Benjamin Britten - "Peter Grimes" (sinopse)
Próximo domingo, como de hábito, a Radio Cultura irradiará, às 15horas, de Benjamin BRITTEN - Peter Grimes. Ópera em três atos. Solistas: Peter Pears, Claire Watson, James Pease, David Kelly. Coro e Orquestra da Royal Opera House, Covent Garden. Reg.: Benjamim Britten.
Peter Grimes
Ópera em um prólogo, três atos e epílogo , libreto de Montagu Slater, com base em poema de George Crabble. Estréia em 7 de junho de 1945 em Saddler's Wells, Londres.
Personagens:
Peter Grimes, pescador (tenor)
John, seu aprendiz (papel mudo)
Ellen Orford, viúva, professora no povoado (soprano)
Capitão Balstrode , aposentado da marinha mercante (barítono)
Auntie (Titia), proprietária da taberna“O Javali” (contralto)
Suas duas “sobrinhas”, principais atrações do “Javali”, (sopranos)
Bob Boles, pescador metodista (tenor)
Swallow, advogado (baixo)
Sra. (Nabob) Sedley, viúva de um agente comercial da Companhia das Índias Orientais (mezzo-soprano)
Reverendo Horace Adams, o pastor (tenor)
Ned Keene, boticário e curandeiro (barítono)
Dr. Throp (papel mudo)
Hobson, o carvoeiro (baixo)
Aldeões e Pescadores (coro)
The Borough, aldeia de pescadores no litoral oriental da Inglaterra, por volta de 1830.
Prólogo
Reunidos em assembléia, os habitantes do povoado julgam o caso da morte, no mar, do aprendiz de Peter Grimes. Os aldeões suspeitam que foi Grimes o causador da morte do aprendiz e os ânimos se exaltam. Intimado a apresentar provas de sua inocência, Grimes repete o juramento enunciado por Swallow. Grimes relata então como enfrentou os rigores do mar revolto, o barco em que pescava foi desviado de sua rota por uma mudança de vento, os dois ficaram três dias sem água para beber e o menino acabou morrendo de frio.
Chegado o momento de confirmar o que aconteceu quando o acusado veio a dar a terra com a embarcação, Swallow e Grimes dirigem-se alternadamente a Ned Keene, ao pastor, a Bob Boles, a Auntie, a sra. Sedley e a Ellen Orford que confirmam o depoimento, à medida que seus nomes são chamados. O público se manifesta e o magistrado dá o seu veredicto: “Teu aprendiz morreu em circunstancias acidentais mas, esse é o tipo de coisa que as pessoas não esquecem”... Recomenda então a Grimes que daqui para frente tome como aprendiz um homem feito e não uma criança. Grimes tenta fazer-se ouvir, mas o tumulto é grande e Hobson, não conseguindo impor silêncio, manda a todos que se retirem.
Sozinha com Grimes, Ellen tenta consolá-lo.
Ato I
A transição do prólogo para o primeiro ato tem como cenário a praia, vendo-se o prédio da assembléia, a taberna "O Javali" e o pórtico da igreja.
Temos aqui um extenso coro com interrupções de Auntie, que abre a taberna ao início do dia, de Boles que protesta contra toda e qualquer forma de divertimento, de Balstrode, preocupado com o que o tempo reserva para a comunidade de pescadores, do pastor e da Sra. Sedley que se cumprimentam e de Ned Keene, que se diz ansioso para um encontro com uma das “sobrinhas” de Auntie esta mesma noite.
Enquanto isto, os pescadores, ajudados por suas mulheres, iniciam seu dia de trabalho, preparando as redes. Ouve-se ao longe a voz de Grimes que pede ajuda com seu barco. Ninguém parece disposto a ajudá-lo mas Balstrode e Keene acabam por ajudá-lo.
Keene diz a Grimes que lhe conseguiu um novo aprendiz, bastando que vá buscá-lo no asilo para pobres. Mas, quando Keene lhe fala a respeito, Hobson recusa-lhe a fornecer o transporte alegando que a carroça está ocupada. O coro apóia a recusa do carroceiro mas Ellen oferece-se para cuidar do rapaz e ele concorda em trazê-lo.Os protestos do coro vão num crescendo até que a professora toma uma atitude enérgica: “Que atire a primeira pedra aquele que não tem pecados!” Hobson cede aos apelos de Hellen. A sra. Sedley pergunta a Keene se já recebeu suas pílulas de láudano, ele responde que só as terá à noite, convidando-a para ir ao seu encontro na taberna.
