sexta-feira, março 11, 2005

"leer Neruda en español"

Assim mesmo, em minúsculas, este tópico da comunidade sobre Pablo Neruda, no Orkut, me chamou a atenção.

"cuantos de uds. brasileños ya leyeron Neruda en la lengua que se debe, ¿el español?"

Ora, estou ouvindo calmamente minha vetusta Turandot com 50 anos nas costas e leio uma provocação muito mal escrita sobre ler um clássico chileno...

Contei até dez, contei de novo e não gostei. Não pelo fato de haver sim uma curiosidade em saber quantos de nós brasileiros somos capazes (ou temos acesso) a livros em espanhol. A meu ver a provocação está em afirmar ser esta a lingua em que se deve ler Neruda.

O Orkut, como um todo, me decepciona. Pensei que poderíamos travar discussões, trocar impressões, fazer novas amizades e assim por diante. É o que me interessou a entrar no Orkut.

Ora, ao ler um ítem como o acima, minha paciência acabou. Em alguns minutos emiti minha opinião:

Minha opinião sobre o assunto:
Estive no Chile, visitei as casas de Neruda em Santiago e Isla Negra, comprei e li as obras completas em espanhol.
Aliás, a edição que possuo foi impressa aqui mesmo no Brasil pela Editora Melhoramentos.
A lingua que fulano ou beltrano deve ser lida é aquela com a qual temos afinidade. A pergunta que cabe aqui é se você leu Jorge Amado em português. E isso faria alguma diferença?
Eu mesmo respondo:
O que vale é a qualidade da leitura. Impossivel dominar todas as linguas. Para a tradução existem os bons tradutores e neles nos fiamos para chegar à essência da leitura. Nada substitui a leitura do original, no entanto, nenhum autor é "propriedade" desta ou aquela lingua. Pode ser muito refinado ler Tolstoi ou Dostoievski em russo mas negar aos que leram em suas linguas maternas as traduções seria ilhar cada um de seus leitores.
O próprio Neruda reconhecia que o Chile era o fim do mundo. Em várias de suas obras ele menciona este fato. E no entanto, nem por isso ele deixa de ter enorme importancia na literatura e poesia mundial. Aliás, para fazer justiça, suas memórias, "Confesso que Vivi", as li em português pois foram publicadas posteriormente.
Portanto, ler Neruda em espanhol, português ou seja lá a lingua que for é tão meritório quanto for o seu nível de compreensão. Ler no original e não sorver a essência do que foi escrito é um pecado tão mortal quanto ler em sua própria lingua mãe e passar por cima das nuances de conteúdo.
Boa literatura não tem lingua. Se assim o fôsse não absorveríamos todas as belas páginas de literatura que abundam ao redor de nosso planeta.
Sou um fã ardoroso da obra de Neruda. Li no original. Leio espanhol, entre outras linguas, não escrevo porque não estudei o suficiente, mas vou e venho por todos os países de fala hispânica incluída a Espanha e não me perco, ao contrário da maioria de nossos "hermanos" que mal arranham o nosso português.
Não faço a apologia do português como lingua latino americana mas respeito nossas diferenças.

Pois é, li e reli hoje o que escrevi ontem à noite. Corrigi uns errinhos de Português. Só terminei onde terminei porque existe limitação de tamanho das respostas (lá no Orkut). Não tiro nenhuma palavra. Escrever mais seria dar importancia demasiada ao fato.

Até acredito que o Rodrigo seja uma pessoa esclarecida mas acho que a pergunta foi infeliz.

Nada substitui a leitura mas não sou obrigado a aceitar a provocação da pergunta.

Ora, o nosso tão querido e lido Jorge Amado é lido em centenas de países, traduzido e reconhecido como grande escritor! E o que dizer da prosa brasileira traduzida em linguas tão diferentes quanto são as diferentes linguas? Uma parte perde-se com certeza, mas o que sobra é literatura da mais alta qualidade. Só nós brasileiros sabemos disso. Existe todo um maneirismo e um alto teor de regionalismo em Jorge Amado que deve ser dificílimo de traduzir. Talvez mesmo impossível. E como ele são centenas de escritores, cada um à sua moda, cada um à sua prosa, cada um ao seu estilo.

Adoro o Chile! Lá passei alguns dos dias mais felizes que um homem possa almejar, lá estive com minha mulher, mais de uma vez, além de lá ter estado com meus filhos e meu genro, naquela época ainda não pude levar minha (futura) nora, ainda a coisa não estava definida. Andei de avião, barco, carro. Fui às geleiras do sul, na Patagônia e subi em vários vulcões, visitei cidades e universidades. Rodei pelas pequenas estradas vicinais para conhecer a terra e o povo. Andei pelo Mercado para conhecer a produção, dialogar com cidadão comum e conhecer o espírito do povo. Me apaixonei pelo país e pelo povo. Tomei vinho e água, comi os melhores frutos do mar e peixes do Pacífico e fui muito bem recebido em todos os locais por onde passamos. Fui e ví estrelas. Até com um eclipse total da Lua fui contemplado. Sorte! Fui recebido como um irmão! E como irmão me portei.

Agora, não me venham com essa história de ler Neruda em espanhol como sendo a única opção...

Jacques

:

Anonymous Anônimo said.

Opção que se deve e única opção há diferença...

18 janeiro, 2008 17:15  
Blogger Thais Melendez said.

