quarta-feira, outubro 05, 2005

A fonte: A Turandot de Gozzi


O conde Carlo Gozzi (1720-1806) veio de uma família italiana moderadamente nobre e muito conservadora. Ele era o sexto de seis filhos. Depois da morte de seus pais, Gozzi se envolveu por um longo período em intrigas legais com seus parentes. Ele passou a maior do tempo de sua vida em Veneza.

Aos 27 anos de idade, Gozzi juntou-se a uma liga de intelectuais revolucionários que lutavam para restaurar a “pureza da língua italiana”. Seus conceitos teatrais eram tão conservadores quanto sua visão sobre a linguagem. Gozzi era um férvido partidário do antigo estilo cômico italiano de commedia dell’arte, um tipo de pastelão improvisado que apresentava personagens mascaradas utilizando dialetos regionais.

O conde se opunha às tentativas de escritores como Carlo Goldoni de reformar ou abolir o estilo antigo. Gozzi conquistou espaço como escritor com seus Fiabe (fábulas dramáticas), apresentando situações fantásticas, muitas vezes mágicas, e personagens da commedia dell’arte.

Os Fiabe foram muito populares em Veneza enquanto Gozzi estava vivo. Depois, foram esquecidos na Itália, mas continuaram a cativar a imaginação de artistas e filósofos em outros lugares — especialmente na Alemanha, onde românticos como Goethe, Schiller, e Wagner foram seduzidos pelo dramaturgo.

No futuro, Prokofiev basearia uma de suas óperas, O Amor das Três Laranjas, na Fiaba dell’amore delle tre melarance de Gozzi. Nos últimos anos, o trabalho de Gozzi tem experimentado um pequeno renascimento nos Estados Unidos, liderado pelo diretor Julie Taymor (The Lion King em Broadway).

O drama de Gozzi, Re Turandot, foi baseado numa fábula que circulava na Europa da época (isso é sabido porque os Irmãos Grimm registraram um conto extremamente similar). Este trabalho, que serviu de base para a ópera de Puccini, fazia todo o tipo de referências às injustiças na Veneza da época — especialmente ao maltrato enfrentado pelas mulheres.

Curiosamente, Puccini não baseou Turandot na versão original de Gozzi com texto em dialeto, mas numa adaptação romântica em alemão de Schiller. Os libretistas de Puccini, Giuseppe Adami e Renato Simoni trabalharam intensamente para transformar a fábula influenciada pela commedia dell’arte no épico simbólico que chegou até nós. O Re Turandot de Gozzi é um conto de fadas e tem um tom leve e sarcástico.

A caracterização do Turandot de Puccini é muito mais selvagem e cruel e não existe leveza na história. Uma das mudanças mais importantes que Puccini e seus libretistas fizeram foi a introdução da personagem Liù, que muda o coração de Turandot da indiferença ao amor. Puccini também diminuiu a importância das “máscaras” Ping, Pong e Pang que aparecem na versão original de Gozzi como pastelões extremamente italianos.

Há que pondere que Liù é a verdadeira musa de Puccini. Como é sabido, todas as suas musas sucumbem no desenrolar de suas óperas. Liù não é exceção. Enquanto Turandot é uma personagem muito dura, chegando a ser malvada, Liù é a escrava apaixonada por seu amo e que por ele se sacrifica e morre. Mais, a ária mais doce e mais bonita, a ária do soprano, é de Liù emblemáticamente. Liù sucumbe junto com a música de Puccini.

Puccini sabia que seu fim se aproximava e, provávelmente, não tinha toda a música para a obra composta por ocasião de sua morte, o fim, como sabemos, teve a mão de Alfano e, mais recentemente, a de Berio. Impossível saber como ficaria esse final, tão esboçado e tão controverso, a ponto de receber dois tratamentos musicais ( o texto é o mesmo, ainda que não se possa saber o que se passava na mente de Puccini).

Os versos, em italiano:

TUTTI
Liù, bontà, Liù, dolcezza,
dormi! Oblia!
Liù Poesia!

(Fim da composição e orquestração de Puccini)

(Começo da orquestração e composição, tanto de Alfano quanto de Berio)

CALAF
Principessa di morte
Principessa di gelo!
Dal tuo tragico cielo
scendi giù sulla terra!
Ah! Solleva quel velo!
Guarda, guarda, crudele,
quel purissimo sangue
che fu sparso per te!

TURANDOT
Che mai osi, straniero!
Cosa umana non sono.
Son la figlia del Cielo
libera e pura.
Tu stringi il mio freddo velo
ma l'anima è lassù!

CALAF
La tua anima è in alto,
ma il tuo corpo è vicino!
Con le mani brucianti
stringerò i lembi d'oro
del tuo manto stellato.
La mia bocca fremente
premerò su di te...

TURANDOT
Non profanarmi!

