Viagem à Antártica - 2006 - II

Esta foto é dedicada a vocês dois, amigos, Paloma Dawn e Il Dissoluto Punito.
Meus caríssimos, vocês ocupam lugares muito importantes dentro de mim. O que seria do escritor sem seus leitores?
Obrigado pelas boas vindas e apenas peço o fôlego de mais alguns dias para recompor-me fisicamente. A vocês e a todos os demais turistas "ad-hoc", ir para a Antártica é um privilégio reservado a poucos, o que vi, longe de estar registrado em fotos e filmes, que não alcançam a beleza que se poderia imaginar, é a beleza rude, dura, de um continente que bravamente vem resistindo ao avanço dos homens. É um registro indelével, muito mais complexo que meras fotos ou filmes. Por mais que queiramos transmitir emoções mostrando esses registros gráficos, há que se viver a experiência, esta deixou marcas profundas.
Suas paisagens intocadas, uma vez já foram palco da cobiça dos homens. Quis, naquela ocasião, que o bom senso de homens mais sensatos prevalecesse, que o homem se tornasse coadjuvante, o aventureiro deu lugar ao cientista. Lá convivem em harmonia, ditada pela mãe Natureza, apenas os animais antárticos, a única lei em vigor é a lei da sobrevivência. O homem visita o continente como convidado, melhor, como auto-convidado. Vai lá para ver, extasiar-se, estudar, aprender. Aos poucos o dano causado à Natureza vai se recompondo.
Conversei com noviços e veteranos. Uma de suas missões é recuperar o que sobrou de incursões predatórias anteriores. Numa das bases que fui, faz parte do programa trazer de volta pedaços de ferro, madeira, concreto, lixo e outros despejos que nossos irmãos lá deixavam.
O quebra-gelo que embarquei, dessaliniza a água que consome, trata a água servida e traz de volta tudo o que levou, sem exceção, a não ser o óleo consumido. É uma lição que deveríamos utilizar em nosso mundo dito "civilizado".
Lá deixei o meu coração. A semente que lá brota é a da utopia de um continente sem fronteiras. É lá onde vi homens se abraçarem fraternalmente depois de longas temporadas de ausência. É lá que vi cooperação entre nações que há anos se degladiavam, quer em campos de batalha quer em fronteiras intelectuais.
O bom senso prevaleceu e a Natureza está ganhando. A Antártica agradece.
Oxalá que assim continue.
Jacques
2 comentários :
Caríssimo,
Quanta honra... Dedicar um post a dois bloggers, sendo eu um dos visados!!!
Fico a aguardar que se recomponha e escreeeeeeeeva muito sobre a sua viagem, entre outras coisas!
Um grande abraço,
João!
Caríssimo,
Quanta honra... aliás, nesse admirável mundo novo dos blogs, dos orkuts, dos msns, encontram-se pessoas assim. De coração bom, de olhos que vêem e ouvidos que ouvem!
São rarinhos, mas os iguais se atraem mais!!!
Então, caro Stev, digo, caro Jacques: aguardaremos a vontade das musas, esteja em casa.
Quem sabe um dia, Quijot, digo, Jacques, conseguiremos imitar o que há de bom no planeta.
"As armas e os barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando
Cantando espalharei por toda a parte
Se a tanto me ajudar o engenho e arte."
-- Luís de Camões,
Os Lusíadas (1572)
Canto I, 1--2
(copiado deslavadamente do google)
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