terça-feira, setembro 13, 2005

Candice, em outubro e novembro no Teatro Municipal de São Paulo

© O Estado de São Paulo



Tendo em vista a próxima montagem de Candide de Leonard Bernstein, nos próximos dias 28 de Outubro, 1,3 e 5 de Novembro de 2005 no Teatro Municipal de São Paulo, transcrevo aqui o artigo publicado ontem, 12 de Setembro de 2005, no Caderno 2 do jornal "O Estado de São Paulo".

Parece que ainda está longe, mas vamos nos preparando. A última montagem, Les Pêcheurs de Perles, Os Pescadores de Pérolas, foi um sucesso. Aos interessados, recomendo um telefonema ao Teatro Municipal para verificar quando inicia-se a venda dos ingressos.

Jacques



Candide
, comédia irônica de Leonard Bernstein, ganha montagem nos EUA e chega a São Paulo em novembro
João Luiz Sampaio
Bernstein a chamava de 'cartão de dia dos namorados' para a Europa. Seu biógrafo Humprey Burton afirmou que jamais um musical da Broadway havia recebido partitura tão elaborada. Já outros preferem discutir se a peça é mesmo um musical ou então uma ópera ou opereta. Pouco importa. O fato é que Candide é uma das jóias do repertório teatral do século 20.
Acaba de ganhar nova versão em DVD. E, em novembro, será encenada no Teatro Municipal.
Escrita nos anos 50, colaboração de Bernstein com Lilian Hellmann, Candide é baseado em Cândido, crítica feroz de Voltaire à Igreja Católica e ao 'otimismo' de Leibniz, a idéia de que aquele era 'o melhor dos mundos possíveis', apesar das guerras, da fome, da peste. Para os dois artistas, a história virou uma alusão à 'América complacente' do presidente Eisenhower, à perseguição aos comunistas, e assim por diante.
Foram muitas as dificuldades na adaptação. A novela de Voltaire não é longa mas, como alguém já definiu, cada frase traz um acontecimento novo e cada parágrafo leva a ação a um continente diferente. Tudo começa na Westphalia, onde um grupo de jovens aprende que 'esse é o melhor dos mundos' e que mesmo a guerra é uma bênção. Dali em diante, Candide se vê em meio à Inquisição; o terremoto de Lisboa; sua namoradinha vira prostituta em Paris; seu professor contrai sífilis, etc. Tudo isso com humor refinadíssimo.
Cenicamente, Candide transformou-se em um conjunto de quase 30 cenas unidas por um primoroso texto para o narrador, que é quem dá sentido à história. Musicalmente, é um passeio delicioso pela tradição européia: estão ali as valsas vienenses, Mahler, Beethoven, a ópera bel cantista, Gilbert e Sullivan e até Schoenberg. De novo, tudo com muito humor. E fluência, apesar das constantes revisões, que parecem intermináveis, levadas a cabo pelo escocês John Mauceri, um dos pupilos de Bernstein. Mas vale lembrar que a fluência também é fruto dos textos adicionais de gente como Richard Wilbur e Adolph Green.
Pelo próprio caráter da obra, já dá para imaginar que montá-la não é das tarefas mais fáceis. Em questão de minutos, a ação sai da Europa, vai para o Velho Oeste e acaba na América Latina. Não se trata só de construir três cenários, mas de conseguir a agilidade necessária para as trocas. Enfim, é apenas um entre muitos exemplos. De forma que se opta, normalmente, por uma versão em concerto ou semi-encenada. É assim a gravação de Bernstein, em Londres, com a orquestra no palco, um elenco deslumbrante (June Anderson, Christa Ludwig, Nicolai Gedda, Adolph Green e outros) e a narração fornecendo todas as imagens necessárias para a compreensão da partitura.
Neste novo DVD, gravado no Lincoln Center, em Nova York, no ano passado, a opção é a mesma, com exceção da presença de figurinos. No mais, o elenco também é fenomenal.
Candide é o tenor Paul Groves; o professor Pangloss é Sir Thomas Allen, que também atua como narrador; a jovem Cunegonde é interpretada por Kristin Chenowet, que atualmente é a secretária de imprensa da Casa Branca no seriado The West Wing; e a Velha Senhora é Patti LuPone. O elenco de apoio também é muito bom e os pequenos achados da direção de Lonny Price, com alusões a personagens atuais como D onald Trump e seu programa O Aprendiz, dão tom ainda mais descontraído a um espetáculo em que todo mundo parece muito à vontade, como deve ser.
Mesmo a orquestra está se divertindo, a imponente Filarmônica de Nova York que durante tantos anos foi dirigida pelo próprio Bernstein. E a regência é um capítulo à parte, a cargo da maestrina Marin Alsop, hoje envolvida em uma polêmica descabida. Formada na Juilliard, Marin venceu o concurso Koussevitzky em Tanglewood, onde foi aluna de Bernstein. Pouco depois, ganhou o concurso Stokowski.
Passou a reger como convidada orquestras como a de Filadélfia, Los Angeles. Tornou-se diretora, na Inglaterra, da Sinfônica de Bournemouth. E, com a Filarmônica de Londres, está gravando a integral sinfônica de Brahms para o selo Naxos.
Há alguns meses, foi escolhida para substituir Yuri Temirkanov à frente da Sinfônica de Baltimore, mas os músicos não gostaram da decisão da direção da orquestra e questionaram: uma mulher é capaz de dirigir uma sinfônica? A coisa chegou aos jornais e virou um debate sobre o papel dos músicos na tomada de decisões em uma orquestra, assim como da vida de maestrinas mundo afora. Faltou só alguém perguntar: é mesmo normal e natural um músico se colocar contra a idéia de ser liderado por uma mulher? Tempos estranhos...

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Anonymous Anônimo said.

estão falando bastante dessa montagem. eu não vi a anterior. espero q agora o municipal de são paulo engate e produz ou reapresente as óperas. ficamos muitos meses sem nenhuma ópera no municipal até pescadores. beijos, pedrita

15 setembro, 2005 08:29  

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