terça-feira, outubro 18, 2005

Il Guarany - Sinopse


Personagens:

Gonzales, aventureiro espanhol, hóspede de Don Antônio (barítono)
Don Álvaro, aventureiro português (tenor)
Rui Bento, aventureiro espanhol (tenor)
Alonso, outro aventureiro espanhol (baixo)
Don Antônio de Mariz, velho fidalgo português (baixo)
Peri, cacique da tribo dos Guaranís (tenor)
Cecília, filha de Don Antônio (soprano)
Pedro, homem de armas de Don Antônio (baixo)
Cacique, chefe da tribo dos Aimorés (baixo ou barítono)

Comentário Inicial:

É bom lembrar que em sua estréia a ópera ainda não tinha a famosa Protofonia, que só apareceu em 1871 no espetáculo que marcava a abertura da Exposição Industrial de Milão. A obra possuia anteriormente um pequeno prelúdio de relativo valor musical.
O Guaraní é um drama que se desenrola rapidamente orquestrada com audácia e com uma ingenuidade melódica que só serve para lhe aumentar o encanto.

Sinopse:

Ato I

Esplanada diante do castelo de Don Antônio de Mariz, a pouca distância do Rio de Janeiro, no ano de 1560. Ao levantar-se o pano o palco está vazio , começam a atravessar a cena, grupos carregando animais abatidos durante a caçada, cujos sons ouvem-se ainda. O sol começa a enfraquecer e os caçadores, reunindo-se, falam das peripécias da caçada.

Gonzales diz ironicamente a Álvaro que chegaram à casa que faz bater mais forte o seu coração. Álvaro pergunta se ele agora se dedica a contar os suspiros do coração, Rui e Alonso mandam que o deixem em paz, pois está enamorado de Cecília.Isso só faz aumentar o ciúme de Gonzalez que, secretamente, também a ama. Entra Don Antônio e lhes conta que, enquanto caçavam, um grave acidente aconteceu: em represália por haver um português ferido acidentalmente uma jovem aimoré, foram atacados pelos índios, sendo Cecília salva das mãos dos selvagens por um outro índio, Peri. O próprio Don Antônio apresenta Peri como um amigo, este declara ser da tribo dos guaranís, advertindo que os aimorés, que acamparam a curta distancia, tramam alguma vingança. Ouve-se a voz de Cecília, para alegria de Don Antônio, felicidade de Álvaro e ciúmes de Gonzales. Peri, perturbado, afasta-se. Terminada a ária de entrada de Cecília ("Gentile di cuore"), Don Antônio apresenta à filha o esposo por ele escolhido, Álvaro. Confusa, ela diz obedecer ao pai. Prostam-se todos e rezam a "Ave Maria". Peri, em ato de respeito, põe-se de pé, ficando perto de Gonzales, cujas atitudes lhe haviam chamado a atenção. E é justamente durante a "Ave Maria" que Gonzales, à parte, convida Rui e Alonso para um encontro à noite, sendo ouvido por Peri.

Don Antônio convida os presentes a se refugiarem, por precaução, no castelo, o que é feito por todos menos Cecília e Peri, que ficam à sós. ela pergunta porque pretende ele deixar o castelo. Peri diz não ser digno de pisar na casa dela. Cecília lembra-lhe o que fez e indaga por que tanto se preocupa por ela. Inicia-se aqui o famoso dueto "Sento una forza indomita". Responde Peri que sente uma força irresistível que o atrai para ela, mas não a pode exprimir. Cecília confessa que que o mesmo lhe acontece. Interrogado para onde vai, ele diz: para onde os três malvados estão tramando uma traição. Cecília pede que volte e viva para ela, pois é o seu defensor. Peri promete e parte.

Ato II

Cena 1

Uma gruta selvagem na floresta. Peri chega a tempo de presenciar o encontro combinado pelos três aventureiros. Na ária "Vanto io pur", conta a sua nobre estirpe e suas glórias, tudo agora sem importância, depois de ter visto Cecília quando o leão da floresta transformou-se em seu escravo.

Entram Gonzalez, Rui Bento e Alonso. Gonzales diz ter descoberto onde fica uma mina de prata nas terras de Don Antônio, e que precisa de mais homens para dela se apossar.Em troca quer um pacto: Cecília será sua. Peri, de seu esconderijo grita: "Traidores!" Os conspiradores fogem, exceto Gonzales, que vê Peri sair de seu esconderijo. Lutam, Gonzales, vencido, é obrigado a jurar que abandonará o local e seus sonhos de riqueza, o que faz no firme propósito de perjurar. Peri, satisfeito por ter salvo a sua amada, embrenha-se na floresta.

Cena 2

Na pousada dos aventureiros, onde Rui e Alonso dizem-lhes que serão conduzidos na conquista das minas por Gonzales, ouve-se um coro enaltecendo o ouro. Com a chegada de Gonzales, juram fé ao espanhol, que entoa uma das árias mais conhecidas da ópera, a "Canção do aventureiro", apologia da vida que levam. Ao soar a meia-noite, todos se afastam para colocar-se nos seus pontos, de acordo com o plano preestabelecido de se apoderar das terras de Don Antônio.

