quinta-feira, maio 05, 2005

Sete dias, quatro óperas, dezoito horas de música

Anel estréia sábado em Manaus em leitura que busca respeitar intenções de Richard Wagner

João Luiz Sampaio (Caderno 2 d'O Estado de São Paulo, hoje, 05 de Maio de 2005)

" Em 1876, Richard Wagner entrou em definitivo para a história da arte, revolucionando o gênero operístico ao estrear sua tetralogia O Anel do Nibelungo em um teatro construído especialmente para ela em Bayreuth, no interior da Alemanha. Quase 140 anos depois, às margens do Rio Negro, na Amazônia, o Anel volta a fazer história: ganha a partir de sábado a sua primeira montagem feita por uma companhia brasileira, no Festival Amazonas de Ópera. Sete dias, quatro óperas, dezoito horas de música. Mais números? Vinte cantores solistas revezando-se em 36 papéis. Parece coisa de doido. E é mesmo.

O projeto do Anel de Manaus começou em 2002, com A Valquíria. Aqui, cabe uma explicação. O Anel é composto de quatro partes: um prólogo - O Ouro do Reno - e três óperas - A Valquíria, Siegfried e O Crepúsculo dos Deuses. Posto isso, de volta a 2002. A idéia surgiu do maestro Luiz Fernando Malheiro, diretor de Festival Amazonas. Era um sonho antigo, que compartilhou com o diretor inglês Aidan Lang. Os dois já haviam trabalhado juntos em Manaus com uma interessante Manon, de Massenet. Seria o primeiro Anel dos dois. "E por que não?", pensaram. Começaram a conversar a respeito e o que, a princípio, era um sonho distante acabou virando realidade. Em 2003, foi a vez de Siegfried; e, no ano passado, de O Crepúsculo dos Deuses. Agora, estréia O Ouro do Reno e repete-se as demais. Serão dois ciclos, um de sábado ao dia 12 e o outro do dia 14 ao dia 19.

Afinal, por que o Anel é tão importante? Há várias explicações. No campo da ópera, Wagner foi grande porque propôs uma nova e impactante linguagem dramática, a perfeita conexão entre texto e música - e o Anel é símbolo disso. Fora do campo da música, há o componente filosófico. Bebendo na mitologia germânica, Wagner fala de deuses, mortais, paixões, corrupção, e propõe, nas palavras da professora Maria Helena Furtado, "que o destino é uma força inevitável ao qual o homem tem que se render, por mais sábio que seja, buscando a redenção como verdadeira transformação através do auto-sacrifício de valores e da busca pela inocência perdida". Mas, o fascinante mesmo, é que música e filosofia se transformam em uma coisa só: as intenções intelectuais de Wagner levam à criação de uma nova linguagem musical capaz de reproduzi-las.

Isso, claro, leva a uma série de dificuldades de interpretação. Wagner faz uso dos leitmotifs, temas musicais que caracterizam situações e/ou personagens e vão reaparecendo ao longo de todo o Anel, ajudando a narrar ou mesmo comentando a trama. E isso exige um apurado senso de conjunto por parte do regente - as quatro partes do ciclo não estão isoladas, possuem uma continuidade musical à qual é preciso estar atento. Para o diretor cênico, outros desafios. Antes de mais nada, é preciso conhecer bem a partitura e estar atento à importância que a música, o acompanhamento orquestral, tem no espetáculo. Mas estamos falando de muitos personagens, muitas histórias que se misturam e podem levar a interpretações das mais diversas - só como exemplo, o deus Wotan, em montagens recentes, já foi caracterizado tanto como o presidente americano como um segurança de uma loja de departamentos.

A postura da dupla Malheiro/Lang perante esses desafios tem sido, segundo eles, respeitosa. Malheiro insiste que, ao se enfrentar pela primeira vez esta partitura, é preciso ter humildade o suficiente para não querer "revolucionar de modo autoral a interpretação", procurando antes se ater à partitura e às "revoluções" que ela já carrega. Para Lang, da mesma forma, o ideal não é buscar "fora da partitura" elementos para compor sua concepção. "O importante é sugerir, por meio dos próprios elementos cênicos e musicais propostos por Wagner, as múltiplas possibilidades de interpretação do drama", diz Lang.

O elenco dos anos anteriores, essencialmente brasileiro, foi quase todo mantido, com apenas algumas trocas. E essa é uma das marcas desta produção. Antes dela, o Anel foi feito inteiro apenas no Rio, nos anos 20, por uma companhia estrangeira que parou aqui a caminho de Buenos Aires."



Diga se não é para morrer de inveja?

Jacques

2 comentários :

Blogger Dalva M. Ferreira said.

Pois é...e mais: pesquisando sobre o teatro Amazonas, achei o programa do mês de maio...
Dias 14, 15, 17 e 19/05
"DER RING DES NIBELUNGEN" (O Anel do Nibelungo)

Dia 14 - "Das Rheingold" (O Ouro do Reno)
Dia 15 - "Die Walküre" (A Valquíria)
Dia 17 - "Siegfried"
Dia 19 - "Götterddämrung" (O Crepúsculo dos Deuses)

Local: Teatro Amazonas
Entrada: de R$ 10,00 a R$ 50,00

Dia 26/05
"CARMINA BURANA"
Local: Arena Memorial dos Povos da Amazônia
Entrada: Gratuito

Dia 28/05
"IL BARBIERE DI SIVIGLIA"
Local: Teatro Amazonas
Entrada: de R$ 10,00 a R$ 50,00

Dia 31/05
"IL BARBIERE DI SIVIGLIA" (reapresentação)
Local: Teatro Amazonas
Entrada: de R$ 5,00 a R$ 40,00


.....o avião sai de Congonhas, direto para lá. Dá para ir na sexta-feira, dia 13 (para quem não tiver medo da sexta-feira 13!!!) e voltar na outra sexta, dia 20. Isso se não resolver ficar para ver Carmina Burana, O Barbeiro de Sevilha... Quem sabe? Afinal, sonhar é preciso!

http://www.manausonline.com/

05 maio, 2005 20:28  
Blogger Dalva M. Ferreira said.

Deu na Folha:

Aquelas pessoas que tiram férias, que viajam para assistir Wagner, são chamadas, pela mídia americana, de "loucos por Wagner". Em Manaus, segundo a bilheteria do teatro, "são, no mínimo, 38 americanos, 32 holandeses, 30 ingleses, 17 australianos, 15 alemães, cinco argentinos, três austríacos e até dois sul-africanos. Eles são minoria no teatro de 900 lugares."

Tal seria...

10 maio, 2005 11:08  

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