Fausto - para aguçar ainda mais um pouquinho da curiosidade...

Faust já foi encenada em mais de cinquenta países e traduzida para vinte e cinco línguas.
Desde o princípio, guardados todos os percalços anteriormente citados, a ópera tem se mostrado um sucesso. Chegou a ser tão popular, que na Inglaterra um crítico se queixou em 1863 - "Faust, Faust, Faust, nada mais a não ser Faust. Faust no sábado, na quarta-feira, na quinta-feira, repetida hoje e todas as noites, até novas informações".
A mania por Faust guiou a publicação de diversas versões, edições da ópera na versão integral, edições para elenco reduzido, dezenas de versões para piano, arranjos vocais, fantasias musicais e melódicas, compilações, tudo isso para satisfazer o público francês, alemão e inglês. A popularidade da obra há tempos superou em longevidade o seu autor, Gounod.
Já em 1934 a ópera havia sido representada em Paris mais de duas mil vêzes e ainda se mantém entre as primeiras, estando entre as quatro mais populares até esta data.
Baseia-se na peça Faust et Marguérite, de Michel Carré. co-autor do libreto com Jules Barbier, a quem já nos referimos anteriormente.
Já explicamos em outro artigo que Gounod não tem o mesmo objetivo de Goethe ao musicar sua obra, portanto não voltaremos ao assunto. Gounod apenas se ocupou da música de Faust e o fez muito bem.
Como é de se supor, Méphistophélès, o Diabo, tem a parte mais poderosa da parte musical. Enquanto isso Faust tem um papel suave, doce e lírico (essa qualidade fica aparente na ária "Salut , demeure et chaste et pure"), emocional e romântico (notadamente em seus duetos com Marguérite). Méphistophélés é no entanto o mais "humano", vibrante, sensual e com um apelo cínico, vistoso e cheio de garbo em sua ária "Le Veau d'Or", no terceiro ato.
A disparidade entre os amantes, Faust e Marguérite, e quem leva ambos a se encontarem, Méphistophélès, fica clara nas primeiras palavras de cada um deles. A primeira coisa que Faust diz é "Nada", a primeira palavra de Marguérite é "Não", já Méphistophélès pronuncia "Aqui estou!". Marguérite, do trio a mais fraca fisicamente, é a visão de um objeto da cobiça, enraizada na alma masculina com pouco ou nenhum escrúpulo, e encarna um Cristianismo a um tempo doentio e incensada. Gounod explora essa faceta na famosa ária "Caixa de Jóias", conseguindo um efeito surpreendente.
Como seus contemporâneos, Gounod tem dificuldades a resistir a um rompante sentimental, Marguérite, em seu último ato clama pela Divina proteção, "Anges purs! Anges radieux", muito difícil de aceitar racionalmente mas que surte o efeito teatral desejado.
Mas, no global, as melodias são muito bem encadeadas, tanto pela musicalidade quanto pela qualidade intrínseca destas, a ponto de ser difícil distrair-se. É um crescendo que enche os olhos, os ouvidos e a alma de nós, ouvintes que viemos ansiando por tudo isso e que assistimos a uma tal quantidade de nuances, músicas, melodias, árias e situações que esquecemos de tudo para beber dessa fonte de boa música.
No meio dessa seqüência de solos, conjuntos, duetos, balés (A Grande Valsa), ainda reconheceremos o grande coro "Coro dos Soldados", muito popular.
Gounod dá a cada cena uma sintonia muito particular que perdura, mesmo depois de terminada. A melodia vai mexer com nossos sentidos por um longo tempo, mesmo após o final da ópera.
Ele se utiliza não de um truque mas de uma mágica, ele vai sutilmente aumentando a melodia até a explosão dessa musicalidade, principalmente nas passagens românticas, até o climax final que nos envolve e nos emociona culminando com a última ária (de amor) "Qui c'est toi que je t'aime"...
Mas é no equilíbrio de toda ópera que se define a qualidade do trabalho de Gounod e que faz de Faust uma das óperas mais populares. Gounod era um sentimental e sabia exatamente o que estava fazendo.
Com todas essas informações sobre esta obra magna de Gounod, espero que tenham tido informações suficientes para melhor aproveitar a audição de Faust que irá ao ar no próximo domingo, às 15 horas, pela Radio Cultura FM de São Paulo e a Radio Mec do Rio de Janeiro.
Artigo baseado no Opera, The Rough Guide e outras leituras.
Boa audição!
Jacques
Um comentário :
Que "0 comments" que nada... posso até não comentar, mas deixo o meu sinal de vida! Ah: é Faust, Faust e mais Faust...Deu no jornal que a nova temporada da Osesp - Orquestra Sinfônica do Estado - traz Fausto e clássico de Bach. E que a última apresentação da ópera baseada em obra de Goethe em SP foi em 1950; desta vez terá o tenor Li Vigne.
Onde: Sala São Paulo (Praça Júlio Prestes, s/nr - SP - tel 0xx11-3337-5414)
Quando: "Fausto": dias 12 e 16 às 20h e dia 14 às 16h30
Quanto: R$25 a R$79
Falei.
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