Balstrode vê, ao longe, que foi içado o sinal de tempestade. Ele comenta o isolamento voluntário de Grimes, que mesmo durante a tempestade recusa-se a entrar na taberna, dando a entender que melhor seria para ele tornar-se caixeiro viajante para viver longe das maledicências da aldeia. Grimes retruca que se sente enraizado ali, fica no entanto, sensibilizado com a atenção e o respeito do velho capitão, narrando-lhe sua terrível experiência com o cadáver do aprendiz em alto mar. Pretende agora por cobro à tagarelice que o cercou com o único argumento que dão importância: o dinheiro. Sozinho, o pescador evoca, arrebatado, a paz de espírito de que poderia gozar se Ellen aceitasse ser sua mulher.
Ao cair da cortina, ouvimos pela primeira vez toda a violência da tempestade no interlúdio.
A segunda cena transcorre no interior do "Javali", onde a calma e a sensação de aconchego contrastam com as rajadas de vento e a chuva que entram cada vez que alguém abre a porta. Presença inesperada, a sra. Sedley explica que está esperando por Ned Keene.
Balstrode queixa-se do barulho que fazem as “sobrinhas”, sendo rechaçado por Auntie numa passagem semi-humorística. Bob Boles, meio embriagado, tenta cortejar uma das “sobrinhas”.
Grimes entra, a sra. Sedley desmaia, aterrorizada com a sua figura. Sem dar atenção ao que se passa em volta, o pescador solitário canta, introspectivo, os mistérios do céu e dos destinos humanos. Todos se mostram naturalmente consternados com o estado de espírito de Grimes mas Ned Keene salva a situação.
Ouve-se novamente o fragor da tempestade e Hobson entra com Ellen, acompanhados do novo aprendiz de Grimes, a ponte caiu, tiveram praticamente de nadar e estão totalmente molhados. Auntie oferece um lanche mas Grimes só pensa em partir dali com o aprendiz.
Ato II
Começa com um prelúdio em completo contraste com o que tivemos até aqui. É a manhã de domingo e todos caminham para a igreja. Ellen entra com John, o novo aprendiz. A cena transcorre contra o pano de fundo sonoro da música do serviço religioso que ouvimos intermitentemente vindas dos bastidores. Ellen fala afetuosamente ao rapaz da sua vida no asilo e de como o espera um destino melhor que o do seu antecessor. No decorrer da missa, Ellen descobre que o capote do rapaz está rasgado e que ele tem um ferimento no pescoço. Peter Grimes entra apressado e convoca o rapaz ao trabalho, respondendo rispidamente quando Ellen alega que é domingo, dia de repouso. Ellen suplica a Grimes que leve em consideração a idade do aprendiz. Grimes urra em desespero e a golpeia.
Grimes retira-se , empurrando a sua frente o rapaz enquanto Ellen volta chorando para sua casa. Auntie, Bob Boles e Ned Keene entoam um trio e os fiéis deixam a igreja. Alguns deles, entre eles a sra. Sedley, ouviram a altercação do lado de fora e murmuram indignados, mesmo sem saberem ao certo o que se passou. Balstrode tenta acalmar os ânimos. Swallow sai-se com uma banalidade contemporizadora mas Bob Boles excita a indignação dos demais exigindo de Ellen, que retorna para apanhar suas coisas, que explique o que aconteceu.
Ela tenta explicar como pretendia mudar a vida de Grimes mas todos já se voltaram também contra ela, agora indissociavelmente ligada, no espírito da comunidade, a Grimes e suas maldades, e, embora sua voz se eleve cada vez mais, na tentativa de fazer-se compreender. O vigário e Swallow mobilizam um grupo para investigar o que está acontecendo na cabana de Grimes, ignorando os protestos de Balstrode de que estão perdendo tempo. Convocados pelo tambor de Hobson, os homens marcham em direção à cabana.
À medida que as vozes vão morrendo à distancia. Ellen e as duas sobrinhas refletem sobre o seu relacionamento com os homens.
O interlúdio que liga a primeira à segunda cena do segundo ato é uma passacaglia que pode ser considerada o núcleo de toda a ópera.