Cena 3

O quarto de Cecília, com alcova e leito. Uma grande janela aberta por onde penetra o a luar. Em cima de um móvel, um bandolim. Cecília, encantada com a natureza e a calma reinante, entoa uma balada, "C'era una volta un principe", na qual deixa entrever seus sonhos de amor, deitando-se logo depois. Segue-se um longo silencio após o qual Gonzalez entra pela janela e vai contemplar a adormecida. Cecília acorda e, assustada, grita. Ele declara-lhe seu amor. Cecília o repele, ele a ameaça e , quando vai agarrá-la, é ferido por uma flecha disparada atravéz da janela. Corre para ela e detona a sua arma. Gritos de alarma ressoam pela casa. Acorre Don Álvaro, Cecília proteje-se junto a ele que desembainha sua espada contra Gonzales mas, a casa, é invadida pelos aventureiros de espada em punho. Entra Don Antônio querendo saber a razão da revolta. Ele pergunta quem é o traidor e Peri, entrando pela janela, aponta Gonzales. Num grande ensemble, Don Antônio clama vingança. Gonzales treme, Cecilia, Peri e Álvaro amaldiçoam o traidor enquanto os aventureiros defendem Gonzales e os portugueses, a Don Antônio. São interrompidos pelos intrumentos selvagens que anunciam a invasão dos aimorés, confirmada por Don Pedro. Face ao inimigo, todos juram unir-se na defesa do interesse comum.

Ato III

O campo dos aimorés, vendo-se ao fundo o castelo. As mulheres curam as feridas da batalha do dia anterior e executam outros serviços. Os guerreiros preparam as suas armas. À direita, a tenda do cacique e à esquerda, numa grande árvore, Cecília amarrada e coberta por um véu.

O coro dos aimorés relembra a batalha do dia anterior, jurando vingança contra os portugueses. Todos se retiram e aparece o cacique, dizendo que que o canto de seu povo é de vitória e perguntando pela prisioneira. Levantando-lhe o véu, extasia-se com a sua beleza. Quando os guerreiros dizem que ela deve morrer, ele os detém e, dirigindo-se a ela, convida-a a ser rainha da tribo.

Em meio ao tumulto que se segue, carregam Peri preso. Ele traz consigo apenas o seu arco. Explicam ao cacique que foi o acaso que fez aquele tigre cair prisioneiro. O cacique pergunta o o que vinha ali fazer e ele, diz-lhe que vinha matá-lo, mas que a sorte o traiu. Só Cecília percebe a verdade. Os aimorés querem liquidá-lo ali mesmo mas o cacique ordena que se cumpra primeiro o rito e só depois então seja Peri dado em banquete aos anciões. Cecília tenta interceder e o cacique a elege noiva da morte de Peri para confortá-lo na hora extrema. Inicia-se uma grande cerimônia com baile.

Peri é amarrado a uma árvore. O cacique manda oferecer frutas e vinhos ao prisioneiro, que os recusa. Deixa também cair uma espada que lhe é ofertada. Guerreiros desafiam Peri. O cacique ordena que todos se retirem. Cecília pergunta pelo pai: está salvo. Pede a Peri que fuja. Este retruca que se deixará matar para salvar a ela e ao pai. Peri bebe um veneno que traz consigo para, caso seja devorado, exterminar a tribo. Despede-se de Cecília e quebra o arco.

Entra o cacique. Dizendo que só por ele Peri deve ser ferido, convida a tribo a oferecer a vítima ao deus dos aimorés. é a grande oração "O Dio degli Aimore". No final da cerimônia, quando Peri diz que o firam, ouvem-se descargas de espingardas e Don Antônio aparece, seguido pelos portugueses. A luta é geral, morre o cacique e Cecília cai nos braços do pai enquanto a batalha procede.

Ato IV

Subterrâneos do castelo iluminados por uma tocha numa pilastra. Ao fundo uma porta com escada que conduz aos aposentos. Há vários barris de pólvora e uma porta à esqueda. O coro espera por Gonzales, que ao chegar anuncia que Álvaro foi morto E Dom Antônio não pode tentar novas proezas. Ele fica sabendo que Cecília alí está e que Peri foi salvo. Gonzales diz que os aimorés se levantam e pretendem que as portas do castelo sejam abertas e o dono entregue, vivo ou morto. O coro hesita e Don Antônio, que tudo ouviu através de uma porta secreta, enfrenta sozinho a todos. Gonzales vai ferir Don Antônio, mas o coro o detém e pede perdão, sendo Gonzales, finalmente, levado preso. Don Antônio manda buscar a filha: Peri aparece E diz-lhe que Cecília ordenou-lhe que vivesse, daí ter tomado o antítodo do veneno. Don Antônio manda que fuja. Peri diz que apesar de cercado o castelo ele tem meios para salvar mais uma pessoa, que pretende seja Cecília. Alegria de Don Antônio que, no entanto, diz não poder-lhe dar Cecília, dada a diferença de religiões. Peri renega seus deuses e Don Antônio, invocando a Trindade e fazendo da espada uma cruz, o faz jurar a nova fé. Ouvem-se os coros dos aventureiros e dos aimorés, enquanto entra Cecília. Don Antônio conta-lhe o ocorrido e como ela será salva. Despedem-se todos e Cecília é levada por Peri. Chegam os aventureiros,Don Antônio barra-lhes os passos diante da porta. Empunhando o archote, avisa que todos vão morrer, lança-os aos barris, que explodem, derrubando o castelo. Vemos Cecília ser salva por Peri.

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Il Guarany causou sensação no Scala, seu autor, um desconhecido jovem brasileiro, enfrentou a ópera italiana sem as noções preconcebidas que tanto atrapalhavam os compositores italianos contemporâneos de Verdi. Resolveu melhor que eles o problema de andamentos e continuidade dramática, o resultado foi uma ópera que se move rápida e seguramente. Julian Budsen, o musicólogo inglês, lança a hipótese de que a decisão de Carlos Gomes de incluir um balé exótico, brilhantemente orquestrado nesta ópera, desafiando a tradição italiana, teria levado verdi a seguir o seu exemplo em sua Aída, dois anos depois.

Fonte: Kobbe - O Livro Completo da Ópera

Jacques

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