarmo-nos no campo operístico.

De fato, Puccini, Verdi, Bizet, Mozart, Gounod, Rossini, Strauss, Donizetti, Leoncavallo, não necessáriamente nessa ordem, dominam o hit parade das óperas.

Se vocês derem uma espiada no site Cornerstones agora já na área das óperas, há informações essenciais sobre cada uma dessas favoritas do público. Além de toda a parte técnica, ainda há uma ária ou um trechinho de cada uma dessas obras-primas para ouvirmos. Vale a visita!

O prazer em descobrir todos os fatos que envolvem cada ópera, ainda mesmo antes de assistirmos alguma, é diferente do prazer que sentimos ao ir a um filme. Sempre há um mistério de como o filme vai se desenrolar e de como irá terminar, quem sabe, não conta. Na ópera, além da música e dos cantores, há que se levar em conta a encenação, a ambientação, a cenografia e a iluminação., os dotes pessoais de cada um dos intérpretes, enfim uma infinidade de aspectos que torna cada récita uma experiência única. Além disso, quanto mais soubermos, antes da ópera iniciar, mais apreciaremos a experiência.

Fiquei tão dividido em saber com qual das duas Butterflies que eu havia selecionado para ilustrar esse artigo, que ouso colocar uma segunda, não para comparação, mas para nosso deleite...



Madame Butterfly (Puccini) - Cio-Cio-San e Pinkerton em cena do I Ato

É um privilégio dividir essas obras-primas com vocês. Cada montagem trará informações novas, novos conhecimentos. Quando menos esperamos já teremos conhecido uma boa parte do repertório.

Se é impossível conhecer todas, vamos de passinhos. Toda longa caminhada começa porque demos o primeiro passo. Foi assim quando aprendemos a andar, é assim que vamos escutar e aprender cada dia um pouquinho sobre esse mundo maravilhoso, que é o mundo da ópera!

Não se esqueçam de ver as óperas que estarão sendo irradiadas nesses próximos dias, nos sites que indiquei anteriormente, sempre haverá uma boa opção!

Bom espetáculo!

Jacques

sexta-feira, maio 13, 2005

Mais opções para se ouvir ópera


Cosi fan tutte - W. A. Mozart


Ontem, abordamos aqui, uma excelente maneira de se ouvir ópera em bases diárias e num horário determinado.

Hoje vamos abrir um pouco mais o leque de opções... Afinal não é todos os dias que teremos o horário das 9 horas vago.

A variedade é grande, felizmente. Um número enorme de estações de rádio se revesam, se superpõem e competem para cativar seus ouvintes, nós...

Para meu privilégio, enquanto escrevo estas linhas vou escutando
Così fan Tutte de Mozart. É uma das óperas mais divertidas de Mozart. Tão divertida e tão interessante, baseada em insinuações, mal-entendidos e sub-entendidos, que seus diretores aproveitam essas situações para terminar a ópera baseados em suas próprias adições cênicas ou interpretações.

Para dar uma palavrinha sobre essa ópera cômica, para atiçar a sua curiosidade, quem, na foto que ilustra esse artigo, casa com quem? Pois é... Problema! Não há, desde o tempo de Mozart, quem não brinque com esse final. Duas noivas, dois noivos... e vocês podem imaginar o
imbroglio, literalmente... Era essa a intenção de nosso caro Mozart, deixar a imaginação dos seus espectadores presa para saber como termina a farsa. E, para nosso gáudio, essa ópera já terminou com todas as possibilidades imagináveis e algumas outras bem criativas. Ópera é ópera!

Pois, voltando a nossos assuntos, mais uma vez pesquisando minhas fontes de RSS, achei mais um
site interessante. Dá uma relação detalhada, dia a dia, de algumas das óperas que são irradiadas. A maioria tem site e entrando-se nessess sites lá vemos, normalmente nas barras laterais, uma opção de escuta ao vivo.

Há óperas para todos os gostos, todos os dias e nos mais variados horários... Não deixem de visitá-los.


Broadcast Booth: listings of opera broadcast

Uma última recomendação, os horários alí estampados são os horários locais, americanos.

Enquanto durar o horário de verão nos Estados Unidos, os equivalentes em horário brasileiro:


ET BRT-1 hora

CT BRT-2 horas

MT BRT-3 horas

PT BRT-4 horas

Ainda guardei uma surpresinha para amanhã, espero que gostem.

Jacques

quinta-feira, maio 12, 2005

Uma ópera por dia!


La favorita de Gaetano Donizzeti

Ontem, nas minhas andanças pela Internet, andei pesquisando sobre RSS (Rich Site Summary), um tipo de publicidade que se faz em sites que publicam artigos. Esses artigos podem ser notícias, artigos científicos, blogs, enfim, todo tipo de informação que circula na Internet.

Se você já se deu o trabalho de olhar a lateral direita de meu site vai ver um símbolo em laranja com as letras XML em branco. É para isso que ele serve, dar publicidade ao meu site. Qualquer pessoa interessada pode chegar ao meu site, pesquisando as palavras apropriadas, em programas que fazem a compilação desses feeds.

Aí pesquisando sobre óperas, num programa que chama-se RSS Reader, um dos muitos que existem para ler os tais RSS (quem se interessar pelo assunto pode ler mais no site XML.com: What is RSS? ), topei com o site Viva La Voce.

Nesse site, todas as noites, às 8PM EST, hora da região leste dos Estados Unidos, 21 horas de Brasília, horário válido até o final do horário de verão no hemisfério norte, lá pelo mes de Outubro, é irradiada uma ópera completa. Nada mau...

Para os notívagos de plantão, aqui do Brasil, e para os europeus, of course, a ópera é reapresentada às 3AM EST, 4 da manhã aqui do Brasil.

Ontem ouvi a La Favorita de Gaetano Donizetti, para hoje está prevista a Maskarade de Carl Nielsen. Há uma guia que dá a programação dos próximos dias aqui.

E há mais... 24 horas de música clássica, vocal em sua maioria. Um prato cheio!

Para ouvir, basta ter em seu computador o Windows Media Player ou o Real Player e uma conexão banda larga. Pelo que ouvi ontem e hoje, a qualidade de áudio é muito boa.

Boa audiência!

Jacques