quarta-feira, setembro 21, 2005

Verdi - Uma breve biografia


Para entender a obra de Verdi, e situá-la no contexto de sua época, é interessante conhecer um pouco da sua biografia.

Antes mesmo de entrar na sinopse da Un Ballo in Maschera, a história do compositor confunde-se com a história de suas óperas. E é normal que assim as coisas aconteçam. De Verdi, nos últimos meses, já ouvimos Oberto, naquela ocasião um compositor incipiente e que prometia muito. Agora vamos ouvir um Verdi mais amadurecido, mais politizado e mais consciente de seus dotes criativos. Verdi já havia passado a fase da experimentação e da crítica. E é, Un Ballo in Maschera, um degrau importante da sua obra.

É interessante notar como a obra e o autor se interrelacionam. Numa época onde a ópera gozava da mesma popularidade das nossas tão populares novelas, é interessante ver que o talento de seus autores tem muito a ver com suas composições. Enquanto alguns preferiram os temas "não políticos", Verdi, ao contrário, era um apaixonado dos temas que trouxessem, ainda que subliminarmente, sua visão pessoal dos acontecimentos contemporâneos.

É lógico que suas atitudes, se olhadas com os nossos olhos, tinham o condão de inflamar multidões. Afinal, era porisso que seus admiradores o idolatravam. No mundo da ópera as paixões são exacerbadas, ou ama-se ou odeia-se, ou se aplaude ou se vaia. As mesmas multidões que acorriam aos teatros para ver as composições eram as mesmas que podiam enterrar ou alçar seus ídolos a deuses.

Verdi, consciente ou inconscientemente era o alter-ego de sua época. Suas composições, mais subliminarmente ou menos subliminarmente, falavam à alma do povo italiano. Era tudo aquilo que seu público gostaria de poder expressar-se. Assim Un Ballo in Maschera, passa a ser ambientado no reino da Suécia e logo depois em Boston, pouco importava, o povo sabia exatamente o que queria ouvir e as "alterações cosméticas" impostas pela censura eram perfeitamente digeridas pelos seus incontáveis admiradores.

Apenas como nota, hoje a ópera é, como originalmente foi escrita, encenada com seus personagens de "origem sueca", embora haja registros das duas partituras. Conhecendo-se a sinopse pode-se imaginar o disparate da mesma obra encenada no Novo Mundo, em Boston.

Acredito que já citei, de passagem, aqui mesmo neste nosso site, que a biografia dos compositores é um assunto fascinante. Naquela época, boa parte das informações que possuímos advém da correspondência desses compositores, onde, despidos da personalidade pública eles encarnam seres normais, passionais e falhos, com dúvidas, comentários e notas que enriquecem as suas biografias.

Não é possível aqui entrar nessa seara. A nossa era exige, tal qual os jornais diários, uma síntese dos dados. Coloco aqui, mais como convite à leitura e menos ao estudo, que procurem conhecer a intimidade de seus compositores prediletos, seres normais com talentos para a composição mas humanos e dominados por todos aqueles defeitos inerentes a todos nós.

Polêmico e capaz, capaz e polêmico, assim foi Verdi.

Giuseppe Verdi (1813 - 1901)


Verdi nasceu entre 9 e 11 de outubro (os dados não são claros) de 1813. Apesar de não ser um camponês, sua origem era extremamente modesta - seus pais eram donos de uma taberna em Roncole. Aprendiz do organista da vila, Verdi mostrou aptidão suficiente para prosseguir os estudos na cidade vizinha de Busseto. Sua educação foi garantida por um benfeitor paternal, Antonio Barezzi, um quitandeiro.

Barezzi ajudou Verdi a ir para Milão, onde sua matrícula no conservatório foi recusada, com a alegação de que ele já tinha 19 anos e era considerado velho demais e sem proficiência suficiente no teclado. Apesar desta recusa, Verdi estudou em particular, com um acompanhador musical do La Scala de Milão e o mentor viu que Verdi assistia à ópera com regularidade. Em 1836 Verdi casou-se com a filha de Barezzi, Margherita. Três anos mais tarde, em 1839, sua primeira ópera, Oberto, foi encenada no Teatro La Scala.

Em seguida, Verdi foi atingido pela tragédia. No início de abril de 1840, o filho pequeno ficou doente e morreu, sendo seguido pela sua filha mais jovem, dois dias mais tarde. Em junho do mesmo ano, sua esposa Margherita teve um ataque de encefalite aguda e morreu, após um período curto de enfermidade. Toda a vida de Verdi foi destruída e ele retornou para Busseto. Os choques sucessivos levaram Verdi a considerar a idéia de abandonar a música.

Somente dois anos mais tarde, quando Verdi descobriu o libreto Nabucco, um conto do cerco aos hebreus durante os tempos bíblicos, seu interesse pela ópera retornou. Nabucco foi um grande sucesso e o retrato de opressão nele reproduzido, foi visto como uma declaração política sobre a Itália. O nome de Verdi tornou-se sinônimo do movimento de liberação e unificação da Itália e ele assumiu o crescimento constante de seu público com bastante seriedade. O sucesso de Nabucco estimulou Verdi, que continuou a compor algumas das mais importantes óperas da história, entre elas La Traviata, Rigoletto e Aida.

Apesar de ainda não estar no fim da carreira, Verdi retirou-se para Sant'Agata, sua propriedade agrícola, aos 58 anos de idade com sua segunda esposa, a famosa soprano Giuseppina Strepponi. Nos anos seguintes Verdi escreveu sua famosa Missa Requiem e um quarteto de cordas. Bem mais tarde, em 1887, aos 74 anos de idade, Verdi surpreendeu o mundo da ópera com Otello. Baseada na obra de Shakespeare, foi considerada por muitos especialistas como a maior realização da ópera italiana. Seis anos mais tarde, já com 80 anos, produziu outra obra de arte, novamente de Shakespeare, Falstaff, baseada nas Merry Wives de Windsor.

No inverno de 1901, sua esposa Giuseppina e muitos de seus amigos já haviam morrido e Verdi sofreu um derrame na suíte de seu hotel em Milão. Morreu aos 88 anos e, após um funeral simples como havia desejado, teve um "funeral público de pompa e estilo" normalmente reservados aos chefes de estado.

Jacques

:

Postar um comentário

<< Home