Olá, sou filha de chileno, e é ótimo saber que o país do meu coração é querido assim.
Também leio Pablo Neruda, mas infelizmente ainda não tive oportunidade de ler suas obras em espanhol. Concordo com você em muitos aspectos.

Gostei do post,

saludo!

02 agosto, 2008 17:16  
Anonymous Anônimo said.

acredito que o mais importante da poesia é senti-la, seja em qual idioma for, mas não posso deixar de argumemntar que o Espannhol, por ser tão próximo do Português, deveria ser realmente mais lido pelos brasileiros, principalmente se o texto for de Pablo Naruda. Devemos nos lembrar que tradução vem de traição, e que o tradutor é apenas um leitor que escreveu o texto antes de você, ser empírico que lê o texto. Então, que tal reescrevernos Neruda em Español, traduzindo-o a nós mesmos da melhor maneira que me pode parecer: lendo em seu próprio idioma. QAuanto aos russos, estes sim, merecem tradução. Quanto a Nerude, este sim, merece esforço e boa vontade, pois as pepitas de ouro apenas vêm para aqueles que as procuram...

10 setembro, 2008 13:43  
Anonymous Anônimo said.

Pablo Neruda não é um programa cômico que nem "chaves" que pode ser traduzido com gírias ou expressões locais. O respeito a uma outra cultura ou língua não esta só em repartir sorrisos no mercado publico, o respeito esta mais em aceitar, compartir, se introduzir, fazer parte, não só em conhecer lugares com o nariz bem alto pensando não preciso falar espanhol porque entendo “todo”. Em quanto a "acesso a livros em espanhol" é só colocar na busca do google "neruda español". Então vale a pena o esforço.

26 abril, 2009 22:22  
Blogger Asparagus the Firefrorefiddle, the Fiend of the Fell said.

Por partes, nunca comparei ou induzi ninguém a pensar que o poeta Neruda fosse um cômico ou mesmo um autor que viesse a ser banalizado por uma tradução sem nível como acontece nos programas que povoam a nossa televisão aberta.
Acontece que, normalmente, os tradutores são pessoas cultas, instruídas, capazes e habilitadas a realizar uma tradução literária que fazem jus a seus autores originais.
Segundo, não sei de onde, você "Anônimo", tirou a sua conclusão segundo, suas próprias palavras "O respeito a uma outra cultura ou língua não esta só em repartir sorrisos no mercado publico, o respeito esta mais em aceitar, compartir, se introduzir, fazer parte, não só em conhecer lugares com o nariz bem alto pensando não preciso falar espanhol porque entendo “todo”". Ninguém desrespeitou o próprio Neruda ou afirmou que não precisasse falar espanhol. Pelo contrário, eu me esforço para ler na língua original, seja Neruda ou qualquer outro escritor de mérito, que escreva em espanhol, inglês, francês ou português, línguas que domino. Agora, não seria por isso que eu deixaria de ler um autor russo, japonês, sueco e outros tantos aos quais só tive acesso por meio de traduções literárias.
Entre não ler esses autores ou ler as, normalmente boas, traduções à nossa disposição, eu encaro com muita humildade essa nossa limitação de entender apenas algumas línguas entre as tantas que por aí se falam, cada uma com sua beleza, com suas expressões idiomáticas e suas nuances intraduzíveis.
Bem é o caso d'As Minas do Rei Salomão, que li a primeira vez na escola e depois como adulto. Literatura de primeira água, certo? Pois, esse livro, publicado em 1885 pelo inglês Nenry Rider, grande conhecedor da África e especializado em romances de aventura sobre ela. Pois Eça de Queiróz traduziu e adaptou o texto para a língua portuguesa, foi mais além, deixou sua marca no livro. Transformou sua tradução em uma obra singular, na forma de narrativa, da mesma forma que Machado de Assis imprimiu sua digital na tradução de Oliver Twist. Eça, adaptou alguns nomes de personagens que eram muito estranhos para o publico lusitano da época, hoje o nome de Alan Quatermain pode até nos parecer familiar no mundo globalizado em que vivemos, na época era ininteligível para quem não conhecia a língua inglesa.
Pois, no que a mim concerne, naquela época em que lí As Minas do Rei Salomão, o livro me foi atribuído a Eça de Queiróz e, só posteriormente, muito mais tarde, eu vim a garimpar a verdadeira autoria da obra.
Portanto não há demérito algum em ler a tradução de uma obra literária. Por vezes, a tradução, é uma verdadeira obra literária de igual quilate do original.
Aliás se você, "Anônimo", se der ao trabalho de ler o artigo como está escrito, eu li Neruda no original, leia-se espanhol.
Mais, nem me passou pela cabeça, comparar esse programa a que você alude, em sua primeira linha de comentário, a qualquer assunto do inteiro teor deste blog, voltado a um público bem diferente do que você menciona.
Espero que você retorne a meu blog para ler essa resposta e que leia o que mais de substância aqui existe, já que, oculto pelo anonimato, eu dificilmente posso vir a dialogar com você.
Sua crítica não procede, quem quiser ler Neruda no original que leia, se não tem conhecimento suficiente de espanhol, que leia em seu idioma natal. Neruda é muito importante, assim como outros tantos poetas e escritores de mérito que fazem o arcabouço da nossa civilização. Isso sem falar nas outras formas de arte, música, escultura, pintura e outras tantas que encontram-se à nossa disposição.

27 abril, 2009 12:38  

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