Estamos na cabana de Peter Grimes. Grimes entoa um longo monólogo, reduzindo-se a participação do aprendiz a um simples grito.
Grimes compara, numa ária, o que sempre foi ao que sempre desejou ser com a ajuda de Ellen. Ouve-se aproximar um grupo que vem investigar o que se passa na cabana. A reação de Grimes é violenta, pensando que é em busca do aprendiz que vêm os intrusos, ele grita desafiadoramente que nada poderão fazer-lhe. Recomendando-lhe cautela, manda que desça pelo penhasco, volta-se ao perceber que seus perseguidores já se aproximam da porta e ouve o grito do rapaz, que escorrega e cai para a morte. Grimes sai em seu encalço.
O vigário entra cuidadosamente, seguido por Swallow, Keene e Balstrode. Nada encontrando, comentam a porta aberta para o precipício e a ordem que reina na cabana. Swallow resume a impressão geral de que o episódio deverá para por fim, de uma vez por todas, à maledicência dos aldeãos.
Ato III
Começa com um interlúdio “ao luar” de grande simplicidade e beleza. Ao subir a cortina, vemos o cenário do primeiro ato (a rua e a praia do povoado), desta vez à noite. Enquanto se dança na casa da assembléia, é constante o vaivém em direção à taberna. Aparece Swallow perseguindo uma das sobrinhas e entoando uma canção licenciosa. A segunda sobrinha se junta à primeira para melhor defenderem-se do ataque, as duas conseguem se livrar de Swallow que entra, irritado, na taberna. Com intenções semelhantes às do advogado, Ned Keene encaminha-se para o lugar onde as sobrinhas se esconderam mas é interceptado pela sra. Sedley que tenta demonstrar-lhe que Grimes é mesmo um assassino.
No escuro, a sra. Sedley rumina que o crime é um passatempo que lhe acalma os nervos. Ela ainda está meio escondida quando Ellen e Balstrode se aproximam, caminhando pela praia. Balstrode comenta que Grimes não é encontrado, embora seu barco esteja à vista no embarcadouro. Ellen, por sua vez, não poderia estar mais preocupada, pois o capitão encontrou, trazido pela maré, o pulôver que ela mesma tricotou para o aprendiz.
Ellen está desesperada mas Belstrode acredita que ainda é possível fazer alguma coisa por Grimes. A sra. Sedley dispõe agora do pretexto que buscava e dirige-se à porta do "Javali" em busca de Swallow. Auntie tenta interceptá-la, protestando que seus clientes vão ali em busca de paz, a sra. Sedley não arreda pé, afinal chega Swallow para saber o que está acontecendo. Ao ser informado que o barco de Grimes foi visto de volta, ele ordena, na qualidade de prefeito, que Hobson tome a frente de uma expedição para encontrar o pescador.
Ao subir a cortina, na segunda cena do ato, ouvimos os gritos dos participantes da expedição (“Peter Grimes”) e os alertas de uma buzina de cerração. Grimes entra, arrastando-se para uma longa cena de loucura, acompanhado apenas pelo coro, pelos bastidores e a buzina de cerração.
Ele balbucia coisas sobre sua casa, cantando trechos que lhe lembram as várias etapas da sua trágica história. Chegando na companhia de Balstrode, Ellen lhe diz que vieram levá-lo de novo de volta para casa, mas, Grimes, só a reconhece por uma vaga reminiscência sugerida pela música. Balstrode passa à fala comum, o coro e a buzina de cerração fazem silêncio pela primeira vez desde o interlúdio, para dizer-lhe que leve o seu barco para o alto mar e o afunde. Sai então com Peter, para ajudá-lo com o barco e retorna para levar Ellen embora.
Com extrema suavidade a música repete parte do prelúdio do primeiro ato enquanto os homens da expedição retornam da sua missão infrutífera. Já amanhece e o coro entoa a melodia do início do primeiro ato. Olhando por seu telescópio, Swallow confirma a informação da guarda costeira de que um barco acaba de afundar, mas ninguém parece interessado. Esquecidos da caçada humana, os aldeãos preparam-se para começar um novo dia.
Jacques
Adaptado do Kobbe, o livro completo da Ópera
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obrigada por avisar. é um domingo um pouco conturbado, mas quem sabe consigo ouvir um pouco. beijos, pedrita
Bem... pareceu-me que é uma peça difícil, para um ouvido neófito. Cheia de fúria, bem dramática!
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