segunda-feira, dezembro 12, 2005

Les Troyens - Os Troianos - Berlioz


Espero que tenham gostado da Tosca.

Esta semana, uma ópera diferente. Distante do eixo dos "best-sellers", apesar disso Berlioz é um dos excelentes compositores de sua época.

Ouviremos Les Troyens, ópera que não tem a repercussão dos clássicos mas que musicalmente excede nossas espectativas. Distante do circuito "Elisabeth Arden", Roma, Paris, New York, é uma ópera que surpreende pela bela música que Berlioz nos brinda. Eu ousaria dizer que esta é uma das óperas que foi negligenciada pelos produtores dos teatros de ópera que preferem o sucesso fácil das obras que já foram testadas pelos grandes teatros.

Tenho certeza que esta ópera surpreenderá o mais exigente dos ouvintes que pensará consigo, como é que eu não havia notado esta ópera antes?...

Sem querer me arvorar àqueles que diriam, pois deveria ter ouvido antes, ouso dizer que é uma ópera muito linda, com melodias de fácil assimilação e de grande qualidade técnica e artística.

O anúncio da Radio Cultura FM de São Paulo é o seguinte:

TEATRO DE ÓPERA - O mundo da lírica em obras completas
BERLIOZ - Os Troianos. Solistas: Ben Heppner, Michelle DeYong, Petra Lang. Coro e Orquestra Sinfônica de Londres. Reg.: Sir Colin Davis.

Tenho certeza que gostarão.

Para ganharmos tempo, o fim do ano se aproxima, coloco abaixo uma breve biografia de Hector Berlioz, baseada numa resenha da New York Opera International Radio Broadcast Information Center.

Hector Berlioz (1803-1869)

Hector Berlioz nasceu em 1803 no vilarejo francês de La Côte-Saint–André. Ele foi educado em casa por seu pai, um médico, quem lhe deu uma excelente educação clássica, incluindo ensino do Latim e dos rudimentos da música. Berlioz aprendeu a tocar o violão e a flauta e muitas de suas primeiras peças foram escritas para esses intrumentos. Aos 12 anos, ele escreveu suas primeiras peças de câmara para músicos locais.

Em 1821, Berlioz foi à Paris para estudar medicina. Ele odiava a escola de medicina mas continuou estudando por dois anos infelizes, tempo no qual freqüentava religiosamente a ópera de Paris. Atraído pela idéia de escrever música de grande porte, ele começou a estudar composição com Le Sueur, um professor no conservatório parisiense. Não tardaria a que Berlioz abandonasse completamente a idéia da medicina, ingressando à todo vapor no conservatório e dedicando-se inteiramente à música.

Finalmente livre de distrações, Berlioz entrou num período extraordinário de produção musical. Ele compôs cantatas, trabalhou no desenvolvimento de óperas, sinfonias e canções, e descobriu novas influências poderosas. Os trabalhos de Beethoven e Weber mudaram completamente seus conceitos musicais e o influenciariam para o resto da vida. Ao ver uma apresentação de Romeo e Julieta, ele apaixonou-se por ambos Shakespeare e a atriz representando Julieta, Harriet Smithson. Berlioz seguiria admirando Shakespeare por toda sua vida; ele compôs três trabalhos musicais baseados em obras de Shakespeare. Sua instantânea e infrutífera paixão por Harriet Smithson iria durar e intensificar-se por dois anos. Mas ela não correspondeu a seus sentimentos — na verdade, ela não falava nenhum francês e Berlioz tampouco falava inglês. A eventual desilusão de Berlioz com Smithson gerou a inspiração para sua primeira grande obra musical, Symphonie Fantastique (1830), um sinfonia programática com uma trama romântica e orquestração revolucionárias. Foi um sucesso sensacional em Paris.

Em meio a tudo isso, Berlioz finalmente ganhou o Prix de Roma, o prêmio de composição mais prestigioso da França, que ele havia tentando ganhar quatro vezes antes. Infelizmente, o prêmio requeria a presença do compositor por dois anos na Itália. Berlioz, que havia acabado de ficar noivo (com Camille Mokel, uma pianista brilhante que ele conheceu depois de sua decepção com Harriet Smithson) e estava ganhando espaço em Paris, não queria sair do país. Seus dois anos na Itália foram no todo improdutivos e frustrantes. Por outro lado, o tempo na Itália ofereceu inspiração para trabalhos posteriores como Les Troyens e Harold en Italie.