CALAF
Ah! Sentirti viva!

TURANDOT
Indietro!

CALAF
Sentirti viva!

TURANDOT
Indietro!

CALAF
Sentirti viva!

TURANDOT
Non profanarmi! Non profanarmi!

CALAF
Il gelo tuo è menzogna!

TURANDOT
Indietro!

CALAF
È menzogna!

TURANDOT
No, mai nessun m'avrà!

CALAF
Ti voglio mia!

TURANDOT
Dell'ava lo strazio
non si rinnoverà! Ah, no!

CALAF
Ti voglio mia!

TURANDOT
Non mi toccar,
straniero!
È un sacrilegio!

CALAF
No, il bacio tuo mi dà l'eternità!

TURANDOT
Sacrilegio!
Che è mai di me?
Perduta!

CALAF
Mio fiore!
Oh! Mio fiore mattutino!
Mio fiore, ti respiro!
I seni tuoi di giglio...
... ah! treman sul mio petto!

DONNE
Ah!... Ah!... Ah!...

CALAF
Già ti sento mancare di dolcezza,
tutta bianca nel tuo manto d'argento!

TURANDOT
Come vincesti?

CALAF
Piangi?

TURANDOT
È l'alba! È l'alba!...
È l'alba! Turandot tramonta!

BAMBINI
L'alba! Luce e vita! Tutto è puro!
Tutto è santo!
Che dolcezza nel tuo pianto!

UOMINI
L'alba! Luce e vita! Principessa,
che dolcezza nel tuo pianto!

CALAF
È l'alba! È l'alba!
E amor... e amore
nasce col sole!

TURANDOT
Che nessun mi veda,
la mia gloria è finita!

CALAF
No! Essa incomincia!

TURANDOT
Onta su me!

CALAF
Miracolo! La tua gloria
risplende nell'incanto
del primo bacio, del primo pianto!

TURANDOT
Del primo pianto... Ah...
Del primo pianto!
Sì, straniero, quando sei giunto,
con angoscia ho sentito
il brivido fatale
di questo mal supremo.
Quanti ho visto morire per me!
E li ho spregiati;
ma ho temuto te!
C'era negli occhi tuoi
la luce degli eroi.
C'era negli occhi tuoi
la superba certezza...
E t'ho odiato per quella...
E per quella t'ho amato,
tormentata e divisa
fra due terrori uguali:
vincerti o esser vinta...
E vinta son... Ah! Vinta,
più che dall'alta prova,
da questa febbre che mi vien da te!
CALAF
Sei mia! Mia!

TURANDOT
Questo, questo chiedevi,
Ora lo sai.
Più grande vittoria non voler!
Parti, straniero, col tuo mister!

CALAF
Il mio mistero?
Non ne ho più! Sei mia!
Tu che tremi se ti sfioro!
Tu che sbianchi se ti bacio
puoi perdermi se vuoi!
Il mio nome e la vita
insiem ti dono.
Io son Calaf, figlio di Timur!

TURANDOT
So il tuo nome! So il tuo nome!

CALAF
La mia gloria è il tuo amplesso!

TURANDOT
Odi! Squillan le trombe!

CALAF
La mia vita è il tuo bacio!

TURANDOT
Ecco! È l'ora!
È l'ora della prova!

CALAF
Non la temo!

TURANDOT
Ah! Calaf,
davanti al popolo con me!

CALAF
Hai vinto tu!

Scena Seconda

FOLLA
Diecimila anni
al nostro Imperatore!

TURANDOT
Padre augusto,
conosco il nome dello straniero!
Il suo nome... è Amor!

FOLLA
Amor!
O sole! Vita! Eternità!
Luce del mondo è amore!
Ride e canta nel sole
l'infinita nostra felicità!
Gloria a te! Gloria a te! Gloria!


Jacques
Baseado em pesquisas no site do "The Metropolitan Opera International Broadcast Information Service"

:

Anonymous Anônimo said.

Hallo Jackes,
na segunda-feira assisti ao filme "A vida de David Gale",onde a ultima cena se desenrola num teatro,numa opera.Eu ,q nao entendo nada de opera,pedi aos meus amigos inteligentes do blog da Cora Ronai.Eles me indicaram Turandot como a personagem tragica.Vim procurar a historia e encontrei o seu blog.Muito bonito,muito atraente para desentendidos como eu e sua linguagem e´simples e agradavel.Nao sei se esses atributos te agradarao,mas eu quero te dar meus parabens pelo grande feito.Um abraco,Monica R.

02 novembro, 2005 13:26  
Blogger Asparagus the Firefrorefiddle, the Fiend of the Fell said.

Monica, meu blog é feito para pessoas como você. Sua visita é motivo de muita satisfação. Você e todos são muito benvindos!
Obrigado,

Jacques

02 novembro, 2005 17:05  

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