Por que tenho mais de uma versão de CDs ou DVDs de algumas óperas e concertos - Parte 1
Do que me lembro, a única crítica é que o texto estava muito sério. Vou tentar corrigir essa parte.
Finda a lenga-lenga, comecemos de novo...
Mais de uma pessoa que conhece o monte de CDs e DVDs que eu venho acumulando já algum tempo notam que existem duas ou mesmo três versões de uma mesma peça. A pergunta é sempre a mesma, por que?
A resposta curta, porque que eu gosto!
A realidade, a meu ver é um pouco mais complexa. Comecemos pela música clássica.
Primeira dúvida, o que vem a ser música clássica? Uma boa pergunta. Livros e livros já foram escritos sobre o assunto.
Mais fácil seria definir o que diferencia a música dita clássica daquilo que se convencionou a chamar de música popular. Já isto é uma longa discussão. Não vamos entrar aqui em altas teorias, vamos ser práticos.
Começando pela popular, normalmente é uma música curta, de melodia fácil, associada a um ritmo, normalmente está associada a uma letra e que, sendo de fácil assimilação, é facilmente memorizada, pode vir a ser dançada eventualmente. Também é verdade que, muitas e muitas dessas músicas, caem no esquecimento facilmente, o que é normal num processo que leva ao consumo rápido e imediato, até serem substituídas por nova leva e assim sucessivamente. É assim com a maioria da música atual.
Sem querer generalizar, grande parte do que é consumida como música popular, consta de 20 a 30 compassos, repetidos duas a três vezes, uma letra que varia enormemente no quesito qualidade e que sobrevivem ao tempo ou não.
Grandes compositores fazem música popular de alta qualidade. Muitos letristas são poetas de mão cheia. Infelizmente, no entanto, a maior parte é descartável. As boas sobrevivem a essas descartadas, a estas se dizem que se tornaram clássicos.
Apesar disso, os clássicos não são exatamente os que se convenciona chamar de música clássica. Muito das músicas ditas clássicas se perderam nos tempos por não se encaixarem nos requisitos que fazem com que músicas atravessem os tempos.
Sem querer esgotar o assunto, a música clássica, normalmente, obedece a uma série de regras que as torna um pouco diferentes das que normalmente são ouvidas e consumidas nas rádios ou mesmo nas gravações atuais.
Era bem diferente o ambiente de décadas e séculos atrás. Não havia luz elétrica, não havia o rádio, o ritmo de vida era bem diferente. Havia uma boa parte da população que por falta de estudo ou por falta de meios para se manter nem podia almejar a ouvir música. A única fonte de diversão estava em encontros familiares, em encenações de grupos de artistas, menestréis, grupos de dança e canto em locais abertos como praças, tabernas e arenas, isso quando se dispunham a freqüentar estes locais. O que hoje sobrou desse tipo de diversão é bem pouco representativo. Um processo que aparentemente foi diferente desse quadro aqui apresentado foi o tipo de letras que foi escrito e guardado em alguns mosteiros (que eram os poucos que sabiam ler e escrever) e que vieram a nosso conhecimento quase que por acaso, uma vez que pouco valor se dava a este tipo de arte. Apesar de haver algumas peças escritas, grande parte era passada de pessoa a pessoas e muitas não resistiram ao tempo. Quanto à música que acompanhavam essas canções, pouca coisa se sabe. Não havia um processo uniformizado para a escrita da música. O Canto Gregoriano é um exemplo, apenas a letra era conservada, a música era uma tradição oral.
Posteriormente, de outro lado havia um grupo de pessoas, reconheçamos, a elite, que estudava, que sabia ler e escrever, que tinha acesso ao estudo da música, que se reunia regularmente para ouvir e interpretar música. Isso data de uma época mais próxima, a notação de música já tinha andado uma longa estrada e já havia um grupo de artesãos que se dedicava à confecção de instrumentos.
Ao longo do tempo, vários desses músicos, com a elaboração de seus professores, criou uma escola que gerou música de uma qualidade diferenciada. A igreja de um lado, com suas missas e encomendas a vários compositores, a aristocracia, de outro, com o seu patrocínio a esses e outros compositores, geraram encomendas de peças para audição de grupos ou ainda execução de peças em seus domicílios e posteriormente, com a evolução a que todo esse processo desencadeou, em teatros, palácios, palacetes, praças e outros locais propícios, sofisticaram a composição de peças que vieram a se convencionar chamar de música clássica.
A produção persiste, o primeiro som emitido pelo homem, provavelmente foi o som que saiu de algum osso oco que foi soprado acidentalmente, outro som, o da batida de um galho em um tronco, foram os precursores da nossa música que atualmente transcende o espectro físico dos instrumentos acústicos para dar entradas a instrumentos elétricos e eletrônicos. Qual é a quantidade de música que é feita com o sentido de se diferenciar da música popular?
Não saberia responder. Acredito ser bem pouca a quantidade de compositores contemporâneos que se dedicam a esse tipo de composição. As necessidades da vida moderna fazem com que poucos, muito poucos se dediquem a essa tarefa. Tenho escutado aqui e ali composições desses autores, nos concertos que costumo freqüentar, ouço uma peça aqui, outra daqui um tempo, mas não saberia quantificar essa produção. O crivo do tempo, no entanto, é implacável, pouco resiste ao grande juiz que é o tempo. Essas serão os clássicos de amanhã, que se somarão à música clássica de hoje.
Comecei, ou melhor, recomecei o artigo que já tinha escrito e terminado. Aqui surge um problema, o artigo era bem mais curto e a essa altura já estava para lá de concluído. Mais fácil seria cortar o que escrevi. No entanto, peço paciência ao leitor. Nada do que aqui está escrito é novidade, mas, o atalho que tomei se revelou mais longo do que o anterior, portanto divido aqui este artigo em mais de um, pois mais longo seria abusar da paciência alheia.
Jacques
:
Postar um comentário
<< Home