No seu retorno à Paris, Berlioz, de quem a noiva o deixou por um milionário fabricante de pianos — restabeleceu contato com Harriet Smithson. Eles se apaixonaram e casaram-se em 1833. Depois, Berlioz escreveu um número de grandes obras (Harold en Italie, 1834, Grande messe des morts, 1837, Roméo et Juliette, 1838, e Grande Symphonie funèbre et triomphale, 1840, para citar algumas). Elas eram consideradas originais, mas seu gênio não tinha sido reconhecido plenamente pelo público. A renda de Berlioz proveniente de suas composições era tão miserável que ele tinha que trabalhar como crítico musical numa revista e como bibliotecário assistente no Conservatório. Consternado pela inabilidade da maioria das orquestras em tocar sua música corretamente, Berlioz também tornou-se regente. Ele foi responsável pelo treinamento de uma nova geração de instrumentistas na Europa para estarem aptos aos desafios técnicos que sua música e a música de outros compositores incomuns como Beethoven e Weber exigia.

Em Paris, um compositor não era considerado grandioso até que realizasse uma produção operística de sucesso. Berlioz, que idolatrava Gluck desde seus dias na escola de medicina, não queria nada mais do que tornar-se um grande compositor operático. Sua primeira ópera a ser executada, Benvenuto Cellini (estreada em 1838), era brilhante, porém compreendida por poucos. A produção foi um fracasso e a reputação de Berlioz dentro da França nunca foi a mesma. O insucesso de sua ópera talvez o tenha encorajado a escrever sinfonias e cantatas — e realizar diversas turnês em países onde sua música era apreciada. Foi numa de suas muito bem-recebidas turnês ao redor da Europa que Berlioz, que virtualmente havia terminado seu tempestuoso casamento com Harriet Smithson, conheceu a cantora Marie Recio. Ela seguiria sendo sua parceira para o resto de sua vida.

Berlioz começou a compor Les Troyens em 1856, adaptando, da Eneida, de Virgílio, o libreto. Ele nunca veria uma produção completa da obra em vida. Trechos da ópera foram muito bem recebidos na Alemanha, mas uma versão abreviada da ópera fracassou em Paris.

Depois do fracasso parisiense de Les Troyens, Berlioz começou a entrar num declínio lento. Ele compôs algumas peças novas — Béatrice et Bénédict, 1860, uma ópera baseada em Much Ado about Nothing (Muito Barulho por Nada), de Shakespeare, que foi um sucesso na Alemanha — e continuou a reger sua música esporadicamente. Mas os últimos anos de sua vida foram amargados pelas mortes de muitos amigos próximos e membros familiares — entre eles seu pai, Harriet Smithson, seu filho, e Marie Recio. Berlioz entrou em depressão. Ele parou de escrever críticas e quase não ia a um espetáculo musical, ao invés disso, concentrou-se em escrever suas Memórias. Ele morreu em 1869, com 66 anos de idade.

Jacques

:

Blogger Il Dissoluto Punito said.

Viva Jacques,

Os Troianos é uma magnífica ópera, grandiosa, sublime! Tenho a interpretação que recomenda, que é superlativa, com um grande Eneias!!!

Um grande abraço de Lisboa,
João

ps tudo bem consigo?
a Tosca de que falou é, só, a melhor de sempre, inultrapassável!!!

12 dezembro, 2005 22:06  
Blogger Asparagus the Firefrorefiddle, the Fiend of the Fell said.

Olá João!

Pois esta é a gravação que possuo da obra. Tenho grande carinho e apreço por ela. Apesar de ser a única gravação que conheço, até pela dificuldade em obter mais, acho-a de uma beleza sublime. Recordo-me bem do impacto da minha primeira escuta, sublime!
Meu texto apoia-se no que sinto, uma obra prima.

Um brinde a meu amigo lisboeta!

Jacques

12 dezembro, 2005 22:22  
Blogger Dalva M. Ferreira said.

A Tosca pareceu-me grandiosíssima, cheia de paixão. Entretanto, apesar da voz fabulosa da Maria Callas, ficou faltando o complemento da visão do espetáculo, para que se possa sentir todo o furor da interpretação da soprano. Não é uma ópera fácil, que se possa captar bem assim na primeira audição. Agora, a Berlioz!

13 dezembro, 2005 01:40  
Blogger DJ X-2099 said.

Conheço esta ópera desde 1996, quando um trecho, chamado Chanson D'Hylas foi tocada brevemente no filme: Jornada nas Estrelas: Primeiro Contato (Star Trek: First Contact). Desde esse período, percebi a grandiosidade da ópera Les Troyens, tendo ouvido a obra completa anos depois e para mim é a melhor ópera de todos os tempos, seguida por Aida de Verdi e Carmina Burana de Orff. Uma obra prima, que todos devem ter acesso e emocionar com esse espetáculo sonoro, ainda mais regido por Sir Colin Davis.

06 agosto, 2010 14:07  

Postar um comentário

<< Home